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GEORGE MICHAEL, PARA LÁ DA MÚSICA

Ontem ao fim da tarde a BBC foi a primeira estação a notíciar a morte de George Michael. No final da notícia publicou um pedido:

What are your memories of George Michael? Did you meet him? You can share your experience by emailing haveyoursay@bbc.co.uk. 
Please include a contact number if you are willing to speak to a BBC journalist. You can also contact us in the following ways:
  • WhatsApp: +44 7525 900971
  • Text an SMS or MMS to 61124 (UK) or +44 7624 800 100 (international)
Tanto quanto sei os resultados ainda não se encontram publicados mas outros meios de comunicação social seguiram o exemplo.
Muitos testemunhos ligados ao mundo do espetáculo referiram a generosidade e solidarierade como características marcantes de George Michael.
Abaixo deixo alguns poucos exemplos que vieram a público.

No programa 'Deal or no deal' uma mulher desabafou dizendo que precisava de £15.000 para um tratamento de fertilização in vitro, valor que considerava absurdo e que nunca conseguiria pagar. George Michael  fez essa doação no dia seguinte e pediu que se mantivesse anónima. 
Certa vez encontrava-se num café onde uma senhora conversava com a empregada de balcão; a senhora chorava por se encontrar numa situação desesperada com uma dívida de £25 000.   George Michael passou um cheque que entregou à empregada e pediu-lhe que esperasse que ele saísse para dar o cheque à senhora. 
Uma colaboradora voluntária num centro de ajuda a pessoas sem abrigo contou que George Michael trabalhava com voluntário nesse centro anonimamente e pediu que não revelassem a sua identidade. 
Esther Rantzen, fundadora do ChildLine, organização de beneficência para as crianças mais vulneráveis do Reino Unido, disse à "Associated Press" que Michael doou milhões de dólares para a fundação durante anos.
E as histórias sucedem-se, não só revelando doações mas muitas delas expondo actos de grandeza de coração, de ternura, de empatia.
Que encontre Paz.



L'ARMENIEN

Ontem à noite Monsieur Charles Aznavour encheu a MeoArena.
De muito alto dos seus 92 anos (pode lá ser, parece que são a fingir) cativou as várias gerações de público durante quase duas horas, sem intervalo nem cansaço. Cantou, conversou, gracejou e fez promessas para a próxima...

Quem pensa que esteve em palco um idoso romântico que se desengane, ontem à noite não foi o Aznavour dos amores perdidos e achados que se fez ouvir.
Ontem estivemos face ao francês mais arménio que existe; nascido em Paris, filho de refugiados arménios que se fixaram em França após terem passado pela Grécia; a mãe, licenciada em literatura, e o pai, músico, abriram um restaurante, "Le Caucase", que pouco durou de tantas serem as refeições que ofereciam àqueles que não as podiam pagar, A paixão deles, segundo as palavras de Aznavour, eram os espectáculos que montavam, juntamente com outros emigrantes, a favor da diáspora arménia.

Com o charme de sempre mas bem menos nostálgico do que testemunha da dor que presenciamos diariamente a açoitar os mais desafortunados do nosso injusto mundo, abriu o espectáculo com "Les émigrants": «Comment crois-tu qu'ils sont venus? Ils sont venus, les poches vides et les mains nues...», o mote estáva dado. Mais adiante, em jeito de conversa, fechou as suas palavras, sem revolta nem declamação dizendo "Je suis un homme libre, de libre pensée", e seguiu-se "Comme Ils Disent".

Mesmo canções como "La Bohème" ou "Il faut savoir" ganharam uma outra dimensão neste contexto, de um homem de 93 anos, presente e consciente, que sempre se recusou a ignorar o sofrimento alheio, que se embrenhou na vida com profundidade e dignidade.

E que continua a cantar maravilhosamente.


Embaixador geral de França para a Arménia
Embaixador da Arménia na Suíça,
Delegado permanente da Arménia nas Nações Unidas/UNESCO
Presidente da ONG "Aznavour For Arménia"
A Arménia concedeu-lhe, em 2008, a nacionalidade arménia. Anteriormente tinha recebido a Ordem da Pátria, a mais alta condecoração arménia e foi dado o seu nome a uma das praças da capital.


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ESTÁ ABERTA A ÉPOCA DO DESASSOSSEGO

... E lá vai recomeçar tudo de novo.

Sabem do que falo, não sabem?
Se não sabem é porque ainda são crianças e têm "férias de natal".
Que seja um desassossego feliz.



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POPULISMO - DIVIDIR PARA GOVERNAR

Começou com o medo. Quase sempre começa no medo, é um elo comum fácil de explorar, que abre portas a todo o tipo de forças negativas que os humanos conservam lactentes em si; só pode ser contido por uma contínua racionalidade envolvida em bom senso e esses não abundam no seio de povos assustados, sabiamente manipulados com propagandas e cenários negros. "Temos de reconquistar o nosso poder nacional!!!", como se isso existisse, a independência nacional.
Manifestou-se visivelmente nas barreiras de aço erguidas na fronteira húngara.
Materializou-se inesperadamente na vitória do Brexit; vitória que ninguém queria, à parte aquele pirómano Farage e os seus ateadores inconsequentes.
Solidificou-se na conquista de Trump, perante a incredulidade do mundo.

E agora? Terá o mundo  de passar por esta fase em que o medo serve os propósitos mais destrutivos, desumanos e inconfessáveis ou irão as pessoas ganhar consciência de que o verdadeiro perigo não reside naquilo que são levadas a temer mas por detrás da cortina corrida como cenário de fundo.

O paradigma político-ideológico mudou. Não, nem é isso, não mudou, afundou-se nas profundezas e um outro surgiu em seu lugar fundado em alicerces novos e subliminares. Temos de deixar de fazer contas com a Esquerda e a Direita, isso acabou. Por muito que estas tentem ainda firmar-se fazem-no nas areias movediças que se infiltraram sob o tabuleiro do xadrez mundial.  A direita, largamente radical nas suas bases, vence nos EUA com o apoio da propaganda de média e informática do líder pródigo da URSS. Os cidadãos da U.E. são bombardeados, "à esquerda e à direita" com propaganda anti-europeísta, apoiada financeiramente pelos mesmos interessados. "À esquerda e à direita" o propósito é o mesmo, dividir para governar, usando a ilusão do regresso ao "Poder Nacional", ao "Poder Popular", ao "Poder-que-muito-bem-entendam" desde que se dividam e enfraqueçam. A Russia TV é apenas um visível floco de neve deste imenso iceberg submerso.

Hoje o "efeito dominó" foi contido na Áustria. O temor do que se delineava
venceu o medo incutido.

Segue-se a Itália... Irá o furor revolucionário do Movimento Cinco Estrelas lançar mais uma grande acha para a fogueira do populismo europeu? Provavelmente, e irão festejar... e a direita radical também. Que ironia!

Ironicamente é assim que esta equação se resolve, converte-se o valor da incógnita eleitoral ao isolamento ou à democracia, tudo o resto é conversa velha, extemporânea, morta.
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Actualização: 
A Itália votou de acordo com o espectável.
Está a barraca armada. Daqui a um par de anos voltarei ao assunto, veremos se continuam a festejar...


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