Ontem à noite vi uma das reportagens mais dolorosas dos últimos tempos; adormeci com ela a assombrar-me, acordei com ela a ensombrar-me.
Há acontecimentos dramáticos por todo o mundo, alguns inevitáveis como terramotos, incêndios e outras catástrofes, outros que, evitáveis ou não, nos acompanharam sempre ao longo das nossas vidas e que se tornam parte da história do mundo como as guerras e revoluções; temos com estes uma relação de aceitação, mais tarde ou mais cedo, maior ou menor, mais indignada ou menos. Mas esta reportagem não cabe em nenhuma destas classificações. É sobre o absurdo, o impensável, o desalmado. Não é só o reportado, que já seria excessivo, mas o testemunho do estado em que a humanidade se encontra. Humanidade?
Refiro-me ao trabalho que a veterana, (e heroica) repórter de guerra no Médio Oriente Alex Crawford fez para a Sky News sobre o estado de miséria absoluta no Afeganistão
Famílias inteiras vendem rins para sobreviver e alimentar os filhos; e depois vendem os filhos para que não morram à fome
E um filho vale, em dinheiro, menos do que um rim...
Das tragédias que se passam nos hospitais, em particular nas alas pediátricas, não consigo falar, não há palavras que as descrevam. Crianças em sofrimento são mandadas para casa para morrer porque não há como nem com que as tratar. Desespero não é palavra que chegue, talvez inferno...
Aisha, com queimaduras nas mãos, pés e pernas irá morrer porque não há medicamentos para a tratar |
Nada mais tenho a dizer, o que mais posso dizer?
Há dias, na Síria, guerrilheiros ISIS tomaram conta de uma prisão a fim de libertarem os terroristas ali presos. Para garantirem um mais prolongado tempo de acção levaram com eles inúmeras crianças, crianças suas, para servirem de escudo humano. Sim é desumano e selvagem mas, com toda a carga que acarreta, não tem a menor semelhança com o que se passa no Afeganistão.
Que mundo é este? O nosso, aquele em que vivemos, a anos luz das nossas vidas
Hoje, 27 de Janeiro, Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto, um outro holocausto acontece sob os nossos olhos e, no entanto, está sendo ignorado por outras "urgências" que nos tocam mais de perto.
Peço-vos que vejam vídeo que aqui deixo; não se trata de atribuir culpas nem de fazer analises socio-políticas, trata-se de tomar consciência de uma realidade que se afigura "irreal"
Temos obrigação de ser testemunhas do nosso tempo