Os austríacos têm a memória curta?
O Partido da Liberdade (quanta ironia!) venceu as eleições na Áustria com 28,8% dos votos
Este partido coloca-se na extrema-direita, que agora ascende ao poder pela primeira vez desde a II Guerra Mundial, defende que sejam levantadas as sanções à Rússia, critica asperamente as ajudas do Ocidente à Ucrânia, afasta-se da Iniciativa Europeia Sky Shield, um projecto de defesa anti-míssil lançado pela Alemanha.
Em 2016, o então vice-chanceler e líder do Partido da Liberdade, Heinz-Christian Strache, assinou um “pacto de cooperação” formal com o partido de Putin, Rússia Unidos. Um ano depois a sua ministra dos Negócios Estrangeiros, Karin Kneissl, dançou com Putin no seu casamento.
Em 2019 Strache demitiu-se na sequência da publicação de um vídeo gravado secretamente numa estância de luxo espanhola no qual discute um potencial suborno com uma mulher que se disse sobrinha de um oligarca russo e oferece favores ao suposto investidor russo.
Por essa altura peritos em segurança manifestaram o seu alarme relativo às ligações entre o FPÖ e o partido a Putin. Estes analistas temiam abertamente que a presença do FPÖ num governo da UE pudesse levar à divulgação de segredos ocidentais a Moscovo.
Por que é que isto é particularmente grave? Porque a divisão no Parlamento Europeu aumenta ao ser adicionado mais um governo de extrema-direita, unindo-se aos largos grupos da Hungria, da Eslováquia, da França, da Holanda e da Alemanha nas suas manifestas posições pró-Kremlin. Kickl, o líder do FPÖ já muitas vezes disse e repetiu que Viktor Orban (PM húngaro) é um modelo para ele e que o apoiará.
Cresce um bloco que deseja unir-se à Rússia, uma espécie de Pacto de Varsóvia político que tem por lema um nacionalismo ilusório, uma independência controlada. Putin não "manda", insinua, intromete-se, manipula e sorri dando apertos-de-mão pensando no dia em que "me beijarás o anel". Mas extremistas não vêem para além do seu umbigo, das suas paixões político-ideológicas, do desejo de serem fundadores de uma autocracia mítica, lendária... E utópica
O futuro da Ucrânia está no centro do alvo (e as eleições nos EUA ainda são uma incógnita...)
Sobre as bases da fundação do FPÖ, pode ler-se na Enciclopédia Britânica:
«O populista Partido da Liberdade da Áustria (Freiheitliche Partei Österreichs; FPÖ), por vezes referido como Partido Liberal, foi fundado em 1955 como sucessor da Liga dos Independentes. Inicialmente, a maior parte do seu apoio provinha dos antigos nacional-socialistas»
A verdade vai mais longe: O FPÖ foi fundado em 1956 por Anton Reinthaller, um nazi austríaco que tinha servido anteriormente como tenente-general nas SS. o partido foi então dirigido por antigos membros das SS e outros veteranos nazis. Sim, na Áustria que foi anexada pela Alemanha nazi tornando-se uma província do Reich, tornando-se parte do "sonho" do Grande Império Germânico
Kickl, líder do FPÖ, prometeu aos eleitores que, se lhe dessem a vitória, seria o seu Volkskanzler, o “chanceler do povo”, termo usado a seu tempo pelos nazis referindo-se a Hitler. A afinidade do FPÖ com a "estética" do Terceiro Reich foi recordada na passada sexta-feira durante o funeral de um antigo político do FPÖ quando as pessoas se despediram do seu camarada cantando o hino das SS. Vários dirigentes do FPÖ, antigos e actuais, estavam presentes na cerimónia.
A pergunta com que abro este post é meramente retórica, obviamente têm a memória curta, muito curta. Ou estão dormentes agarrados a um sonho que acaba mal
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