Uma coroação é um momento histórico e quando acontece após 70 anos desde a última, como é o invulgar caso do Reino Unido, é um acontecimento que poucos viveram.
Em 70 anos tudo mudou, o mundo é outro, mas uma coroação - especialmente no UK - transporta-nos para um mundo mágico como se nos colocasse dentro de um filme.
(Já sei que há quem não goste destes "filmes" mas esses têm todos os outros dias do mundo de que gostam sem esta "magia", não se incomodem com isto, passa num instante e há quem goste).
Há 70 anos a televisão transmitiu pela primeira vez a cerimónia da coroação; essas imagens a preto e branco vistas e revistas ao longo do tempo por milhões incontáveis deram-nos uma ideia da tradição, da pompa, dos ritos, do simbolismo. Assim sabemos mais ou menos com o que contamos mas a cor e a alta definição das transmissões actuais quase nos coloca lá, tantos pormenores de que nunca nos apercebemos de repente saltam-nos à vista, saibamos ou não o seu significado ritual e simbólico
Há 70 anos o convite para a coroação da rainha Isabel II era formal e sobriamente protocolar
; a ocasião festiva inferia-se, não se manifestava, um pouco como as imagens a preto e branco filmadas exclusivamente pela BBC
O mundo mudou e nem tudo é mau, a magia tornou-se mais forte, mais próxima, as festividades do último Jubileu e o enorme pesar que se seguiu à morte da rainha Isabel são disso o maior e incontestável testemunho. A sobriedade de há 70 anos deixou de ter lugar quando o respeito pelas tradições o permite e a solenidade não se impõe; não é sequer preciso recuar 70 anos para encontrar uma época em que seria impensável ver a rainha a tomar chá com o desastrado urso Paddington
Carlos III tem vindo a demonstrar que pretende seguir essa linha de proximidade em várias situações e o seu convite para a cerimónia da coroação é disso um exemplo evidente; a festividade já não se infere, está explicita, nas cores, na imagem e na simbologia
Um convite para a coroação de um rei é um pedacinho de história e este, impresso em papel reciclado -escolha bem clara no significado, já antes expresso no Jubileu quando Isabel II "acendeu" desde Windsor a "Tree of Trees" em Londres - vale bem uma análise do simbolismo que encerra.
Uma coisa é certa, a monarquia britânica mudou, bem ou mal o tempo o dirá
O convite, obra criada por Andrew Jamieson, artista especializado em heráldica e iluminuras, pintada a aguarela e gouache, compõe-se de vários símbolos que, segundo o Buckgingham Palace, se interpretam assim:
No centro do rodapé está o Homem Verde, uma figura antiga do folclore britânico, símbolo da Primavera e do renascimento, para celebrar o novo reinado. A forma do Homem Verde, coroada em folhagem, é formada por folhas de carvalho, hera, espinheiro e as 4 flores emblemáticas do Reino Unido
O PRADO DE FLORES SILVESTRES
A moldura apresenta um prado de flores silvestres britânicas:
Lírio do vale, a flor favorita da rainha Elizabeth, para a felicidade
Centáureas, para esperança e antecipação
Morangos silvestres (parte de uma sobremesa real favorita, morangos e natas)
Rosas caninas, para amor, prazer e beleza
Campaínhas, pela humildade, constância e gratidão
Um raminho de alecrim, para as recordações
E AS QUATRO FLORES NACIONAIS
O cardo, a flor da Escócia
O trevo, um símbolo da Irlanda do Norte
Narcisos amarelos, a flor do País de Gales
A Rosa Tudor, a flor da Inglaterra
Ao longo da moldura, aparecem cinco ANIMAIS CAMPESTRES
:
Uma abelha - o labor pela comunidade
Uma borboleta - a transformação, renascimento
Uma joaninha - sorte, felicidade
Uma carriça - responsabilidade, acção
Um pisco-de-peito-ruivo (robin) . humildade, honestidade
O Leão, símbolo da Inglaterra e
o Unicórnio, símbolo da Escócia,
ambos fazem parte do brasão de armas real
Aparece também um javali,
do brasão de armas da família de Camila
(ali no discreto canto inferior esquerdo, coisas de artista...)
Merecedora de nota é a representação de Bolotas ligadas pelo caule às Rosas Tudor;
as bolotas aparecem o brasão de Kate Middleton, princesa de Gales, mulher do prÍncipe herdeiro e mãe do(s) neto(s) do rei
No topo do convite, à esquerda o brasão dos Windsor ( de Carlos),
à direita o de Camila, após o seu casamento,
ao centro o C de Carlos e Camila;
na verdade são dois C's quase sobrepostos e unidos a meio onde posam dois passarinhos (gostos não se discutem)