Pois é, camarada Sarkozy, os apoios russos a Mme. LePen lixaram-te o longo esquema de poder e, diga-se de passagem, deste uma boa contribuição com tantos tiros nos pés com balas de corrupção, tráfico de influência e prisão efectiva... Não ajuda, mas os tempos mudam... Hoje em dia os processos crime, mesmo com condenação efectiva, já não são o que eram, a malta já não leva a mal, são vicissitudes da vida, até há muito que aprecie.
Já nem a extrema-direita é o que era... A nova ordem é unir-se à extrema-esquerda, aos partidos comunistas, numa aliança anti-ocidente, anti-NATO (um must), anti-Europa. Os nacionalistas populares estão de parabéns, têm tido enorme êxito a driblar mentes pouco atentas, ou pouco informadas, para longe do que é realmente importante, fundamental, centrando o seu discurso na carteira de cada um, nos medos colectivos, no marketing que promove o autoritarismo, deixando cair que o autoritarismo só poderia ser "bom" se exercido pelo lado que cada um defende, se for contra é uma chatice. Mais. O autoritarismo, por definição política, está-se nas tintas para o "cada um", só UM interessa, os restantes que obedeçam, calados. Mas isso agora não interessa nada, o que é preciso é pulso, pôr ordem no mundo, nem que para isso haja que inundar as mentes com mentiras e deturpações gritadas com a fúria de quem falasse verdade E quanto à esquerda não há problema, "quando lá chegarmos tratamos deles". Esta parte não é de todo injusta, os partidos comunistas que - na prática - se unem à extrema-direita regem-se exactamente pelo mesmo princípio. Anda cada extremo a sacanear o outro (desculpem a expressão mas não há sinónimo que resulte), é o que de melhor fazem, à socapa.
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Foto Reuters 16/08/23 |
Voltando ao cogumelo francês, Sarkozy esteve na passada quarta-feira, 16/08, em São Petersburgo para participar no Fórum Económico Internacional - ora aí está uma boa razão; e já agora que ali estava manteve um encontro com Vladimir Putin.
Diz Monsieur Champignon em entrevista de destaque ao "Le Figaro":
«Diz-se que estamos a travar uma guerra contra a Rússia sem a travar. É evidente que não estamos envolvidos no terreno, mas estamos a entregar armas a um dos beligerantes".
--/..."Os russos são eslavos, eles são diferentes de nós, as negociações sempre foram difíceis, houve muitos mal-entendidos ao longo de nossa história compartilhada, no entanto, apesar desse facto, precisamos dos russos e eles precisam de nós. A Rússia continuará a ser nossa vizinha, quer queiramos quer não, temos de encontrar formas e meios de restabelecer relações de vizinhança ou, pelo menos, relações mais calmas”
.../... "A NATO poderia, ao mesmo tempo, afirmar a sua vontade de respeitar e ter em conta o medo histórico da Rússia de ser cercada por vizinhos hostis"
.../... A Europa precisa de clarificar a sua estratégia e procurar um compromisso com a Rússia em vez de seguir a estranha ideia de financiar uma guerra indiretamente, sem se envolver nela.
"A Ucrânia é uma ponte entre o Ocidente e o Oriente e deve permanecer assim. É necessário ser coerente e, especialmente, realista. A vocação da Ucrânia é ser uma ponte entre a Europa e a Rússia. As demandas para que a Ucrânia escolha entre os dois, na minha opinião, contradizem a história e a geografia desta região complexa"
As "demandas para que escolha"? Que raio de filme é que este viu? Só falta acrescentar que os coitadinhos dos ucranianos foram metidos entre a espada e a parede pelo ocidente.
«As declarações do ex-presidente francês e, em especial a defesa de Putin, estão a ser alvo de críticas. Citado pelo jornal inglês The Guardian, um antigo conselheiro dos serviços secretos de Sarkozy, Jérôme Poirot, afirma que os comentários são "vergonhosos" e reescrevem a história do conflito. » In CNN PT
Dmitry Medvedev, ex-presidente e primeiro-ministro da Rússia que alternava cargos com Putin para manter a "constitucionalidade" antes da reforma, considerou os comentários de Sarkozy "tão audaciosos quanto precisos".
Está tudo dito.