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O GRITO DE ZELENSKYY

 Não é apenas para fazer um registo para memória futura que hoje transcrevo na integra o discurso de Zelenskyy aos ucranianos, no dia a seguir à inesperada divulgação por todos os media do "plano de paz" proposto por Trump.
Ontem, depois de escrever o que se me ofereceu sobre esse "plano", que não de paz mas um vergonhoso rascunho de intenções de negócios, nada mais, deixei registados os 28 pontos, esses sim, para memória futura, um testemunho sobre a vil natureza de Trump nas suas próprias palavas. 

O discurso que Zelenskyy fez hoje é a resposta possível mas é muito, muito mais do que isso.

Zelenskyy é, neste momento, uma fera acossada. Sabe que lhe estendem armadilhas sob os pés, no chão que pisa ao longo do caminho que tem forçosamente de percorrer 

Os seus colaboradores estão sob uma teia de tentações que se vão tornando mais reluzentes à medida que a guerra se estende no tempo, no cansaço, na perda humana. O seu povo está sujeito à manipulação diária de sentimentos, das prolongadas dificuldades, do medo de que o "dia seguinte" não amanheça para cada um deles, para os seus filhos. E os bombardeamentos não são só feitos de aterradoras explosões, também são lançadas quotidianamente cargas de desinformação para matarem a esperança, a coragem, a resistência; são fabricadas para criar divisão, semear perspectivas de um "novo líder salvador" que anuncie finalmente a paz, de um dia para o outro. A Rússia aposta neste número desde os 3 primeiros dias em que não conseguiu depor Zelenskyy

Zelenskyy sabe que não está só, que tem mãos fortes sobre os ombros a cada momento mas não é a solidão que lhe dói, é a traição, a ausência de valores, os interesses mesquinhos e egóticos, a injustiça tenebrosa









Este discurso de Zelenskyy é a intencional e mais sincera exposição do seu estado de espírito, uma radiografia à situação em que está a ser colocado, pela Rússia E pelos Estados Unidos, é um alerta e um apelo ao povo ucraniano, um abafado grito de revolta perante a mais ignóbil injustiça.



«Precisamos de unidade mais do que nunca, para que possa haver uma paz digna na nossa pátria »

Discurso do Presidente

21 de Novembro de 2025 - 16:50


Ucranianos!

Há um momento na vida de cada nação em que todos precisam de falar sobre as coisas. Honestamente. Com calma. Sem especulações, rumores, mexericos, sem nada de mais. Exactamente como as coisas são. Tal como sempre tentei falar convosco.

Este é um dos momentos mais difíceis da nossa história. Neste momento, a Ucrânia está sob uma das pressões mais fortes de sempre. Neste momento, a Ucrânia pode encontrar-se perante uma escolha muito difícil. Ou a perda da nossa dignidade ou o risco de perder um parceiro fundamental. Ou os difíceis 28 pontos, ou um inverno extremamente duro - o mais duro de sempre - e os perigos que se lhe seguem. Uma vida sem liberdade, sem dignidade, sem justiça. E que confiemos em alguém que já nos atacou duas vezes.

Eles esperam uma resposta da nossa parte. Mas a verdade é que eu já dei essa resposta. Em 20 de Maio de 2019, quando prestei juramento de lealdade à Ucrânia, disse nomeadamente: «Eu, Volodymyr Zelenskyy, eleito pela vontade do povo como Presidente da Ucrânia, comprometo-me com todas as minhas acções a defender a soberania e a independência da Ucrânia, a defender os direitos e as liberdades dos seus cidadãos, a respeitar a Constituição e as leis da Ucrânia, a cumprir os meus deveres no interesse de todos os meus compatriotas e a reforçar a posição da Ucrânia no mundo.» Para mim, não se trata de uma formalidade protocolar a assinalar - é um juramento. E, todos os dias, me mantenho fiel a cada uma das suas palavras. E nunca o trairei. O interesse nacional da Ucrânia deve ser respeitado.

Não estamos a fazer declarações em voz alta. Trabalharemos calmamente com os Estados Unidos e com todos os nossos parceiros. Procuraremos encontrar soluções de forma construtiva com o nosso principal parceiro.

Exporei os argumentos. Irei persuadir. Oferecerei alternativas. Mas uma coisa é certa: não daremos ao inimigo razões para afirmar que a Ucrânia não quer a paz, que está a sabotar o processo e que é a Ucrânia que não está preparada para a diplomacia. Isso não acontecerá.

A Ucrânia vai trabalhar rapidamente. Hoje, no sábado e no domingo, durante toda a próxima semana e durante o tempo que for necessário - 24 horas por dia, 7 dias por semana - lutarei para garantir que, de entre todos os pontos do plano, pelo menos dois não sejam esquecidos: a dignidade e a liberdade dos ucranianos. Porque tudo o resto assenta nisto - a nossa soberania, a nossa independência, a nossa terra, o nosso povo. E o futuro da Ucrânia.

Tudo faremos - e devemos fazer - para que, como resultado, a guerra termine, mas que não termine a Ucrânia, que não termine a Europa nem a paz mundial.

Acabei de falar com europeus. Contamos com os nossos amigos europeus que compreendem perfeitamente que a Rússia não está algures longe - está mesmo ao lado das fronteiras da UE, que a Ucrânia é hoje o único escudo que separa a vida europeia confortável dos planos de Putin. Recordamos: A Europa esteve connosco. Acreditamos: A Europa estará connosco.

A Ucrânia não pode viver um déjà vu do dia 24 de Fevereiro, quando nos sentimos sozinhos, quando ninguém podia deter a Rússia, excepto o nosso povo heroico que se ergueu como uma muralha contra o exército de Putin.

E, claro, foi bom ouvir o mundo dizer: "Os ucranianos são incríveis; meu Deus, como eles, os ucranianos, lutam; como os ucranianos se aguentam; que titãs eles são». E é verdade, sem dúvida. Mas a Europa e o mundo inteiro também têm de compreender outra verdade: os ucranianos são, antes de mais, seres humanos. E durante quase quatro anos de invasão em grande escala, temos estado a conter um dos maiores exércitos da Terra. E temos mantido uma linha da frente que se estende por milhares de quilómetros. E o nosso povo suporta bombardeamentos nocturnos, ataques com mísseis, ataques com mísseis balísticos e ataques “shahed”. E todos os dias, o nosso povo perde os seus entes queridos. O nosso povo quer desesperadamente que esta guerra acabe. Sim, somos feitos de aço mas qualquer metal, mesmo o mais forte, pode ceder.

Lembrem-se disto. Fiquem com a Ucrânia. Fiquem com o nosso povo - e isso significa ficar com dignidade e liberdade.

Caros ucranianos!

Recordem o primeiro dia da guerra. A maioria de nós fez a sua escolha, a escolha pela Ucrânia. Recordem os nossos sentimentos nessa altura. Como é que foi? Escuro, barulhento, pesado, doloroso. Para muitos aterrador. Mas o inimigo não viu as nossas costas a fugir. Viu os nossos olhos - cheios de determinação para lutar pelo que é nosso. Isso é dignidade. É a liberdade. E esta é verdadeiramente a coisa mais aterradora para a Rússia: ver a unidade dos ucranianos.

Nessa altura, a nossa unidade centrava-se na defesa do nosso país contra o inimigo.

Agora, mais do que nunca, precisamos de unidade, para que possa haver uma paz digna no nosso país.

Dirijo-me agora a todos os ucranianos. O nosso povo, os cidadãos, os políticos - toda a gente. Temos de nos recompor. Recuperar o bom senso. Parar com disputas. Parem com os jogos políticos. O Estado tem de funcionar. O parlamento de um país em guerra tem de trabalhar em unidade. O governo de um país em guerra tem de trabalhar eficazmente. E todos juntos não devemos esquecer - e não devemos confundir - quem é exactamente o inimigo da Ucrânia hoje.

Lembro-me de como, no primeiro dia da guerra, vários “mensageiros” me trouxeram diferentes planos, pontos; havia ultimatos para acabar com a guerra. Diziam: ou é assim, ou não é. Ou assinas, ou não assinas. Ou assinas o acordo ou serás simplesmente eliminado e um “Presidente interino da Ucrânia” assiná-lo-á em teu lugar.

Todos sabemos como é que isso acabou. Muitos desses “mensageiros” tornaram-se mais tarde parte do nosso fundo de intercâmbio e foram enviados, juntamente com as suas propostas e pontos, de volta ao seu “porto de origem”.

Nessa altura não traí a Ucrânia. Senti verdadeiramente o vosso apoio por trás de mim - de cada um de vós. De cada ucraniano, de cada soldado, de cada voluntário, de cada médico, diplomata, jornalista, de toda a nossa nação.

Não traímos a Ucrânia nessa altura, não a trairemos agora. E sei com certeza que, neste que é verdadeiramente um dos momentos mais difíceis da nossa história, não estou sozinho. Sei que os ucranianos acreditam no seu Estado, que estamos unidos. E em qualquer formato futuro de reuniões, discussões, negociações com parceiros, ser-me-á muito mais fácil assegurar uma paz digna para nós e persuadi-los, sabendo com absoluta certeza: o povo da Ucrânia apoia-me. Milhões do nosso povo, pessoas dignas, pessoas que lutam pela liberdade e que conquistaram a paz.

Todos os nossos heróis caídos, que deram a vida pela Ucrânia, que estão agora no céu e merecem ver lá de cima que os seus filhos e netos viverão numa paz digna. E essa paz há-de chegar. Digna, efectiva e duradoura.

Caros ucranianos!

A próxima semana será muito difícil, cheia de acontecimentos.

Sois uma nação madura, sábia e consciente, que já o provou muitas vezes. E compreendem que, desta vez, haverá uma enorme pressão - pressão política, informativa, de todos os tipos. Concebida para nos enfraquecer. Para criar uma cunha entre nós. O inimigo nunca dorme - e fará tudo para nos fazer falhar.

Vamos deixá-lo fazer isso? Não temos o direito de o fazer. E não o faremos. Porque aqueles que procuram destruir-nos não nos conhecem bem, não compreendem quem somos verdadeiramente, o que somos, o que defendemos, que tipo de pessoas somos. Há uma razão para assinalarmos o Dia da Dignidade e da Liberdade como feriado nacional. Mostra quem somos. Mostra os nossos valores.

Trabalharemos na arena diplomática em prol da nossa paz. Devemos actuar em unidade dentro do país em prol da nossa paz, pela nossa dignidade, pela nossa liberdade. E eu acredito - e sei - que não estou sozinho. Comigo está a nossa nação, a nossa sociedade, os nossos guerreiros, os nossos parceiros, os nossos aliados, todo o nosso povo. Digno. Livres. Unidos.

Feliz Dia da Dignidade e da Liberdade.

Glória à Ucrânia!

Fonte:  Official website of the President of Ukraine


UMA ABERRAÇÃO EM 28 LANCES


O novo «plano de paz» para a Ucrânia proposto pelos Estados Unidos parece que foi ditado directamente por Putin. Parece? Nem sei se parece...

Os Estados Unidos e a Rússia sentaram-se à mesa (ou debaixo da mesa?) e em comprometido secretismo esboçaram o futuro da Ucrânia — sem a Ucrânia, sem a Europa — um «plano de paz» com 28 pontos. Este documento, que não deveria vir à luz do dia antes de ser aceite pela Ucrânia,  não é um plano de paz, é uma negociação de reféns escrita pelo sequestrador.

O projecto prevê a criação de um «grupo de trabalho EUA-Rússia sobre questões de segurança, estabelecido para promover e garantir o cumprimento de todas as disposições deste acordo».

Esta aberração foi redigida por altos funcionários dos EUA "com a contribuição da Rússia" e aprovada por Donald Trump. Parece a lista de desejos do Kremlin na Amazon embrulhada numa bandeira americana com um laçarote de veludo dourado

Se existisse a menor sombra de dúvida de que esta coisa saiu de cabecinhas russas bastaria a inclusão do ponto «All Nazi ideology and activities must be rejected and prohibited.» (Toda a ideologia e atividades nazis devem ser rejeitadas e proibidas.) para esclarecer sobre o ADN da paternidade da coisa que Trump pariu.

A contribuição da Ucrânia? A contribuição da Europa? Só servem para complicar; os ucranianos são mais do que suspeitos, só sabem fazer exigências e as propostas europeias só têm em conta as prioridades dos ucranianos, que são "inaceitáveis". Ucrânia e Europa, e mais seja quem for, não sabem resolver nada, já resolvemos tudo, está lá escrito no ponto 2 o que decidimos: «Um acordo abrangente de não agressão será concluído entre a Rússia, a Ucrânia e a Europa.». Pronto.

O plano abre com uma fachada diplomática educadinha — “A soberania da Ucrânia será confirmada” — antes de imediatamente dividir a soberania da Ucrânia como se trichasse um peru à  mesa de Natal. Entrega à Rússia a Crimeia, a totalidade do Donbass - Donetsk e Luhansk - incluindo as zonas não ocupadas. Oferecido sem contrapartidas  numa bandeja trabalhadíssima e congela mais duas regiões, Kherson e Zaporizhzhia, como se fossem sobras. Estes territórios serão reconhecidos internacionalmente como pertencentes à Federação Russa, que renunciará a outros territórios que controla fora das cinco regiões.(podes ficar com os amendoins)

A Ucrânia não só perde (perderia) território como é (seria) obrigada a alterar a sua Constituição para prometer que nunca se juntará à NATO.  

A NATO, ou os países que a integram, não estacionarão tropas na Ucrânia.
A NATO tem (teria) de alterar os seus próprios princípios fundadores para fechar a porta para sempre à Ucrânia ou qualquer outro alargamento.
Curiosamente nenhum dos países aliados da NATO foi informado pelos EUA destas propostas, assim como a comunidade diplomática europeia foi mantida em total ignorância.  Não será de estranhar, o Congresso e os seus diversos comités de política internacional e de segurança,  e mesmo o ministério dos Negócios Estrangeiros - State Department - foram mantidos à margem desta preciosidade. Rubio só soube quando o documento "transpirou"; lá se aguentou como pode, publicou um tweet no X, é um rapaz obediente e discreto
Mas tudo está assegurado, Trump pensa em tudo. «Será realizado um diálogo entre a Rússia e a NATO, com mediação dos Estados Unidos, para resolver todas as questões de segurança.»

Face a isto<< é espectável que a Rússia não vá invadir mais países vizinhos>>. «É Espectável» que eles se comportem. Espera-se! Como se Putin fosse uma criança pequena de quem «se espera» que não volte a fazer maldades ao gato. Não, não estou a exagerar, é mesmo assim que está escrito: 

  «It is expected that Russia will not invade neighboring countries and NATO will not expand further.»

Enquanto isso, as forças armadas ucranianas — actualmente a lutar pela sobrevivência do seu país e, em honesta análise, pela paz na Europa — ficam (ficariam) limitadas a 600.000 soldados, porque nada garante “paz” como forçar a nação invadida a desarmar-se enquanto o invasor mantém as chaves de três províncias ilegamente invedidas e roubadas e se "espera" que (pela primeira vez) mantenha a sua palavra.  

Mas não há motivo para preocupações,  os EUA darão à Ucrânia “garantias de segurança”  — não especificadas no documento mas estabelecido que os EUA receberão uma "compensação" pela garantia de segurança — desde que Kyiv prometa não invadir a Rússia ou lançar mísseis contra Moscovo “sem motivo”. Sim, a Ucrânia é advertida para não atacar o país que a invadiu, senão acabam-se as "garantias de segurança"

Em troca de engolir tudo isto, a Ucrânia recebe a promessa de US$ 200 bilhões em dinheiro para reconstrução , 100 dos EUA  e 100 da Europa — metade dos quais, ou seja  a totalidade do que os EUA investem, representam lucros para os EUA, literalmente: os Estados Unidos ficam com 50% dos lucros da reconstrução das cidades que Putin bombardeou até ficarem em ruínas. É como um esquema de seguro, um incendeia, o outro recebe a indemnização e dividem os ganhos entre si. (Mal posso esperar para ver a Trump Tower- Kyiv Kiev)

Os activos russos congelados? Parcialmente devolvidos mas através de um fundo de investimento EUA-Rússia. Claríssimo. 

Cito o inacreditável directamente do documento porque estou longe de conseguir formar uma frase coerente sobre o assunto:

«O restante dos fundos russos congelados será investido num veículo de investimento separado, entre os EUA e a Rússia, que implementará projectos conjuntos em áreas específicas. Este fundo terá como objetivo fortalecer as relações e aumentar os interesses comuns,  a fim de criar um forte incentivo para não retornar ao conflito.»

A cereja no topo do bolo? A Rússia recebe amnistia total. Todos. Todos os criminosos de guerra. Todos os torturadores. Todos os sequestradores. Todos, a começar pelo mandante no Kremlin. Tudo perdoado, tudo protegido, tudo bem-vindo de volta à economia global, <<os EUA e a Rússia concordam em estabelecer uma parceria de longo prazo em áreas da energia, recursos naturais, infraestruturas, inteligência artificial, centros de dados, projectos de extração de metais de terras raras no Ártico e outras oportunidades corporativas mutuamente benéficas.>>

 As sanções serão levantadas (Quais? A Europa  e restantes apoiantes da Ucrânia não foram consultados nem chamados a opinar) e a Rússia recebe um bilhete de regresso ao G8 como se nada tivesse acontecido.

É um plano de paz escrito com a elevação moral de quem o propõe 

• A central nuclear de Zaporizhzhia? Dividida 50/50 na energia produzida

• Políticas educativas:
- A Ucrânia deve ensinar «tolerância» às suas crianças, porque aparentemente o país invadido terá um problema de empatia com os russos.

• Prisioneiros e reféns regressarão, incluindo as crianças. "As crianças" mas em ponto algum se especifica que a "inclusão" se refere às crianças ucranianas raptadas e sequentemente desaparecidas nos confins da Rússia,  que estão a ser "formatadas" na pedagógica cultura bolchevique. Regressarão? (se as encontrarem)

• A Ucrânia deve realizar eleições — em 100 dias — enquanto luta uma guerra, acolhe famílias deslocadas e entrega território. O que poderá correr mal?

• E no final deste circo geopolítico Donald J. Trump preside ao «Conselho de Paz».

Sim, o homem que não consegue mediar a discussão de um cessar-fogo com Putin é encarregado de fazer cumprir um acordo de paz continental entre Estados

Isto não é um plano de paz nem é sequer uma rendição, é uma liquidação total em que a Ucrânia paga a conta, a Rússia fica com a mercadoria, os EUA, e Trump pessoalmente, ganham nisso uma parceria lucrativa. 

Só uma tentativa diplomática verdadeiramente perturbada, inconsciente e amoral poderia delinear uma proposta com a Rússia recompensada, a Ucrânia desarmada, a Europa confrontada, as empresas americanas a lucrar, os crimes de guerra apagados, a Rússia de regresso à normalidade da aceitação internacional e Donald Trump sentado num trono dourado com a inscrição «O Pacificador» a usufruir da reconstrução do que não quis defender. 

Este é o plano, perfeitamente aceitável, escrito por "não se sabe quem" e assinado por Trump.

A única coisa que me dá algum consolo, não o suficiente, é saber que estes dois vão morrer e terão mortes difíceis, mas já virão tarde

Tenho a noção de que muito do que acima escrevi poderá ser pouco credível, exagerado, quase infantil, mas não fui eu que inventei. Deixo abaixo a totalidade dos 28 pontos sem comentários, juízos ou apreciações. Que falem por si


Trump's full Ukraine-Russia peace plan

1.- Ukraine's sovereignty will be confirmed.

2.- A comprehensive non-aggression agreement will be concluded between Russia, Ukraine and Europe. All ambiguities of the last 30 years will be considered settled.

3.- It is expected that Russia will not invade neighboring countries and NATO will not expand further.

4.- A dialogue will be held between Russia and NATO, mediated by the United States, to resolve all security issues and create conditions for de-escalation in order to ensure global security and increase opportunities for cooperation and future economic development.

5.- Ukraine will receive reliable security guarantees.

6.- The size of the Ukrainian Armed Forces will be limited to 600,000 personnel.

7.- Ukraine agrees to enshrine in its constitution that it will not join NATO, and NATO agrees to include in its statutes a provision that Ukraine will not be admitted in the future.

8.- NATO agrees not to station troops in Ukraine.

9.- European fighter jets will be stationed in Poland.

10.- The U.S. guarantee:

The U.S. will receive compensation for the guarantee;

If Ukraine invades Russia, it will lose the guarantee;

If Russia invades Ukraine, in addition to a decisive coordinated military response, all global sanctions will be reinstated, recognition of the new territory and all other benefits of this deal will be revoked;

If Ukraine launches a missile at Moscow or St. Petersburg without cause, the security guarantee will be deemed invalid.

11.- Ukraine is eligible for EU membership and will receive short-term preferential access to the European market while this issue is being considered.

12.- A powerful global package of measures to rebuild Ukraine, including but not limited to:

The creation of a Ukraine Development Fund to invest in fast-growing industries, including technology, data centers, and artificial intelligence.

The United States will cooperate with Ukraine to jointly rebuild, develop, modernize, and operate Ukraine's gas infrastructure, including pipelines and storage facilities.

Joint efforts to rehabilitate war-affected areas for the restoration, reconstruction and modernization of cities and residential areas.

Infrastructure development.

Extraction of minerals and natural resources.

The World Bank will develop a special financing package to accelerate these efforts.

13.- Russia will be reintegrated into the global economy:

The lifting of sanctions will be discussed and agreed upon in stages and on a case-by-case basis.

The United States will enter into a long-term economic cooperation agreement for mutual development in the areas of energy, natural resources, infrastructure, artificial intelligence, data centers, rare earth metal extraction projects in the Arctic, and other mutually beneficial corporate opportunities.

Russia will be invited to rejoin the G8.

14.- Frozen funds will be used as follows:

$100 billion in frozen Russian assets will be invested in US-led efforts to rebuild and invest in Ukraine;

The US will receive 50% of the profits from this venture. Europe will add $100 billion to increase the amount of investment available for Ukraine's reconstruction. Frozen European funds will be unfrozen. The remainder of the frozen Russian funds will be invested in a separate US-Russian investment vehicle that will implement joint projects in specific areas. This fund will be aimed at strengthening relations and increasing common interests to create a strong incentive not to return to conflict.

15.- A joint American-Russian working group on security issues will be established to promote and ensure compliance with all provisions of this agreement.

16.- Russia will enshrine in law its policy of non-aggression towards Europe and Ukraine.

17.- The United States and Russia will agree to extend the validity of treaties on the non-proliferation and control of nuclear weapons, including the START I Treaty.

18. Ukraine agrees to be a non-nuclear state in accordance with the Treaty on the Non-Proliferation of Nuclear Weapons.

19.- The Zaporizhzhia Nuclear Power Plant will be launched under the supervision of the IAEA, and the electricity produced will be distributed equally between Russia and Ukraine — 50:50.

20.- Both countries undertake to implement educational programs in schools and society aimed at promoting understanding and tolerance of different cultures and eliminating racism and prejudice:

Ukraine will adopt EU rules on religious tolerance and the protection of linguistic minorities.

Both countries will agree to abolish all discriminatory measures and guarantee the rights of Ukrainian and Russian media and education. (Note: Similar ideas were incorporated into Trump's 2020 Israel-Palestine peace plan).

All Nazi ideology and activities must be rejected and prohibited.

21.- Territories:

Crimea, Luhansk and Donetsk will be recognized as de facto Russian, including by the United States.

Kherson and Zaporizhzhia will be frozen along the line of contact, which will mean de facto recognition along the line of contact.

Russia will relinquish other agreed territories it controls outside the five regions.

Ukrainian forces will withdraw from the part of Donetsk Oblast that they currently control, and this withdrawal zone will be considered a neutral demilitarized buffer zone, internationally recognized as territory belonging to the Russian Federation. Russian forces will not enter this demilitarized zone.

22.- After agreeing on future territorial arrangements, both the Russian Federation and Ukraine undertake not to change these arrangements by force. Any security guarantees will not apply in the event of a breach of this commitment.

23.- Russia will not prevent Ukraine from using the Dnieper River for commercial activities, and agreements will be reached on the free transport of grain across the Black Sea.

24.- A humanitarian committee will be established to resolve outstanding issues:

All remaining prisoners and bodies will be exchanged on an 'all for all' basis.

All civilian detainees and hostages will be returned, including children.

A family reunification program will be implemented.

Measures will be taken to alleviate the suffering of the victims of the conflict.

25.- Ukraine will hold elections in 100 days.

26.- All parties involved in this conflict will receive full amnesty for their actions during the war and agree not to make any claims or consider any complaints in the future.

27.- This agreement will be legally binding. Its implementation will be monitored and guaranteed by the Peace Council, headed by President Donald J. Trump. Sanctions will be imposed for violations 

28.- Once all parties agree to this memorandum, the ceasefire will take effect immediately after both sides retreat to agreed points to begin implementation of the agreement.


O DEPRAVADO E O ASSASSINO


 Começou bem. Quinze cavalos negros e oito bandeiras, quatro a quatro americanas e sauditas, fizeram  as honras da chegada de Salman à Casa Branca. Trump deve ter ficado impressionado com os King's Guard em Windsor. Ó tristeza... Qualquer mudança de guarda quotidiana dos King's Guards teria mais garbo e dignidade do que aquilo. E para um príncipe saudita, da terra onde os cavalos são briosos à nascença e os cavaleiros saídos de quadros. Tanta cagança mal amanhada.
Ainda mal o saudita tinha chegado já Trump lhe mostrava a galeria com as fotografias dos presidentes dos EUA, que mandou pôr num corredor exterior a que pomposamente chama Presidential Walk of Fame. Foi visto pela imprensa pela primeira vez hoje, depois da sacriloga demolição da West Wing e do histórico corredor que as abrigava. Estão lá todos, todos menos o presidente 46º, Joe Biden, o que venceu Trump com o maior número de votos com que alguma vez um presidente dos EUA foi eleito.  Em vez da fotografia de Biden, vê-se emoldurada uma fotografia de uma caneta de assinatura automática ( já tinha estado na West Wing mas com uma moldura ranhosa). Segundo Trump,  Biden não governou, o seu gabinete decidia por ele e assinavam o que queriam com a caneta automática. É reles, é baixo-abaixo-de-reles.  A inveja mata, mas mata muito devagarinho. 
Ficaram parados em frente da fotografia enquanto o gajo do fato explicava uma qualquer enormidade ao gajo da túnica. (Não terá um fato?)

Para continuar, quando Trump abriu a entrada aos jornalistas, falou de tudo menos do que é que o saudita estava a fazer na Casa Branca; falou nos trilhões e biliões e milhões que tem feito a América ganhar, e falou mal de Joe Biden; falou da Golden Age que a América está a viver depois da miséria que passou com Biden; falou de como os preços todos baixaram, os combustíveis, a alimentação, as groceries, os medicamentosque estavam a preços exorbitantes no tempo de Biden. 
Não sei o que mais disse, sei que não falou dos milhões de pessoas que perderam apoios sociais, reformados e veteranos incluidos, nem dos que vêem os seus seguros de saúde obrigatórios aumentarem centenas de dólares. 
Por esta altura dei meia volta e fui trabalhar.
Voltei passado um grande bocado, o cenário tinha mudado, agora estavam as duas pestes sentadas na Sala Oval, cada um mais contentinho do que o outro. Desenrolavam-se as respostas à imprensa.

Lembrei-me do mesmo cenário com uma representação incomparavelmente diferente, quando Zelensky foi flagelado por Trump e Vance perante o silêncio comprometedor de Rubio... 

Incomparavelmente diferente, desta vez estava-se entre amigos, com um gajo que mandou matar à martelada e desmembrar, dentro de uma embaixada saudita, um jornalista do Washington Post, com cidadania americana, que expôs os podres e a corrupção da família real saudita e dos seus governantes. 

Quando uma jornalista da ABC News perguntou a Salman sobre o assassinato de Jamal Khashoggi, sobre a CIA ter concluído que foi a mando dele e disse que as famílias das vítimas do 11 de Setembro estavam furiosas com  a sua presença na Sala Oval, Trump saltou com as garras luciferínas em riste: «Isso não são perguntas que se façam, ele (Khashoggi) era um homem muito controverso, muita gente não gostava dele. Essas coisas acontecem. Ele (Salman) é um grande homem, tem feito um trabalho fenomenal, é meu amigo, não teve nada com isso, está a incomodá-lo» 
Ou seja, o presidente dos EUA contradisse as conclusões da investigação feita pela CIA; nada de novo, já o havia feito em Helsínquia ilibando Putin da interferência russa nas eleições.
Salman disse que queria responder... mas não respondeu.  Fixou a parte da pergunta que referia o 11 de Setembro,  disse que Bin Laden era um malandro que queria envenenar as boas relações entre os EUA e a Arábia Saudita. O que lhe falta em vergonha sobra-lhe em descaramento.  (Vídeo abaixo)

Quando a mesma jornalista, após intervenções de outros colegas, perguntou a Trump por que não publicava os "Ficheiros Epstein", uma vez que podia fazê-lo de imediato e já o poderia ter feito desde o início da sua presidência (a votação no Congresso ainda estava a cerca de 2h de ser iniciada) Trump eriçou-se de novo, sem responder à pergunta, criticou o modo como foi feita e em resposta falou como um verdadeiro autocrata:« Já lhe disse há pouco que a empresa que representa é um cóio de notícias falsas, aliás estou a pensar retirar-lhes a licença de transmissão». 

Seguiu com as amabilidades a Salman, voltou a falar de ter baixado os preços todos, do que tem feito pela América, disse mal de Biden, claro. Salman sorria...
Trump não disse uma só palavra que fosse verdade, nada, só uma algaraviada de mentiras desconexas, despropositadas. Salman sorria... 
Não falou de ter submetido na ONU, à pressão para a véspera desta visita, o Plano de Paz para Gaza que pouco ou nada especifica - nem quem integrará o "governo" de Gaza, nem o papel da Autoridade Palestiniana nem, muito menos, a criação do Estado da Palestina. Não falou de que não há qualquer hipótese de a Arábia Saudita assinar o tão almejado Acordo Abraham (ai, o Nobel da Paz...) enquanto não se reconhecer o Estado da Palestina. Não falou dos militares do Pentágono que alertaram para que a venda de dos F35 à Arábia Saudita acarreta um risco de fuga de tecnologia para a China que não pode ser ignorado.  Não explicou que os negócios combinados com Salman se estenderão por um período de 10 anos, se vierem a ser realizados.  E dos Direitos Civis e  Direitos Humanos na Arábia Saudita, nem lhe passou pela cabeça falar, aliás está-se completamente nas tintas.

Trump sabe porque é que a sua primeira viagem de Estado em 2017 foi à Arábia Saudita. Sabe porque é que a sua primeira viagem de Estado em 2021 foi à Arábia Saudita. Salman também sabe.

A bem da sanidade mental que me resta, completamente enojada, sentindo a trampa do mundo que tinha na frente a colar-se-me à pele, desliguei a TV e fui à minha vida tentando ignorar o que tinha visto. Não consegui.
O jantar de gala? O jantar em honra do assassino que vive coberto de luxo e beleza num país com uma economia devastada, onde há fome e miséria na maioríssima parte da população - Salman que não é um Chefe de Estado - foi recebido com todos os galhardetes como se recebesse a rainha de Inglaterra... Pois, não vi o jantar nem vou ver, desse não vos posso falar

CAMPBELL: DISCURSO DIRECTO

 

O grande Alastair Campbell, jornalista britânico, orador de relevo, escritor, comunicador e estratega,  Actualmente divide-se entre a escrita, as conferências, a angariação de fundos para instituições de caridade e a acção política.

Abaixo deixo 2 minutos - e não é preciso mais -  de uma dissertação sua sobre o Brexit no passado dia 13/11 no repleto Europe House auditorium, em Westminster.
«Dos erros que cometi, o maior foi o Brexit. Ele tornou-nos a todos mais fracos e mais pobres. Uma campanha ganha por mentirosos e vigaristas.
.../...
Posso anunciar que iremos apresentar um projecto-lei para um referendo sobre esta questão. Deveremos
regressar à U.E.,  sim ou não?
.../...
Divulgaremos o relatório completo sobre o papel da Rússia no referendo de 2016 e nomearei uma comissão de inquérito para investigar as mentiras, crimes e delitos e os danos económicos caudados pelo Brexit
.../...
Teremos a confiança para reconstruir uma Grã-Bretanha que sabemos que pode ser muito melhor do que esta e a coragem para enfrentar estes mentirosos e impostores, mostrar-lhes o que é o verdadeiro espírito patriótico britânico.»

Referiu ainda que compreende o raciocínio de Sir Keir para não transformar um possível segundo referendo num ponto crucial das próximas eleições gerais, mas acredita que [o líder trabalhista] pode e deve fazê-lo, não por razões ideológicas, mas antes por puro bom senso patriótico. E acrescentou: «Se o país está a ser prejudicado, precisamos de reparar os danos e colocar algo melhor no lugar daquilo que os causa».

 

Sobre os actuais ataques à BBC não deixou de expressar a sua viva opinião sobre a farsa que Trump lançou sobre a BBC na esperança de ganhar mais uns milhões, baseando-se num erro de troca de minutos do seu discurso, do seu mais do que evidente discurso, no dia 6Jan.2021 instigando o ataque ao Capitólio
«A BBC pediu desculpa (pelo seu erro) e assumiu a responsabilidade, o director-geral demitiu-se. Isto deveria ter sido o encerramento do assunto.
.../...
Os ataques à BBC, pelos Conservadores e os "Reform", são desprezíveis dado o colossal papel que a BBC desempenha na nossa vida nacional e na nossa reputação global.
Esta tarde falei com o presidente Trump, deixei claro, da mais enfática forma possível, que os seus ataques, os do seu gabinete e apoiantes, contra a BBC são inaceitáveis. Nós não queremos uns Media ao estilo americano no nosso país»

Confesso que gosto deste rapaz, qualquer dia convido-o para jantar



"VÃO PARA LÁ..."

 As cabecinhas formatadas nos tempos em que a Eslováquia (Checoslováquia) estava sob a bota da União Soviética não são o futuro, não são a força motriz e são, forçosamente, cada vez menos.
Os jovens eslovacos são europeus, querem ser europeus num contexto europeu - culturalmente, economicamente, democraticamente - os projectos políticos e expansionistas de Putin não fazem parte da equação

O primeiro-ministro eslovaco, Robert Fico, ironizou sobre o apoio da UE à Ucrânia e disse aos estudantes que o defendiam para "irem lutar para lá"; Eles levantaram-se, protestando sem uma palavra, apenas agitaram os seus porta-chaves numa pateada, deixando o primeiro-ministro a falar para os seus seguranças. 


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PER-FEI-TO


A perfeição existe

Bom domingo

Gabriella Papadakis e Guillaume Cizeron são campeões olímpicos e detêm o recorde mundial 
de dança no gelo com uma pontuação total de 226,98 pontos; foram os primeiros a ultrapassar 
a barreira dos 200 pontos e os primeiros a ultrapassar os 90 pontos em dança rítmica.


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HONRANDO OS QUE SERVIRAM

 A 11 de Novembro, em especial na Europa mas um pouco por todo o mundo, mesmo na Alemanha, celebra-se o Dia do Armistício; 

Nos EUA celebra-se o o "Memorial Day", em Maio, dedicado aos que morreram nas guerras americanas e o "Veterans Day", a 11/11, dedicado aos  veteranos das forças armadas - que o presidente Trump acaba de renomear "Dia da Vitória", na boa tradição russa (não estou a inventar):  « Como sabem, hoje não é apenas o Dia dos Veteranos, mas é também a minha proclamação a que passaremos a chamar o Dia da Vitória da I Guerra Mundial.» (As you know today is not only Veterans Day, but it’s my proclamation that we are now going to be saying and calling Victory Day for World War I,)

Em França e na Bélgica o Dia do Armistício é um feriado nacional marcado por paradas militares e cerimónias junto aos respectivos monumentos ao Soldado Desconhecido.

No Reino Unido e Commonwealth vive-se uma semana de memória que inclui o Remembrance Sunday e culmina a 11/11 com o "Remembrance Day", que vai além do fim da I Guerra Mundial para englobar todos os que serviram em guerras na defesa da Liberdade

Em Portugal, a 9 de Abril, celebra-se o "Dia do Combatente", data que passa despercebida à generalidade da população. Há uns discursos junto ao monumento Heróis do Ultramar em  Lisboa e fica-se assim
Apesar dos mais de 7.700 portugueses mortos na I Guerra, o Dia do Armistício não é honrado;
Relativamente à II Guerra, Portugal trilhava outros caminhos que não os da luta pela Liberdade contra os horrores do nazismo
Por cá, a 11 de Novembro, celebra-se o São Martinho... Merece reflexão 




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GUERRA DISSIMULADA, PAZ HÍBRIDA

No dia 6 de Novembro, Mark Rutte, secretário-geral da NATO, fez uma declaração no Fórum NATO-Indústria, em Bucareste, que pode parecer uma informação ao público presente a esse fórum predominantemente industrial. Disse ele:

«A Aliança ultrapassou a Rússia na produção de munições, uma mudança crucial no equilíbrio de defesa da Europa após anos de desvantagem em relação à produção de Moscovo. Até há pouco tempo a Rússia produzia mais munições do que todos os aliados da NATO juntos. Mas isso mudou.
 A força da NATO depende agora da estreita coordenação com os fabricantes privados. Não há uma defesa forte sem uma indústria de defesa forte. É necessário aumentar a oferta, expandir as linhas de produção existentes e abrir outras novas.
Para além de munições, a NATO deve concentrar-se na defesa aérea de alta tecnologia, drones, capacidades cibernéticas e inovação através de programas como o Acelerador de Inovação em Defesa e o Fundo de Inovação da NATO.
Para nos mantermos seguros futuramente, precisamos de ser mais inteligentes do que os nossos adversários utilizando todos os nossos pontos fortes.»

Rutte disse muito mais do que isto, falou durante uns pouco habituais 20min. Não se trata de informação, trata-se de um alerta dentro de parâmetros relativamente suavizados . Um "chegámos a uma boa posição mas não podemos dormir sobre ela".  Não será por certo a melhor das estratégias alertar as populações civis acendendo avisos vermelhos, promover mais instabilidade e insegurança do que aquela que se pode sentir pairando no ar, mas há que expor o que sub-repticiamente vai minando a estabilidade europeia pós II Guerra. É absolutamente necessário que as pessoas entendam as razões do aumento das percentagens dos PIBs nacionais dirigidas para investimentos em Defesa. O contrário conduziria a um "Viram que isto estava a ser preparado, a acontecer, e ninguém fez nada"; Em linguagem prosaica, não é depois da casa ser roubada que nos devemos lembrar de pôr trancas à porta, é antes. É AGORA

Elisabeth Braw, investigadora sénior do Atlantic Council bate na mesma tecla:

«A maioria das pessoas não se apercebe da extensão dos danos que a Rússia está a tentar causar às nossas sociedades. Isto deve-se ao facto de os nossos governos, compreensivelmente, tentarem não alarmar as pessoas mas, como resultado, as pessoas não se apercebem realmente do que está a acontecer»

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No mesmo dia 6 de Novembro, Lord George Roberson, ex-secretário-geral da NATO, ex-ministro da Defesa (UK),  dava uma "coincidente" entrevista ao Channel4  em Inglaterra.
Lord Robertson liderou a recente (06/2024 - 07/2025)  revisão da estratégia de Defesa Militar  - "Strategic Defense Review" - do Reino Unido a pedido de Keir Stamer e preocupa-o que o público  não esteja ciente do conflito actual e contínuo com a Rússia. 

«A Rússia está claramente em guerra connosco. Não tenho qualquer dúvida de que, ainda que não estejamos em guerra com eles, eles claramente declararam-nos guerra. Porque esta não é uma guerra convencional, não se trata de tanques a atravessar fronteiras, soldados a marchar por cidades com o som dos tiros no ar. É um conflito muito mais subtil e sinistro, tão subtil que nem nos apercebemos do quanto se aproximou sorrateiramente». 

Esta é uma guerra híbrida, uma mistura de sabotagem, subversão e manipulação psicológica que actua numa zona cinzenta entre escaramuças e uma guerra total. Está a acontecer por toda a Europa neste momento.
Em 2024, assistiu-se à tentativa de assassinato do director executivo do maior fabricante de armas da Alemanha; Explosivos escondidos em pacotes foram enviados da Lituânia, via DHL e DPD, para a Alemanha, Polónia e Reino Unido; Um enorme incêndio que destruiu grande parte de um centro comercial em Varsóvia.
Estes são alguns dos acontecimentos de que muitos não ouviram falar, para além daqueles que já quase toda a gente conhece: drones a sobrevoar o espaço aéreo de diversos países da NATO e bases militares, na Dinamarca e não só; jactos que atravessam o espaço aéreo da Estónia; a destruição de cabos submarinos no Mar Báltico....
As investigações de governos ocidentais e os seus serviços de Informação revelam que a mão do Kremlin está presente em todos os casos.  Analistas observaram centenas de actos de sabotagem por parte da Rússia nos últimos três anos. No caso dos danos nos gasodutos Nord Stream em 2022,  são os ucranianos que são agora acusados –  o governo em Kyiv a protestou, declarou não ter tido qualquer envolvimento. Moscovo continua a negar qualquer sabotagem.
Esta semana, avistamentos de drones na Bélgica provocaram o encerramento de aeroportos e de uma base militar, junto à fronteira com a Holanda, durante 3 noites consecutivas. O governo convocou uma reunião de emergência com os parceiros europeus

Lord Robertson levanta outra questão que tende a passar desapercebida:

«Não há dúvida de que a Rússia alterou estrategicamente a forma como tenta minar a sociedade ocidental. Aqueles que, no Kremlin, têm como função pensar a longo prazo, claramente começaram a contratar criminosos organizados para realizar determinado tipo de acções e operações de sabotagem que eles próprios não seriam capazes de fazer tão discretamente, afastando quanto possível as ligações à Rússia.»

Após o envenenamento de Sergei Skripal por dois agentes da FSB em Salisbury (UK, 2018) e a invasão da Ucrânia em 2022, o Reino Unido e outros países europeus expulsaram muitos agentes dos serviços de informação russos. Com Moscovo a querer expandir o seu conflito contra o Ocidente, a Rússia ficou em desvantagem uma vez que agora não dispõe, como antes, de agentes treinados no terreno. Então, improvisaram: "se não podemos usar os nossos agentes usaremos activos estrangeiros"  
Andrei Averyanov, uma figura-chave da rede de espionagem russa e vice-chefe do GRU, dirige uma unidade relativamente nova chamada "Departamento de Tarefas Especiais"  (Department of Special Tasks).  Cerca de 80% das actividades de guerra híbrida da Rússia partem de Averyanov e da sua equipa de assassinos, sabotadores, hackers, recrutadores, chantagistas, operadores para as redes sociais e media, infiltrados nos níveis mais básicos e nos mais elevados.

Um ataque incendiário em Leyton, no leste de Londres, em 2024. Os culpados eram criminosos de pequena monta no Reino Unido. O líder, Dylan Earl, era um homem de Leicestershire que tinha sido recrutado online pelo grupo de mercenários Wagner. Foi condenado a 17 anos de prisão. 

Uma semana depois, um tribunal francês condenou quatro búlgaros pelo seu envolvimento na devastação e pilhagem de um memorial judaico em Paris. Os juízes afirmaram que a interferência estrangeira era “indiscutível”, sendo a Rússia a culpada provável. Provável, mas sem "provas"

Em Maio de 2025, 6 búlgaros foram condenados por espionagem para a Rússia no Reino Unido com penas de prisão que variam entre 5 e 10 anos. Os membros da rede de espionagem auto-intitulavam-se "os lacaios" e tinham como alvo jornalistas, políticos e tropas ucranianas. Discutiram também a realização de rapto ou assassinato de opositores do Kremlin.

Em Setembro último um ex-euro-deputado do Brexit/UK Reform, ex-lider do partido no País de Gales, deu-se como culpado de 8 acusações de suborno por parte da Rússia, um "peão" dos serviços secretos russos. O próprio Nigel Farage colaborou com a RT  durante  anos aparecendo regularmente no canal, com o seu próprio programa e sendo remunerado pelos seus serviços. Apareceu na RT - canal TvV "Russia Today") durante o seu mandato como membro do Parlamento Europeu (MEP) e o RT promoveu as suas aparições após o referendo sobre a União Europeia.

É a economia informal da espionagem: agentes freelancers que são baratos e conferem ao Kremlin uma negação plausível. Nunca há um contrato russo assinado nem qualquer tipo de rasto documental, Moscovo pode negar, negar e negar. 
Obviamente que isto dificulta a resposta da Europa.

«Estamos imersos neste tipo de guerra em que coisas acontecem a todo o momento, sem causa específica aparente., É preciso dar um passo atrás e observar a existência de um padrão; Então percebe-se que todos estes pequenos acontecimentos que, isoladamente, podem parecer insignificantes, fazem parte de uma estratégia mais ampla que está alinhada com os objectivos da política externa da Rússia.  Estes objectivos são perfeitamente complementados pela forma como Moscovo recruta num mundo de sombra representantes e criminosos. O Kremlin quer criar confusão para dividir e enfraquecer a Europa. Isto semeia medo, mina a confiança nos nossos sistemas, nas nossas redes e nos políticos que elegemos.»

Tomemos por exemplo o caso dos monumentos judaicos vandalizados em Paris por búlgaros. 
O anti-semitismo é uma questão crescente e importante em toda a Europa.  A Rússia tenta instrumentalizá-lo, fomentando divisões entre as populações judaica e muçulmana em França, precisamente quando a extrema-direita está a aumentar o seu apoio. Se a França estiver dividida a Europa fica mais fraca e, consequentemente, o apoio à Ucrânia diminui. Quem pode garantir a continuação do forte apoio da França à Ucrânia se o Rassemblement National de LePen estiver no poder?

O mais significativo efeito imediato do Brexit, para além das suas repercussões económicas, foi, por um lado a diminuição do bloco parlamentar europeu de centro, por outro as múltiplas dificuldades acrescidas na partilha de informações de segurança europeia, algumas das quais apenas colmatadas pela superior troca de informações entre Aliados da NATO

Na Alemanha, após inúmeros ataques cibernéticos, pelo menos uma tentativa de assassinato, entre muitos outros episódios de destabilização e espionagem, o chefe dos serviços de informação alemães e o ministro da Segurança vieram a público dizer: «Vamos tomar medidas a este respeito, precisamos de operar acções de dissuasão.» 
Imediatamente grande parte da elite política, com a voz predominante do AfD e dos media de direita reagiram: "Isto é uma escalada",  "Porque é que estamos a reagir de forma exagerada?",  "Isto divide a nossa sociedade". Apenas tinha sido evocada "Dissuasão", não qualquer "Ataque"... Não reagir foi a atitude proposta pela oposição

Lord Robertson acredita que o Ocidente precisa agora de ser mais transparente sobre a ameaça e recordar o mundo de 1945-1991 (do pós-guerra à dissolução da União Soviética)

«Não creio que o país esteja realmente consciente dos perigos. Temo que, quando as luzes se apagarem, os centros de dados colapsarem, os semáforos deixarem de funcionar e os ATM ficarem sem dinheiro, as pessoas se virem contra o governo.
Precisamos de ressuscitar alguns dos instrumentos de guerra da informação que utilizámos durante a Guerra Fria. Desmontámos muitos dos instrumentos que utilizávamos para levar notícias e opiniões à União Soviética. Penso que precisamos de restabelecer grande parte disto para atingir a população russa. Mas o Presidente Trump destruiu a Radio Liberty  e a Radio Free Europe. Com que vantagem?

A resposta militar do Ocidente pode ter começado mas é evidente que há uma batalha psicológica em curso: Educar e informar as populações sobre o que se passa nas sombras e estar consciente da forma como Moscovo quer que as sociedades reajam, é esse o desafio que temos pela frente, tendo em conta o que pode acontecer no futuro.
Quase se fica paranóico a pensar no que a Rússia é capaz de fazer. E depois, quando a Rússia introduz a sua próxima forma de agressão na zona cinzenta, percebe-se que não se estava a ser suficientemente "paranóico"»


E NÃO LHE VEMOS OS TORNOZELOS...

A princesa Anne deslocou-se a Whitby, uma cidade costeira no Yorkshire, Inglaterra, para apoiar a organização de solidariedade Save the Children ,da qual é patrona.

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Como "toda a gente sabe", as polícias inglesa, galesa e escocesa não andam armadas junto da população; este senhor que está a sair do carro esqueceu-se de deixar os brinquedos em casa depois de ter estado a brincar aos agentes secretos com os filhos. Obviamente.


6 DE NOVEMBRO

 Hoje era o dia dos teus anos...

Era dia de irmos jantar com uma troupe desatinada, de darmos gargalhadas, de brindarmos à amizade que não conhece o passar do tempo, às confidências, às mãos que se estendem no momento certo, ao litro que se dá mesmo quando é o último que temos, à autenticidade, ao porto de abrigo

Hoje era o dia dos teus anos, dos anos do meu tio, do meu amigo, do que nunca me faltava, o das conversas intermináveis, o dos passeios com os cães à beira mar, pelas lezírias, pela cidade, pela história, pela música, pelas ideias trocadas, pelas trocas d'olhos sem palavras

Hoje fazes-me falta... Fazes-me sempre falta
Bello ciao, fino al giorno in cui mi aprirai di nuovo le braccia


ABRAM-SE AS PORTAS

 Verdade seja dita, passam-se meses que não vejo um noticiário nacional. Leio artigos, vejo sites, procuro fontes, mas sou eu que escolho o que me interessa; mais de 90% do que é impingido nos noticiários não me interessa: acontecimentos quase sempre inconsequentes, episódios circunstanciais, assuntos importantes, ou mesmo fundamentais são tratados "pela rama", muitas vezes seguidos por debates mais opinativos do que informativos, muito menos correlacionais.  O mais triste é que há bons jornalistas portugueses, alguns mesmo muito bons mas presumo que "não rendam" ocupando o ecrã.  Em auto-defesa resta-me mudar de canal para um que não tenha comentadores iluminados, onde sejam apresentados factos, vários, onde se procure um sentido na sucessão dos acontecimentos que ajude as pessoas a relacionar  A com B e AB com C

Há menos de uma semana, a 23 último, neste nosso mundo crescentemente radicalizado e dividido, o Rei de Inglaterra visitou o Papa no Vaticano. Não sei, não vi, mas admito que os noticiários nacionais tenham referido o assunto e mostrado imagens. E é exactamente disto que me queixo. O Rei Carlos III visitou o Papa Leão XIV no Vaticano... Provavelmente terá sido referido que este encontro ocorreu 500 anos após o cisma que separou a Igreja Anglicana da Igreja Católica.  É o que fica.
E então? E daí? Isto é importante?
Daí, a parte importante fica por dizer. O rei de Inglaterra visitou o papa no Vaticano não é algo importante. É significativo, é amável mas não é importante. Mais. Este encontro ocorreu 500 anos após o cisma que separou a Igreja Anglicana da Igreja Católica, é verdade mas deixa no ar uma meia-verdade. Dito assim poderá levar a pensar que Carlos III foi o primeiro monarca britânico a visitar o Papa no Vaticano na decorrência destes 500 anos.
 - Eduardo VII fez uma visita privada ao Papa Leão XIII, lançando uma importante pedra de reconciliação.
 - George V e a Rainha Mary fizeram uma visita oficial ao papa Pio XI em 1923; Dez anos depois Pio XI escreveu, em alemão, uma severa carta a Hitler reduzindo-o à sua condição de mero mortal:
«Aquele que, com sacrílego desconhecimento das diferenças essenciais entre Deus e a criatura, entre o Homem-Deus e o simples homem, ousar colocar-se ao nível de Cristo, ou pior ainda, acima d’Ele ou contra Ele, um simples mortal, ainda que fosse o maior de todos os tempos, saiba que é um profeta de fantasias a quem se aplica espantosamente a palavra da Escritura: "Aquele que mora nos céus zomba deles."»

 - Elizabeth II fez três visitas ao Vaticano. Em 2000 fez uma visita oficial ao Papa João Paulo II, que 8 anos antes havia recebido em Buckingham; fez outras duas visitas privadas, a primeira em 1961 ao Papa João XIII,  ainda durante o reinado do seu pai George VI.
O Papa Benedito XVI visitou a rainha no Palácio de Holyroodhouse, sua residência oficial na Escócia em 2010 durante uma visita de Estado.  
A segunda visita privada da Rainha foi ao Papa Francisco em 2014. Durante essa visita, marcada por uma informalidade e descontração nada usuais, a Rainha, vestida de um luminoso lilás, presenteou o Papa com uma garrafa de whisky de Balmoral e uma cesta com produtos alimentares produzidos nas suas propriedades de Windsor e Sandringham, mel "do nosso jardim" em Buckingham. 
O Papa Francisco, num gesto de simbologia muito clara, entregou à rainha um presente para o seu bisneto primogénito, o bebé príncipe George: Uma esfera em lápiz-lazuli encabeçada pela cruz de St. Edward, o rei inglês do séc.XI que foi santificado pela Igreja Católica

Voltando umas linhas atrás, o Rei de Inglaterra visitou o Papa no Vaticano não é algo importante, nem novo. O que é importante e marcadamente diferente é que Carlos III fez aquilo que a Rainha Elizabeth não pode fazer, por razões várias - do segundo casamento cívil de Charles, herdeiro da coroa, aos acordos com a Irlanda, que visitou numa admirável missão de paz atravessando, literalmente, a rua passando de uma Igreja para a Outra; missão que não quis comprometer temendo que os católicos irlandeses vissem a sua aproximação ao Vaticano como uma interesseira manobra política. 

O que é importante é que o líder da Igreja Anglicana visitou o líder da Igreja Católica e ambos estiveram numa mesma missa celebrada pelo bispo de Roma, o Papa, e o Arcebispo de York. 
Significativo é a permanência do líder da Igreja Anglicana simbolizada na cadeira decorada com o brasão do Rei Charles III,  criada para permanecer na Basílica  de São Paulo Fora-de-Muros. Charles, da Igreja Anglicana, parte mas a sua presença permanece. 

Este acontecimento não é uma visita, é a abertura da porta da união de várias Igrejas, primeiro as cristãs e depois... E depois se verá

Depois?

O Papa Leão XIV  fará a sua primeira viagem papal entre 27 de Novembro e 2 de Dezembro. Teria tido muito tempo para marcar qualquer outra para antes se assim o desejasse. Não o fez, a intenção é clara, o caminho que traça para si mesmo torna-se evidente.
Pode ler-se num comunicado do Vaticano: «Comemorando o 1.700º aniversário do Concílio de Niceia e do seu Credo, bem como reafirmando as esperanças de paz no Médio Oriente, o Papa Leão XIV viajará para a Turquia e para o Líbano»
A viagem a Iznik, na Turquia, local da antiga Niceia, foi inicialmente planeada para o Papa Francisco. O Papa Leão anunciou a sua intenção de celebrar o aniversário do Concílio Ecumênico de Niceia com o Patriarca Ecuménico Ortodoxo Bartolomeu de Constantinopla com quem realizará uma peregrinação conjunta. Presentes também os Patriarcas ortodoxos gregos Teófilo III de Jerusalém, Teodoro II de Alexandria e João X de Antioquia e ainda o Bispo maronita Mounir Khairallah de Batrun, Líbano

Não será por acaso que o comunicado do Vaticano expressa  "reafirmando as esperanças de paz no Médio Oriente", poderia expressar apenas uma referência às Igrejas Ortodoxas. Ali não há "acasos", Leão XIV quer ir mais além neste mundo a que ele chama "fracturado"

2025 é um ano de Jubileu Católico, "O Jubileu da Esperança", iniciou-se na véspera de Natal de 2024 com a abertura da Porta Santa da Basílica de São Pedro pelo Papa Francisco. Outras portas de outras basílicas, que habitualmente permanecem fechadas, seguiram essa abertura: São João de Latrão, Santa Maria Maior, São Paulo Fora-de-Muros. 
Outras há espalhadas pelo mundo "fracturado"





UM DIA VIRÁ...

 (Como diria Freddie Mercury "Another one bites the dust")

Sarkozy suscita-me tanto carinho que, há dois anos, lhe dediquei um post inteitinho, «O FUNGO», e desde então tenho estado pacientemente à espera... Sempre achei que merecia mais do que lhe deram: uma pena efectiva de um ano, a ser cumprida em casa com pulseirinha no tornozelo, não é coisa que faça as honras a tão iminente figura.

Sarkozy começou a sua vida política filiado no Reagrupamento para República (RPR), gaullista de tradição, centro-direita nacionalista que seguia o legado do general Charles de Gaulle, com uma abissal diferença: de Gaulle era sério

Este rapaz nem começou mal, tendo em conta o que propunha no seu programa político presidencial. Mas descambou. Descambou completamente

Em 2023 dizia eu por aqui:
Pois é, camarada Sarkozy, os apoios russos a Mme. LePen lixaram-te o longo esquema de poder e, diga-se de passagem, deste uma boa contribuição com tantos tiros nos pés com balas de corrupção, tráfico de influência e prisão efectiva... Não ajuda, mas os tempos mudam... Hoje em dia os processos crime, mesmo com condenação efectiva, já não são o que eram, a malta já não leva a mal, são vicissitudes da vida, até há muito quem aprecie.

Já nem a extrema-direita é o que era... A nova ordem é unir-se à extrema-esquerda, aos partidos pró-comunistas, numa aliança anti-ocidente, anti-NATO (um must), anti-Europa. 
Os nacionalistas populares estão de parabéns, têm tido enorme êxito a driblar mentes pouco atentas, ou pouco informadas, para longe do que é realmente importante, fundamental. Centrando o seu discurso na carteira de cada um, nos medos colectivos, no marketing que promove o autoritarismo nacionalista
E, em 2023, de onde vinha o gatilho da minha dedicação coloquial ao personagem? Do seu percurso político? Das falcatruas graves em que se enredou? Nada disso.  O disparo veio-me como um raio quando da sua visita a São Petersburgo para participar no Fórum Económico Internacional - e já agora que ali estava - "por acaso" encontrou-se com Vladimir Putin. Seria ele ou Le Pen... Putin teria de escolher, "Entre les deux, mon cœur balance". Putin apostou bem, como seria de esperar, em Le Pen

«-/..."Os russos são eslavos, eles são diferentes de nós, as negociações sempre foram difíceis, houve muitos mal-entendidos ao longo de nossa história compartilhada, no entanto, apesar desse facto, precisamos dos russos e eles precisam de nós. A Rússia continuará a ser nossa vizinha, quer queiramos quer não, temos de encontrar formas e meios de restabelecer relações de vizinhança ou, pelo menos, relações mais calmas”

.../... "A NATO poderia, ao mesmo tempo, afirmar a sua vontade de respeitar e ter em conta o medo histórico da Rússia de ser cercada por vizinhos hostis"
.../... A Europa precisa de clarificar a sua estratégia e procurar um compromisso com a Rússia em vez de seguir a estranha ideia de financiar uma guerra indiretamente, sem se envolver nela.

"A Ucrânia é uma ponte entre o Ocidente e o Oriente e deve permanecer assim. É necessário ser coerente e, especialmente, realista. A vocação da Ucrânia é ser uma ponte entre a Europa e a Rússia. As demandas para que a Ucrânia escolha entre os dois, na minha opinião, contradizem a história e a geografia desta região complexa"» .Sarkosy, Agosto 2023
Medvedev, ex-presidente e primeiro-ministro da Rússia, que alternava cargos com Putin para manter a "constitucionalidade" antes da reforma, considerou os comentários de Sarkozy "tão audaciosos quanto precisos".
Está tudo dito.
De Gaulle teria tido uma síncope...


Ao ver Sarkozy ir "de cana" não posso deixar de rejubilar; os motivos, graves, não englobam a totalidade dos seus crimes mas não faz mal, rejubilo na mesma, não tenho culpa de ter uma afincadíssima memória
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Um dia... Um dia virá... Um dia virá em que os crimes que se desenrolam presentemente ante os nossos os nossos olhos serão julgados, de uma forma ou de outra, por uma razão ou por outra.

Ouvi há dias um oficial de uma qualquer Inteligência europeia sair-se com esta:
« Contornando o carácter metafísico do que não pretende ser uma análise, apenas um sentimento, uma leitura descontraída feita na diagonal, a profanação dos valores humanos mais básicos que decorrem tão disseminadamente convence-me de que o terceiro Anti-Cristo não é uma figura, é uma incarnação numa Trindade»
Confrontado com a decisão de Trump de não fornecer mísseis de longo alcance à Ucrânia após as duas horas e meia de conversa com Putin, Zelensky foi hoje o mais claro que a sensatez lhe ditou: 

«A Rússia perdeu o interesse pelos contactos diplomáticos depois de os Estados Unidos terem recusado fornecer mísseis Tomahawk de longo alcance à Ucrânia.
Quanto maiores forem as capacidades de longo alcance da Ucrânia, maior será a disponibilidade da Rússia para terminar a guerra»

Explicitamente exposto, "Já não vale a pena ir a Budapeste, no dia seguinte desempenhaste impecavelmente a tua fantochada na Casa Branca"

Mas um dia virá...

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DESMERECE A RETÓRICA

Gentalha corrupta, que mete ao bolso verbas usurpadas, que encara um suborno como um acréscimo de rendimento, que é financiada por fontes ocultas e ocultadas, há por todo o lado, é verdade, mas há uns que abusam. Abusam e sustentam as suas retóricas em acusações  infundadas desviando as atenções dos seus propósitos. Se for feito um gráfico de processos crime que englobe todos os quadrantes políticos não creio que suscite muitas dúvidas sobre onde se encontram os picos. É assim, da Assembleia da República Portuguesa ao Parlamento Europeu.

O primeiro caso estrondoso foi o da Le Pen e de mais 25 comparsas, 8 dos quais euro-deputados; foram apanhados num sistema fraudulento de contratos de trabalho envolvendo verbas do Parlamento Europeu destinadas ao pagamento de remunerações, um desvio de fundos europeus que bateu os 5 milhões de euros vindos dos bolsos dos contribuintes. Uma escandaleira sem margem para dúvidas

Outros houveram, menos onerosos, menos mediáticos, mas com os picos a surgirem do mesmo lado do gráfico

Há menos de 1 mês, a 26 de Setembro, Nathan Gill, ex-líder do UKReform-Walles e ex-deputado europeu do partido Brexit, declarou-se culpado em 8 acusações de suborno para defender as posições políticas da Rússia no Parlamento Europeu. Isto poderia levar a uma conversa sobre como o Brexit foi implantado no meio eleitoral britânico. Não vale a pena, é tão óbvio que desmerece a retórica

Hoje o Sunday Times - e o Times não é o Sun - brinda os seus leitores com uma notícia enfeitada com uma fotografia linda do casal N.Farage/L.Ferrari 

«A integridade política de Nigel Farage, um homem que construiu a sua carreira atacando os excessos financeiros da União Europeia, é,  de novo, alvo de escrutínio. A sua companheira, Laure Ferrari, está agora directamente implicada numa investigação criminal em curso, de fraude centrada na organização euro-céptica sediada em Bruxelas que ela dirigiu.

Os auditores recusaram-se a aprovar centenas de milhares de euros em despesas públicas do Instituto para a Democracia Directa na Europa durante o tempo em que Ferrari foi directora executiva. O que começou como uma controvérsia contabilística em 2016 transformou-se agora num caso criminal em grande escala, envolvendo o círculo íntimo do líder do Reform UK  em alegações da mesma má conduta financeira que ele passou anos a denunciar.» Sunday Times - 19 Out.25

Ok, nem digo mais nada, fico-me pela anedota:

- O que faz um euro-céptico em Bruxelas ?
- É tão óbvio que desmerece a retórica