Contam-se pelos dedos de uma mão, e sobram dedos, as vezes que re-publiquei aqui um post. Este "veio hoje ter comigo" no "see your memories of this day" (ou coisa parecida) do Facebook. Porque hoje é hoje, 1 de Fevereiro, reli-o. Foi escrito em 2010 quando decorriam as comemorações do centenário da república; Hoje, uma semana após umas eleições presidenciais nas quais, pela primeira vez votei em branco, redobro as minhas palavras por sentir as razões redobradas.
CEM ANOS SEM REI
O que me lixa não é que se comemorem os 100 anos da república, cada um é para o que nasce e "chacun s'amuse à ça façon".
O que me lixa é que se comemore o centenário da república como se a instauração da dita correspondesse à realização da vontade democrática do povo português; como se estivessem a celebrar 100 anos de democracia, ou lá que raio de sucedâneo de democracia é esta coisa em que vivemos actualmente.
A nossa suposta democracia é uma jovem prestes a completar 36 anos que, talvez por acumular erros de juventude e devido à sua descuidada cultura e educação, para já não falar de uma capacidade financeira que a tem vindo a comprometer na sua ética e na sua independência, apresenta um aspecto desgastado, e pouco atraente.
Será por isso que agora tendem a confundi-la com uma centenária?
A república tem 100 anos e Portugal cumprirá este ano 867.
Quase tudo o que foi importante se passou nos primeiros 767
O que se fez destes últimos 100 anos em Portugal que faça deste país uma presença respeitável no mundo? Uma referência? Uma opinião ou um exemplo a ter em conta?
(aquele vergonhoso programa de televisão sobre "Os 100 maiores portugueses" foi uma boa amostra...)
E não me venham falar das conquistas do povo na sua Liberdade, que é curta nos anos e encurtada no respeito, nos seus Direitos, que expressos ou não na Constituição, são de menos em menos observados, cumpridos e, uma vez mais, respeitados.
Não me falem de igualdade e, menos ainda, de fraternidade; não me falem porque atiro-me para o chão a rir e a chorar ao mesmo tempo e terão de chamar uma ambulância e vestir-me um casaquinho branco daqueles com muitas persilhas e fivelas.
Já sei, já sei, "a monarquia peca à partida porque o rei não é eleito, o rei é filho do rei".
Tenha um republicano uma empresa e vá lá eleger um director-geral que reúna o consenso do seu eleitorado, que seja supra-partidarices, e que tenha a educação e a formação apropriadas às suas funções... Uma gaita!
A ingenuidade tem limites e, quando não tem, é o descalabro empresarial.
Quem tem uma empresa quer ver à sua frente alguém que saiba da poda, que conheça os bons e maus caminhos, que saiba ler relatórios e contas, que saiba aferir das várias necessidades, o resto é conversa. Depois que se elejam representantes, comissões, etc, etc. mas não pode ser o Senhor porteiro, que conhece toda a gente, é um gajo porreiríssimo e que conhece os cantos à casa que o bom senso fará eleger responsável pela empresa.
"Mas nada garante que o rei será um bom governante..."
O rei não é um governante numa monarquia moderna; O rei é a personificação do seu país, para isso é educado, é a estabilidade que permanece com tudo o que constitui uma Nação, não personifica nem se altera nas mutações normais e decorrentes da vida do Estado.
Obviamente que não falo contra o sistema democrático e eleitoral, longe de mim, defendo-o com unhas e dentes. Não é o sistema democrático que está em causa.
Não é possível um presidente da república ser consensual, ser apartidário, ser, de facto, o representante de toda uma nação. E não é presidente da república quem está, de facto, preparado para o ser, quem tem a educação e a formação para o ser; É quem é eleito, num acto político e, também, afectivo.
Vivemos de "Pai da nação em Pai da nação" como um povo orfão que vai mudando de pai adoptivo; um padrasto que serve vários interesses e, com muita sorte, até poderá defender os do povo que o elegeu durante o tempo que durar. E se o deixarem, caso não se trate de um regime presidencial.
Então e um rei, é sempre bom e consensual? Não, não é, mas também não é essa a sua função. Para governar e legislar existem governos e parlamentos. Os poderes Executivo, Legislativo e Judicial não se prendem de forma alguma com um regime republicano ou monárquico, são questões totalmente independentes, como questões independentes são as da Democracia ou da Autocracia.
O rei é educado fora do ambiente partidário; o rei não vota, o rei não se candidata, o rei não precisa de ser eleito nem de se subjugar a essas necessidades e interesses.
O rei é educado tendo como ideologia o seu país e o seu povo, a união da sua nação.
O rei não vai ser presidente de uma qualquer empresa pública, ou privada, não vai pedir nem aceitar um "job dos boys". O rei não vai ser primeiro-ministro, ou segundo ou terceiro, nem deputado, nem presidente da câmara ou da junta, ou do Sporting ou do Benfica.
O rei é a bandeira de um país mas com uma consciência e uma voz. O rei permanece como símbolo da nação e do povo quando as eleições modificam as legislaturas entre as esquerda e a direita, entre a boa ou má gestão do senhor A ou do senhor B.
Ah pois, então e os privilegiados? A nobreza... os marqueses, os condes, etc?
Privilegiados? Os marqueses, os condes, etc? Não me gozem!
Há alguém que seja privilegiado por ser conde ou duque, que se encontre acima da lei, acima dos direitos e deveres de cidadão, em qualquer uma das monarquias democráticas europeias?
(Aliás, deixemo-nos de redundâncias porque não existe qualquer monarquia europeia que não seja consolidadamente democrática; já das repúblicas não se poderá dizer o mesmo).
Privilegiados, sim existem, em todo lado, uns por conquista ou herança - legitimantente adquiridas - outros...
Outros de quem nem vale a pena falar, nós por cá vemo-los às dúzias, impunes e divertidos proclamando a sua inocência e inimputabilidade aos quatro ventos, democraticamente descarados, eleitos, nomeados.
Comemorem lá o centenário da república, é verdade faz 100 anos, mas não a venham identificar com as conquistas democráticas, não atirem areia aos olhinhos do Zé Povo que já anda cegueta há que tempos.
E já agora, não se esqueçam de que a república não nasceu de uma revolução de cravos ou rosas; nem rosas e cravos se lhe seguiram.
O que me lixa é que se comemore o centenário da república como se a instauração da dita correspondesse à realização da vontade democrática do povo português; como se estivessem a celebrar 100 anos de democracia, ou lá que raio de sucedâneo de democracia é esta coisa em que vivemos actualmente.
A nossa suposta democracia é uma jovem prestes a completar 36 anos que, talvez por acumular erros de juventude e devido à sua descuidada cultura e educação, para já não falar de uma capacidade financeira que a tem vindo a comprometer na sua ética e na sua independência, apresenta um aspecto desgastado, e pouco atraente.
Será por isso que agora tendem a confundi-la com uma centenária?
A república tem 100 anos e Portugal cumprirá este ano 867.
Quase tudo o que foi importante se passou nos primeiros 767
O que se fez destes últimos 100 anos em Portugal que faça deste país uma presença respeitável no mundo? Uma referência? Uma opinião ou um exemplo a ter em conta?
(aquele vergonhoso programa de televisão sobre "Os 100 maiores portugueses" foi uma boa amostra...)
E não me venham falar das conquistas do povo na sua Liberdade, que é curta nos anos e encurtada no respeito, nos seus Direitos, que expressos ou não na Constituição, são de menos em menos observados, cumpridos e, uma vez mais, respeitados.
Não me falem de igualdade e, menos ainda, de fraternidade; não me falem porque atiro-me para o chão a rir e a chorar ao mesmo tempo e terão de chamar uma ambulância e vestir-me um casaquinho branco daqueles com muitas persilhas e fivelas.
Já sei, já sei, "a monarquia peca à partida porque o rei não é eleito, o rei é filho do rei".
Tenha um republicano uma empresa e vá lá eleger um director-geral que reúna o consenso do seu eleitorado, que seja supra-partidarices, e que tenha a educação e a formação apropriadas às suas funções... Uma gaita!
A ingenuidade tem limites e, quando não tem, é o descalabro empresarial.
Quem tem uma empresa quer ver à sua frente alguém que saiba da poda, que conheça os bons e maus caminhos, que saiba ler relatórios e contas, que saiba aferir das várias necessidades, o resto é conversa. Depois que se elejam representantes, comissões, etc, etc. mas não pode ser o Senhor porteiro, que conhece toda a gente, é um gajo porreiríssimo e que conhece os cantos à casa que o bom senso fará eleger responsável pela empresa.
"Mas nada garante que o rei será um bom governante..."
O rei não é um governante numa monarquia moderna; O rei é a personificação do seu país, para isso é educado, é a estabilidade que permanece com tudo o que constitui uma Nação, não personifica nem se altera nas mutações normais e decorrentes da vida do Estado.
Obviamente que não falo contra o sistema democrático e eleitoral, longe de mim, defendo-o com unhas e dentes. Não é o sistema democrático que está em causa.
Não é possível um presidente da república ser consensual, ser apartidário, ser, de facto, o representante de toda uma nação. E não é presidente da república quem está, de facto, preparado para o ser, quem tem a educação e a formação para o ser; É quem é eleito, num acto político e, também, afectivo.
Vivemos de "Pai da nação em Pai da nação" como um povo orfão que vai mudando de pai adoptivo; um padrasto que serve vários interesses e, com muita sorte, até poderá defender os do povo que o elegeu durante o tempo que durar. E se o deixarem, caso não se trate de um regime presidencial.
Então e um rei, é sempre bom e consensual? Não, não é, mas também não é essa a sua função. Para governar e legislar existem governos e parlamentos. Os poderes Executivo, Legislativo e Judicial não se prendem de forma alguma com um regime republicano ou monárquico, são questões totalmente independentes, como questões independentes são as da Democracia ou da Autocracia.
O rei é educado fora do ambiente partidário; o rei não vota, o rei não se candidata, o rei não precisa de ser eleito nem de se subjugar a essas necessidades e interesses.
O rei é educado tendo como ideologia o seu país e o seu povo, a união da sua nação.
O rei não vai ser presidente de uma qualquer empresa pública, ou privada, não vai pedir nem aceitar um "job dos boys". O rei não vai ser primeiro-ministro, ou segundo ou terceiro, nem deputado, nem presidente da câmara ou da junta, ou do Sporting ou do Benfica.
O rei é a bandeira de um país mas com uma consciência e uma voz. O rei permanece como símbolo da nação e do povo quando as eleições modificam as legislaturas entre as esquerda e a direita, entre a boa ou má gestão do senhor A ou do senhor B.
Ah pois, então e os privilegiados? A nobreza... os marqueses, os condes, etc?
Privilegiados? Os marqueses, os condes, etc? Não me gozem!
Há alguém que seja privilegiado por ser conde ou duque, que se encontre acima da lei, acima dos direitos e deveres de cidadão, em qualquer uma das monarquias democráticas europeias?
(Aliás, deixemo-nos de redundâncias porque não existe qualquer monarquia europeia que não seja consolidadamente democrática; já das repúblicas não se poderá dizer o mesmo).
Privilegiados, sim existem, em todo lado, uns por conquista ou herança - legitimantente adquiridas - outros...
Outros de quem nem vale a pena falar, nós por cá vemo-los às dúzias, impunes e divertidos proclamando a sua inocência e inimputabilidade aos quatro ventos, democraticamente descarados, eleitos, nomeados.
Comemorem lá o centenário da república, é verdade faz 100 anos, mas não a venham identificar com as conquistas democráticas, não atirem areia aos olhinhos do Zé Povo que já anda cegueta há que tempos.
E já agora, não se esqueçam de que a república não nasceu de uma revolução de cravos ou rosas; nem rosas e cravos se lhe seguiram.
4 comentários:
Boa exposição, permitiu-me analisar o que antes não tinha analisado.
Gostei !
Obrigada Anabela.
Tenho plena consciencia dos argumentos a favor de um regime republicano, tenho eu e qualquer pessoa que não ande a dormir, são-nos injectados em doses periódicas desde que temos idade para entender 2+2=4. Porém nunca se fala dos argumentos a favor da monarquia; é que também existe um 2x2=4... Como se as monarquias europeias fossem habitadas por idiotas. A identificação da monarquia com um "voltar para trás" é cuidadosamente trabalhada desde os bancos da escola.
É sempre importante lembrar este dramático episódio da nossa história colectiva. Nunca perceberei os “brandos costumes” que nos imputam permanentemente...
Já agora, desta vez, acobardei-me e, contra aquilo em que acredito, fui votar numas eleições presidenciais, exactamente pelos motivos que me levam a ser monárquico e a não pactuar com a periódica eleição de alguém para Chefe de Estado. Desta vez, achei que era melhor votar numa suposta facção. Acobardei-me pela 2ª vez. Na primeira, arrependi-me profundamente; espero que agora não me aconteça o mesmo, embora tenha sérias dúvidas de que tal não me venha a acontecer novamente...
Credo, que intolerância para consigo! É ao rei que compete não votar, não ao cidadão. Optar pelo que preferimos (ou por um mal menor) não é uma cobardia, é um acto de intervenção social. Eu "dei-me ao luxo" de votar em branco porque acreditei não ser necessário optar por "um mal menor". Arrependimentos... Pois, entendo... Só não erra quem não age e, creio, mais vale errar agindo do que ser livre de erro por omissão. Deixe lá isso.
É importante lembrar que a república não foi instaurada por vontade expressa popular, é importante lembrar que não se tratou de uma "vitória da liberdade" pois é assim que ela é dada a manjar desde tenra idade. Mais importante ainda é entender-se que república não é, nem nunca foi, sinónimo de democracia. Para quem tenha dúvidas é melhor consultar o mapa dos regimes autocráticos do nosso absurdo mundo.
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