::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::

COITADINHOS DOS TERRORISTAS

Cresci a ouvir falar de guerras, eu e quase toda a gente no mundo; a guerra colonial, a guerra do Vietname, o Cambodja, Beirute, o Biafra, a guerra dos 6 dias, o Yom Kipur e sei lá mais quantas. Cresci a ouvir falar de guerras, a vê-las na televisão, tive sorte, houve quem as vivesse e quem não tivesse tido tempo para crescer.

Desde que existe humanidade que andamos em confrontos... Não é por acaso que as primeiras imagens do inimitável e sempre novo "2001 Odisseia no Espaço", de Stanley Kubrick, se inicia, na alvorada da humanidade, com luta e a descoberta da primeira "arma": um fémur. Um fémur utilizado para agredir e decidir o clã vencedor.

Mas as guerras eram guerras... Guerras, a Primeira e a Segunda, a ameaça nuclear da Terceira, as guerras quentes e frias, o Muro, os gulags, a fome... Em nome de tudo e mais alguma coisa, em nome de Deus - seja lá qual Deus for - em nome da justiça, da liberdade, da vingança, da honra... No fundo só existem duas grandes causas: sobrevivência por um lado,  território, poder e riqueza por outro, o resto é retórica, dialéctica, argumentação.

Actualmente as guerras decresceram, são guerrilhas, mas estou em crer que a violência é crescente. Actualmente os confrontos são geograficamente limitados - como o sudeste da Ucrânia, a Faixa de Gaza ou algumas zonas específicas em África - mas os ataques letais e violentos podem bater a qualquer porta em inúmeros lugares do mundo. Vivemos sob a ameaça do Terror, o terrorismo é o modus vivendi e o modus operandi na actual Ordem Mundial.

Não preciso forçar a memória, as últimas 24 horas chegam para ilustrar o que estou a dizer:

Ontem um tarado islamita qualquer, que se estivesse mais vigiado estaria certamente preso, tomou conta de um inócuo café na baixa de Sydney, fez dezenas de reféns e acabou morto, ele e mais duas pessoas - um jovem gerente de loja e uma jovem que tinha ido tomar o pequeno-almoço.


Hoje, ainda mal tinha amanhecido por cá já se noticiava que o Movimento dos Talibãs do Paquistão ocupara uma escola em Peshawar com cerca de 500 pessoas, alunos e professores, e mataram mais de 140, na sua maioria crianças.
"Muitos foram executados no principal auditório da escola, mas os sobreviventes dizem que os atacantes foram de sala em sala e abriram fogo contra alunos e professores.O porta-voz do grupo, Muhammad Umar Khorasani, numa declaração às agências noticiosas internacionais,  disse que os seis combatentes taliban tinham “ordens específicas para não fazerem mal a menores”."
Pois... por não quererem fazer mal a menores é que atacaram uma escola...

Sobre terrorismo nem vale a pena ir além destas últimas 24 horas, a lista é interminável, a escolha entre os ataques muitíssimo difícil e não acrescentaria nada de novo, todos sabemos, independentemente dos nossos ideais, credos e éticas.

Uma coisa porém valerá a pena lembrar: sem a actual hiper-vigilância contra-terrorista a lista seria inimaginavelmente mais extensa; felizmente vivemos na ignorância de quantos ataques terroristas são travados pelo mundo.
Aqueles que se sentem incomodados pelas câmaras de vigilância, pelas escutas telefónicas, pela grelha sobreposta a e-mails, pelo escrutínio de visionalisação de sites na Net e pelo Projecto Echelon da NSA, deveriam ganhar uma consciência mágica que lhes permitisse tomar conhecimento de quanta violência e sofrimento já foram evitados, de quantas vidas já foram poupadas devido à vigilância e acção contra-terrorista. Como saber se algum, ou alguns, daqueles que amamos, para já não falar de quantos nos são anónimos, poderiam neste momento já não estar connosco devido a uma viagem de avião em férias, a um pequeno-almoço na pastelaria errada, à visita a um museu imperdível ou a qualquer outro momento inocente e quotidiano?

Pela parte que me toca não me sinto nada incomodada, muito pelo contrário, quanto mais eficaz e global for a vigilância contra-terrorista mais segura me sinto. Venha a CIA, o MI6, a Mossad e outros que tais, é um preço que aceito de bom grado e se for preciso aplicar práticas "chocantes", como o afogamento simulado e outras formas violentas para obter informação, pois que se apliquem. Eu só tenho a agradecer que exista quem suje as mãos por mim - para eu poder bradar aos céus contra a tortura na segurança do meu cantinho.

E...

Não me venham, de ânimo leve dizer que "nós" não somos terroristas, que temos de ser diferentes, temos de velar pelas boas práticas sem ceder à violência.

Sim, "nós" somos diferentes, "nós" não obrigamos ninguém a professar a nossa religião sob ameaça de morte, "nós" não armadilhamos crianças que explodem em nome do que nem sabem, "nós" não cortamos cabeças para exibir em vídeos, "nós" não violamos e escravizamos mulheres e meninas, "nós" não encostamos a um qualquer muro de via pública aqueles que nos incomodam para os fuzilar sem julgamento, apelo ou agravo, "nós" não vaticinamos a ocupação do mundo por uma machista, sub-medieval e violentíssima "Lei de Sharia" em teocracias de leis voláteis.

"Dar a outra face" não significa, nunca significou, pormo-nos a jeito para levar outra bofetada, significa não nos deixarmos vencer ao levar a primeira, significa não nos acobardarmos perante a violência alheia.

Há pessoas indignadas pelos relatórios da CIA? Está bem, felizmente têm a liberdade - sobretudo emocional - de se sentirem indignadas.
(Tivessem sofrido na pele e no coração as consequências do terrorismo e pergunto-me se teriam a mesma reacção...
Independentemente de ter presente de que os princípios éticos não devem ser abalados pela vivência pessoal a verdade é que uma coisa é a teoria e outra é matarem-nos um filho.)
A mim indigna-me a progressão do terrorismo em todas as suas facetas, sobretudo quando se torna uma prática quotidiana.
"Nós" temos o direito e o dever de prevenir, antecipar e punir os ataques terroristas de que sejamos alvo, doa a quem doer

E não me importo mesmo nada que lhes doa.

.