A meio dos anos 70 Chris De Burgh lançou um album ao qual chamou "Spanish train and other stories"; o tema de abertura, bem elaborado e distinto das canções que popularam os anos 70, é "Spanish train" que, entre o declamado e o cantado, conta a história de um comboio que atravessa a zona pantanosa do Guadalquivir até Sevilha... transportando almas. Segue-se um jogo por essas almas entre o diabo e o Senhor
Já houve quem me contrapusesse "O Sétimo Selo", filme de Bergman, mas essa luta é outra, entre a vida e a morte, a salvação de uma alma em desespero, uma luta individual.
Aquilo em que quero pegar, aqui e agora, nada tem de individual, refiro um nível transcendente de confronto cíclico entre Luz e Trevas no qual a humanidade se joga nas escolhas que faz, naquilo que projecta no mundo... de luminoso ou de obscuro
"O diabo faz batota, e está a ganhar. O Senhor faz... o melhor que pode"
Esta imagem de um jogo pelas almas entre o diabo e o Senhor, entre o bem e o mal, marcou profundamente o meu imaginário, é uma imagem poderosíssima quando nos vem à mente, ou buscamos, uma representação visual de luta entre a Luz e as Trevas.
«There's a Spanish train that runs between Guadalquivir and old Seville And at dead of night the whistle blows And people hear she's running still And then they hush their children back to sleep Lock the doors, upstairs they creep For it is said that the souls of the dead Fill that train ten thousand deep» .../...
«The Lord and the Devil are now playing chess The Devil still cheats and wins more souls And as for the Lord, well, he's just doing his best...»
«And I said "Lord, oh Lord, you've got to win The sun is down and the night is riding in That train is still on time, oh my soul is on the line Oh Lord, you've got to win...»
A questão pode parecer complicada... Parece complicada no dia a dia, na torrente de acontecimentos que se atropelam pelo mundo, nas nossas vidas, na relação com os outros, mas há uma outra vertente: a das escolhas que fazemos e essa nada tem de complicado, é até bem simples. Pode apresentar-se por vezes como sendo difícil mas o simples muitas vezes não é fácil.
É apenas uma questão de princípios, de os definirmos e de os mantermos. Distinguir o certo do errado é algo que sabemos fazer quase instintivamente. No fundo sabemos... Todos sabemos.
Carácter, dignidade, honra, lealdade, veracidade, rectidão, ética, são expressões que actualmente têm um sabor quase medieval. O mundo está mergulhado num "vale tudo" desde que seja o caminho de vencer. E digo "vencer", não apenas "conseguir" ou "ganhar", é o caminho do déspota, do falso, do batoteiro.
Assiste-se a um reinado do maligno, ao trono usurpado, a guerras sem regras nem honra. Talvez o mais grave seja que se começa a considerar isto "normal", um "agora é assim".
Não, não é; nem tem de ser; nem será enquanto houver quem não conceda uma sentença de normalidade ao que é perverso
Reportando de novo ao confronto entre a Luz e as Trevas, a Luz não faz batota, joga limpo.
A questão é simples: jogar limpo. Não é fácil mas é simples.
Não sei quantos o sentirão mas eu venho sentindo todos os dias que a Luz e as Trevas estão jogando xadrez, neste momento. Religião à parte - é assunto que não abordo no blog - a escolha está nas mãos da humanidade, não é fácil mas é simples.
«Durante a última semana de Abril de 2019 Trump reuniu com os seus principais conselheiros na Situation Room para anunciar que queria um Acordo de Paz que lhe permitisse retirar as tropas americanas do Afeganistão; Pompeo advogou a favor do chefe, claro;Bolton, que assistia à reunião desde Varsóvia por video-conferência, não queria acreditar no que ouvia....../...Não é o fim de uma guerra, o que seria desejável, é a entrega de um povo impotente e de um território além das fronteiras afegãs ao poder terrorista institucionalizado.É um crime..../...A reunião terminou deixando no ar a mediática hipótese de convidar o presidente Ashraf Ghani para ir a Washington assinar o tal Acordo de Paz. O facto de Ghani, presidente eleito, ser deixado totalmente fora das conversações com os Talibã seria, para Trump, um pormenor irrelevante, a verdade é que ficaria bem na fotografia. Dias depois Trump teve uma ideia ainda mais sensacional que só comunicou aos seus mais escolhidos Conselheiros deixando na ignorância o "National Security Council" : Vou convidar os Talibã para virem cá, não a Washington, que já está muito visto, mas para Camp David!!! A jóia da "coroa" americana onde têm sido recebidos apenas presidentes, primeiros-ministros e reis. Sim Senhor! E mais, recebe-se a rapaziada 3 dias antes do 11 de Setembro!!!
Se a guerra do Afeganistão teve por causa primeira os ataques do "11 de Setembro", e se por lá morreram cerca de 3 500 americanos, não contando as baixas das forças aliadas, é apenas mais um um pormenor irrelevante.
Mas os Talibã não foram a Camp David. Nem a Washington. Nem assinaram acordo algum. Porquê? A oposição nos meios políticos foi maior do que Trump esperava, muitos insuspeitos membros do Partido Republicano mostraram o seus descontentamento ou até indignação. A 5 de Setembro, menos de uma semana antes da festa, os Talibã reivindicaram um ataque bombista no Afeganistão do qual resultaram 12 mortos entre os quais um americano. Desculpa vagamente careca... No espaço de uma semana esse foi o terceiro ataque bombista. (Aliás durante este mês de Fevereiro 2020 mais dois oficiais americanos foram mortos e as conversações de paz continuaram animadamente)»
Foi assim, há 1 ano... Em Fevereiro de 2020, em Doha, Qatar:
Após sete dias de compromisso por parte dos Talibã de "Redução de Violência" no território afegão estão criadas as condições para a assinatura de um "Acordo de Paz" entre os EUA e os Talibã, é quanto basta. Não, o governo do Afeganistão não tem nada com isso, não estava lá nem foi informado do teor das conversações durante o processo. .../...
Ontem, sábado 12 de Setembro - não consigo engolir esta fixação em torno do "11 de Setembro", nem tão pouco é possível engolir que seja um repetido "mero acaso" - recomeçaram as "Conversações de Paz" entre Talibã e representantes do governo Afegão, as primeiras entre entes interlocutores, todas as prévias foram entre Talibã e norte-americanos com Pompeu como cabo do seu grupo. Um novo capítulo de uma vergonha que tem por fundo a retirada das tropas americanas que, pela vontade de Trump, seria feita ainda antes de 3 de Novembro, data das eleições presidenciais nos EUA, com ou sem "Acordo". Prevê o "Acordo" assinado em Fevereiro passado que se este for respeitado as tropas dos EUA se retirariam 14 meses depois, ou seja em Maio de 2021. Do contingente de 13 000 americanos que estavam no Afeganistão em Fevereiro restam 8 600 e está prevista uma nova retirada até ao início de Novembro reduzindo a permanência americana para 4 500. Entretanto 12 000 civis afegãos foram mortos desde Fevereiro. Respeitado? Uma das alíneas é a cessação total de cooperação entre Talibã e grupos terroristas, nomeadamente a al-Quaeda. Nem comento... Como não comento o facto de os guerrilheiros Talibã terem recebido prémios monetários da Rússia por cada militar americano ou britânico morto. (Trump também não comentou... E Boris Johnson estava ocupado com o virus e o Brexit - que corja!) Nas palavras do Almirante William McRaven, comandante da Operações Especiais Conjuntas que teve a cargo o planeamento e execução do raid que executou Bin Laden: “I’m not personally convinced that any deal with the Taliban will be worth the paper that it’s written on. If we were to pull out U.S. troops completely from Afghanistan, it would not take the Taliban more than six months to a year to come back to where they were pre-9/11.” Não estou pessoalmente convencido de que qualquer acordo com o Talibã valerá o papel em que está escrito. Se retirássemos completamente as tropas americanas do Afeganistão, o Talibã não demoraria mais de seis meses a um ano para voltar ao ponto em que estavam antes do 11 de Setembro.
Michael Morell, sub-director da CIA durante a época desse raid, e mais tarde director interino por duas vezes, disse concordar com a opinião de McRaven e partilhar das suas preocupações acerca do "Acordo de Paz": "If U.S. and coalition troops withdrew from Afghanistan, and then the United States ended financial support to the Afghan government, my assessment is that the Taliban would take over the country again in a matter of months. In addition, despite the terms of the peace deal that explicitly forbid it, my assessment is that they would provide safe haven to al-Qaida.The United States would have to figure out how to collect Intelligence on what was happening in Afghanistan, with a particular focus on whether al-Qaida had reestablished itself there and was preparing any attacks on the U.S. and to find a way militarily to reach in there and deal with that problem” Se as tropas dos EUA e da coligação se retirassem do Afeganistão e os Estados Unidos encerrassem o apoio financeiro ao governo afegão, a minha avaliação é que o Talibã assumiria o país novamente em questão de meses. Além disso, apesar dos termos do acordo de paz que o proíbem explicitamente, eles forneceriam um porto seguro para a Al Qaeda. Os Estados Unidos teriam que descobrir como reunir Inteligência sobre o que estava acontecendo no Afeganistão, com um foco particular em se a al-Qaeda se havia restabelecido e estava preparando qualquer ataque aos EUA, para encontrar uma acção militar de chegar lá e lidar com esse problema ”
Na passada quinta-feira, véspera do 11 de Setembro e dois dias antes do reencontro de conversações no Qatar dizia D. Trump:
“We’re getting along very, very well with the Taliban and very well with Afghanistan and its representatives, we’ll see how it all goes. It’s a negotiation.”
(Talibã 2 very, very / Afeganistão 1 - Segue o jogo) Como é que um presidente dos EUA, em véspera do "11 de Setembro", diz que se está a dar "muito, muito bem com os Talibã" que - não fora o quase todo o resto - teve (ou tem?) guerrilheiros premiados para matarem os seus militares e dos dos seus aliados? Está a dar "muito, muito bem com os Talibã" que continuam a chacinar civis afegãos e a insultar o governo afegão?
O Almirante McRaven reagiu:
“You can’t lay this at the feet of the Trump administration, I think the Trump administration is trying to figure out what is a graceful exit strategy in Afghanistan. I don’t know that there is a graceful exit strategy.” "Não se pode deixar isto aos pés da administração Trump, acho que a administração Trump está tentando descobrir uma estratégia de saída elegante do Afeganistão. Eu não sei se existe uma estratégia de saída elegante.” Se, pelo lado do governo afegão existe a visão de um Estado laico regido por um governo eleito, os Talibã não fazem segredo nem pretendem sequer disfarçar, que pretendem fundar um Emirado Islâmico (Estado Islâmico, neste contexto soa mal...). Conversações de Paz? Sim, está bem, entre eles, mas com um forte e visível apoio de quem tenha força - militar e económica - para bater o pé e dar um murro na mesa. Sem isto é só conversa, chacina e entrega de um povo - e do mundo - ao terrorismo Os Curdos que o digam...
Trump Says He Will ‘Negotiate’ Third Term Because He’s ‘Entitled’ To It
«President Trump said Saturday that he plans to “negotiate” to run again in 2024 if he wins reelection in November»
«.../...Michael Cohen, Trump’s former fixer-turned prolific critic, has argued that Trump’s comments should not be disregarded as humor, instead asserting that Trump believes he should be the “ruler” or “dictator” of the U.S. and wants to “change the Constitution.”
Cohen predicted that, were Trump to win reelection, “he is going to automatically day number one start thinking how he can change the Constitution for a third term, and then a fourth term.”»
«The Constitution of the United States of America is the supreme law of the United States. Empowered with the sovereign authority of the people by the framers and the consent of the legislatures of the states, it is the source of all government powers, and also provides important limitations on the government that protect the fundamental rights of United States citizens.»
Será que ainda está em vigor? E por quanto tempo?
Putin e Xi têm razão, isto das eleições é uma chatice.
As eleições presidenciais nos EUA decorrerão no dia 3 de Novembro
Conta-se que ao amanhecer do dia 4 se conhecerá o vencedor, certo?
Não, errado.
A razão...
Em 2020, com uma pandemia a assolar o mundo e muito drasticamente os Estados Unidos conta-se que o número de votos pelo correio seja pelo menos o dobro dos que votaram por essa via em 2016 o que corresponde a mais de 40% do eleitorado
Posto isto há que considerar os eleitores que optam por votar presencialmente e os que optam pelo correio.
Presentemente estima-se que 40 a 50% dos eleitores Democratas votarão pelo correio enquanto que apenas 20 a 21% dos Republicanos votarão por essa via;
(o que não é de estranhar face à desenfreada campanha que Trump tem feito contra os votos pelo correio que, na sua douta opinião - embora sem a menor base factual - sejam um meio de fraude eleitoral)
Em termos práticos o que quer isto dizer?
Se os valores percentuais estiverem correctos, e tudo leva a crer que sim, mesmo a existirem variações serão minimamente representativas, isto significa que os votos contados na madrugada de 3 para 4 de Novembro corresponderão a cerca de 80% dos votos Republicanos e a cerca de 50% dos votos Democratas, existindo assim uma "omissão" de cerca de +20% R e +45% D., seja qual for a abstenção, obviamente. Isto foi denominado "Miragem Vermelha" (Red Mirage) paradoxalmente o vermelho é a cor dor Republicanos)
Vai daí...
Tudo indica que ao raiar do dia 4 de Novembro Trump faça o seu discurso de vitória destinado a inflamar - melhor dizendo, a incendiar - os ânimos trumpistas e a "avisar" que os Democratas irão fazer o diabo a sete para corromper os resultados eleitorais. Obviamente que não irá salientar que cerca de 65% dos votos (não dos eleitores) estarão por contar, esse será o papel das "Fake News"
Depois...
Depois haverá que esperar, uns 4 dias intermináveis.
Os EUA estarão a ferro e fogo atravessando o inferno