Este Mefistófeles solitário e egocêntrico vive num mundo de sua criação, uma realidade alternativa concebida com requintes de mestre alfaiate onde giram almas vendidas, cadáveres de opositores, mentiras deslavadas, exércitos de assassinos e tudo o mais que se poderá conceber nas profundezas do inferno. Não pode deixar de acreditar na vitória, contra tudo e contra (quase) todos, contra factos e evidências, contra as leis internacionais, contra a menor réstia de humanidade. Sabe que só uma vitória pode salvaguardar o seu poder, e a sua vida; não pode permitir que o isolado e formatado povo russo deixe de acreditar nele e na absoluta necessidade de vencer a voracidade do ocidente "decadente e expansionista"
Kyiv seria tomada em três dias.
Zelensky abandonaria o país ou seria, morto ou vivo, substituído por um presidente fantoche.
Os ucranianos receberiam os russos de braços abertos.
O exército ucraniano deporia as armas face à superioridade russa.
A NATO, caduca e dividida, temendo um conflito global e, com mais ou menos protestos verbais, aceitaria a situação porque a Ucrânia é "uma terra de ninguém" pela qual não valeria a pena quebrar lanças.
A Europa, dependente do petróleo e do gás, não se arriscaria a "morrer gelada ao primeiro Inverno", a ver a sua subsistência ameaçada pela sombra negra da fome, nem à contestação social, nem à crise económica que fatalmente se seguiria.
Os EUA, fraccionados e entregues a um presidente "fraco e pacifista", cuidariam dos seus muitos problemas, militantemente agravados ao longo dos anos do "Trumpismo" e pela desinformação semeada pelos radicalismos dos "SteveBanons" ao serviço da "causa", que encontram eco na inepta e servilista direita radical americana.
Por cada soldado russo heroicamente morto em batalha dois se levantariam pela glória da Mãe-Rússia
Tudo isto, e mais, não são meros erros de cálculo, é uma visão egocêntrica de uma realidade ilusória seguida por um estado de negação cego e surdo, uma mente encandeada pelo esplendor de uma Rússia Imperial renascida, a "reconquista", o "Legado de Putin-O-Magnífico", padroeiro de "São Vladisburgo"
O cúmulo dos seus cálculos erróneos veio a revelar-se no agravamento dos seus temores: A NATO não só não se fraccionou como se uniu em bloco como nunca e, pior, cresceu; A União Europeia conseguiu ultrapassar os entraves que a presença dúplice da Hungria tentou criar e, contra as suas expectativas, a Polónia contou-se entre os primeiríssimos aliados da Ucrânia.
Magnífico sim, irrompeu um, o pequeno actor que foi eleito presidente... Com o carisma e a coragem de um Churchill ou de um Eisenhower, Zelensky revelou-se Magnífico
E um ano passou...
(Não nos esqueçamos porém de que a luta pela Ucrânia não começou há um ano mas em 2014, quando a Rússia invadiu a Crimeia e se apoderou de Donetsk e Lugansk populando estas regiões com separatistas pró-russos)
Um ano de incontáveis atrocidades; nomes de cidades nunca conhecidos pela generalidade dos cidadãos do mundo evocam hoje imagens apocalípticas: Bucha com as ruas bordejadas de cadáveres, muitos deles com as mãos atadas atrás das costas, valas comuns com centenas e centenas de corpos, muitos dos quais com evidentes sinais de tortura e violação; o cerco de Mariupol, que culminou com o bombardeamento de um teatro que abrigava mais de um milhar de pessoas, muitas das quais crianças apesar de ter sido pintada em letras garrafais no exterior a palavra CRIANÇAS - "Óptimo, acabemos-lhe com a raça", escarneceu um general russo. E Kharkiv, e Mikolaiv, e Bilohorivka , e Bakhmut, e Kherson, Chernihiv, e, e, e... Dnipro, que teve ataques a zonas residenciais com mísseis destinados a porta-aviões, o inglório cerco de Azovstal, a loucura dos bombardeamentos junto à Central Nuclear de Zaporizhia... E escolas, creches, hospitais, as populações cívis, sempre as populações cívis como alvo de quem não consegue penetrar alvos militares.
A coroar a extensa lista de assassinatos, violações, tortura, pilhagem e de todos os horrores da guerra multiplicados por um abominável ódio que contempla o genocídio, acrescenta-se o rapto de milhares crianças ucranianas para serem convertidas em "armas russas" contra o seu povo nativo. A este tópico dedicarei aqui um post no início da próxima semana; é bárbaro demais para o diluir agora entre tantos execráveis crimes. A negação da "Arte da Guerra" no absoluto desprezo pela vida. O Genocídio descarado e irreverente, ignóbil, imperdoável
Deixo abaixo um vídeo que será sem dúvida um dos que mais me impressionou durante este ano de guerra. Gravado a 3 de Março de 2022 mostra uma curta filmagem após um dos bombardeamentos de Chernihiv , a norte de Kyiv. Por volta dos 40 segundos ouve-se uma mulher gritar do fundo da alma e logo em seguida diz: «As crianças, as crianças...».
A única homenagem que posso prestar a estas crianças, a esta mulher, a este povo de coragem inultrapassável, é não esquecer.
E nunca perdoar
Um ano passou, outro tem início. Mais virão...
Mortos do Grupo Wagner - publicado por Prigozhin
A mefistofélica figura agarra-se à carne de jovens para alimentar os seus canhões mas as munições escasseiam, as de carne e as explosivas. O seu leal amigo Yevgeny Prigozhin, cabecilha do Grupo Wagner, revolta-se, acusa o ministério da Defesa de traição por não fornecer armamento, munições, transporte aéreo, nem sequer mantimentos que, diz ele, repousam nos depósitos do Estado enquanto as suas milícias sucumbem à fome.
Durante o discurso de Putin no estádio Luzhniki há dois dias, feito para consumo doméstico, e sem qualquer referência às dezenas de milhar de soldados russos mortos na Ucrânia, a restrita internet russa foi invadida por fotografias de "soldados" do grupo Wagner trucidados e protestos pelo abandono a que estão sujeitos.
Isto poderia ser interpretado como "uma justa revolta" não fora o sobejamente conhecido comportamento indiferente e cruel de Prigozhin; no ano passado, ao visitar uma morgue repleta de corpos de membros do Wagner comentou: «Acabaram os seus contratos, vão para casa». Significativo...
Até onde irá Prigozhin na sua lealdade? E na sua ambição?
Se alguém pretender virar as muitas chefias militares russas insatisfeitas com os insucessos na guerra contra a gestão do Kremlin esta seria uma boa aposta e um bom princípio para angariar uma base de apoio
É no entanto evidente que Putin não põe qualquer hipótese de se retirar nem tão pouco de se sentar a uma mesa de negociações. Pede apoio à China, armas, tecnologia da mais complexa ao mero chip, e inteligência (como as fundamentais imagens obtidas por satélites) e "comunicações"; não abandona o enfeudado apoio militar da Bielorrússia - com Kyiv ali tão perto, é uma humilhação difícil de suportar. Ocupou estrategas da Inteligência e militares para delinear um golpe de Estado na Moldávia que colocasse um amigalhaço na presidência o que, além do mais, reforçaria indiscutivelmente a segurança da presença russa na Crimeia. O sonho soviético persiste, mais um Estado-vassalo é sempre um bom activo
E a China?
A China é a única tábua de salvação de Putin mas a questão está longe de ser linear; a comprovar a tortuosidade está a posição da China ontem à tarde, véspera do primeiro aniversário da guerra, quando a ONU votou a "Exigência de que a Rússia retire as suas tropas da Ucrânia" - 141 votos a favor. Apesar dos 7 votos contra dos "suspeitos do costume" ( Rússia, claro, Bielorrússia, Mali, Nicarágua, Síria, Coreia do Norte e Eritreia) a China manteve o ar seráfico e, mais uma vez, absteve-se. E ainda fez um bonito propondo uma lista de medidas: cessar-fogo, diálogo, garantias de segurança para a Rússia, protecção de cívis e, a que mais gosto, defesa da integridade territorial. Integridade territorial de quem? De ambos os Estados? Com ou sem anexações? (São uns pândegos estes chineses.)
A China recusou-se a condenar a invasão russa embora tenha vindo a defender a integridade territorial da Ucrânia ao longo de meses e, de caminho a sua, uma vez que considera que Taiwan é território chinês. (Se a Rússia prevalece na Ucrânia abre alas à legitimização "na prática" de uma invasão de Taiwan). Pretende manter a face perante os seus clientes comerciais e financeiros no ocidente mas envia uns rebuçados em forma de armamento para a Rússia - por enquanto apenas - através da Coreia do Norte; compra a sua energia à Rússia sendo a mais importante das fontes econômicas do Kremlin. Convém prolongar a situação, quanto mais tempo esta durar menor é disponibilidade de recursos militares ocidentais. E económicos...
Até onde irá a permissão para as continuas injecções de milhões de dólares à Ucrânia por um Congresso americano presentemente nas mãos dos Republicanos? A questão não é pacífica...
Na passada segunda-feira, estava Biden em Kyiv, o governador da Florida, Ron DeSantis (o mais provável candidato républicano às presidenciais de 24) afirmou:
a) «O futuro da Ucrânia não será uma prioridade da Casa Branca se for eleito»
b) «O medo de que a Rússia ataque países da NATO é disparatado, nunca esteve perto de acontecer, já demonstraram ser uma potência militar de terceira categoria»
c) «Biden pode prometer que os EUA estarão com Kyiv durante quanto tempo for necessário mas não o pode garantir»
d) Acrescentou que é contra a passagem de um "cheque em branco" a Kyiv.
Não comento nem retiro ilações porque não quero misturar alhos com bugalhos, haverá tempo e tempos, quem quiser retire as suas. Se o candidato for DeSantis é assim, se for Trump é "Game Over".
QUE UM EXÉRCITO DE ANJOS GUERREIROS OS ACOMPANHE
Tão simples quanto 2+2, por mais "Planos de Paz" que a China apresente o inimigo é comum, o desrespeito pelas leis internacionais é semelhante e o acordo de amizade assinado por Xi e Putin por ocasião dos Jogos Olímpicos, em vésperas da invasão, continua em vigor. Mais... Exerce a sua vingança - e silenciosa chantagem - sobre a dramática machadada que Biden deu sobre a tecnologia chinesa ao proibir a exportação de "chips" para a China e cortando-lhe o acesso a tecnologia avançada essencial. O desgaste quantitativo do arsenal dos EUA é um agradável pormenor no cenário duma invasão de Taiwan. Por outro lado a aliança com um grande Estado fragilizado, mas ainda o maior produtor do trio petróleo, gás e carvão, oferece à China a garantia de energia disponível, mais barata (-40%) e uma ascendência sobre a Rússia sem precedentes; não pretende uma Rússia forte mas muito menos lhe convém uma Rússia democrática. Convenhamos que não é nada mal pensado.
Futurologia não é o meu forte mas uma coisa é evidente: as 48h que se seguiram à histórica visita de Biden a Kyiv foram basilares para o que se seguirá em termos de estratégia e apoio do ocidente à Ucrânia. Biden não foi a Varsóvia para dar apertos de mão a 9 dos aliados da NATO e ao seu secretário-geral. Os tópicos mais complexos terão sido abordados e coordenados, fissuras e arestas terão sido preenchidas e polidas, respostas preparadas, acções antecipadas, o melhor aproveitamento táctico de quem joga em casa, prognósticos estudados. Soa agora a hora do "Vamos a isto". As novas armas estão a caminho, quinzenalmente novos pacotes serão libertados mais 2 bilhões de dólares foram hoje atribuídos, só pelos EUA, para assistência de segurança. O aumento progressivo de material militar nos EUA e na Europa também está decidido e em marcha; no UK está em crescimento há meses, um novo orçamento será dedicado já em Março.
Mais dirá o Secretário-Geral da NATO e UE pela boca da Presidente da Comissão durante a manhã na Estónia, à beira da fronteira com a Rússia.
O recado enviado à China não terá sido um tema menor... Os tempos que vão correndo não são os melhores para ninguém e são francamente difíceis para uma China que combateu durante 3 anos uma paralisante guerra com o Covid-19, mais do que qualquer outro país deste atribulado mundo; Sanções económicas e comerciais em larga escala será a última coisa de que de que a China necessita.
Dentro de horas será apresentado o "Plano de paz" chinês com 12 pontos sendo o 1' "O respeito pela sobrania de todas as nações". Declara desejar "continuar a representar um papel construtivo na retomada de conversações de paz" mas nada diz sobre como, quando ou sobre que requisitos. Fala de "facilitar a exportação de cereais" mas/e também de " acabar com as sanções unilaterais". Pois.
É um equilíbrio difícil balançar entre o que se prefere e o que melhor convém. Veremos onde se situa a sua apregoada neutralidade.
O comando do elevador dos vidros do meu carro tem andado cheio de nervos, a janela do condutor às vezes abria mas depois não fechava, às vezes fechava mas depois não abria... e a costumeira arte da procrastinação exercida com mestria: "amanhã vou ver se trato isto".
Aprendi é que coisa é muito mais enervante do que a mera necessidade de arejamento; à entrada de um parque de estacionamento com cancela automática... A saloia tem de abrir a porta do carro para carregar no botão. No drive in do Mcdonald's... A parva tenta abrir a porta com uma esguelha de espaço para fazer o pedido; e recolhe-lo é hilariante - nem preciso imaginar o que irá na cabeça dos jovens funcionários. A princesa queria ir com o carro à lavagem automática... Pois mas não vai para não ficar ensaboada e encharcada. Perguntar o nome da rua... Comprar o Borda d' Água ao velhote... Fazer a auto-estrada sem apanhar um resfriado. Enfim, todo um saber de experiência feito recompensou a minha procrastinação
Até que chegou o dia marcado para uns arranjos na oficina e lá fui eu, antes das 8 horas da manhã, 4ºC, janela a meia haste. "Já agora vejam-me lá o botão temperamental". Saí da oficina a tiritar e enfiei-me no café mesmo ao lado para me enfrascar em chá quente antes de conseguir pensar em apanhar um táxi.
Ao fim da tarde voltei para ir buscar o carro e lá estava ele, ali mesmo prontinho para sair; notei logo a diferença, a janela já não estava a meia haste, tinha pelo menos 3/4 de abertura. O amabilíssimo chefe de oficina dirigiu-se a mim com ar pesaroso:" Ah minha querida senhora, não há volta a dar, tem de ser um bloco de comando de janelas novo, só na marca". Pronto, se não há volta a dar vamos a isso. Não sei se para atenuar a frustração fizeram-me um realíssimo desconto que, posto o IVA, batia os 99 euros. Há anos que sou cliente da MForce (antiga Midas) e só tenho bem a dizer daquela gente; não é publicidade, é reconhecimento
Enquanto aguardava que me atendessem o telefone na secção das peças "na marca" fui fazendo uma prospecção na net para ter uma ideia do custo do tal bloco. Para meu grande espanto havia uma profusão de blocos a importar da China rondando os 20 euros. Sim, chegariam talvez um mês após a encomenda e, com sorte, não viriam com o modelo trocado. Então "senhor da peças da marca" atendeu: Sim sim, temos em stock e só precisa ligar para as marcações para trazer cá o carro. Sim, sim, é provável que o vejam amanhã. Lá falei com o "senhor das marcações da marca":
-"Sim, sim, amanhã de manhã, quer assistir ao diagnóstico ou prefere receber o relatório por e-mail?"
-"Diagnóstico??? Mas o carro acabou de ser visto e revisto hoje."
-"Ahh pois mas é obrigatório um diagnóstico para garantir que o carro não sai com qualquer problema que não tivesse quando entrou"
-"Ahh um diagnóstico de auto-defesa", trocadilhei torcendo o nariz.
Aquilo fez-me confusão, por e-mail? Para mudar um bloco de comandos ao qual EU acedi com um canivete expondo todas as fichas de ligação?
De manhãzinha lá estava eu, "na marca", sendo recebida com protocolos evidentes que vestem a farda com a simpatia "chapa 4".
Vamos então dar entrada à viatura... A senhora sabe que será feito um diagnóstico que pode demorar até três dias"
-"QUÊ? Pára tudo! Três dias? Para mudar um comando de janelas?"
-"Ahh e tal. hoje é sexta-feira, dificilmente lhe entregaremos o carro hoje; Só segunda-feira ou terça..."
-"Meu anjo, nem que viessem entregar-mo no domingo. Vou ligar para uma "oficina electrica" ou eu mesma me arrisco a substituir o bloco a canivete. Diga-me por favor onde vou buscar a peça"
De repente apareceu sob o sorriso "chapa4" uma cara de "Hups"
-"Então espere, eu vou falar com o chefe"
Enquanto o anjo foi falar com o chefe eu liguei para a "Bosch - car service"; para o dia estava a agenda preenchida... "Então e não me sabe dar uma sugestão de alguém que me veja isto? Sei que é preciso ter lata mas nem quero pensar passar o fim de semana com um convite ao roubo escarrapachado na janela... " Ter lata às vezes compensa e a despachada senhora lá me indicou um electricista
Voltou o anjo com notícias do chefe; então entregavam-me o carro ao fim da tarde, sem garantia de que estivesse arranjado mas com o diagnóstico feito e fechavam a janela.
-"Hum, então e agora?"
-"Agora vamos fazer a entrada do carro... O Diagnóstico tem um custo de 105 euros mais IVA, a peça são 178 euros mais IVA ao que será somado o tempo de serviço de ofi... "
-"Não diga mais nada - disse eu já com pena da dedicadíssima funcionária - esta casa cobra-me quase duzentos euros por uma peça que não interfere com a segurança do carro e que é vendida na net a menos de 20 euros mas ok, eu preciso da peça com urgência, propõe-se cobrar-me cento e tal euros por um diagnóstico obrigatório, supostamente para vossa segurança, que eu não quero, não preciso e que só me serve para atrasar a resolução do problema que me trouxe aqui e eu julgava que tinha lata...
-"É o procedimento da...
-"Meu anjo, a menina não tem culpa mas importa-se de ler em voz alta o que está escrito na parede à sua frente e, aliás, no site oficial da marca?"
-"Ler em voz alta?"
-" Está bem, leio eu: «Realizamos um check-up gratuito ao seu *****, antes de qualquer intervenção. Assim, saberá exatamente o que é preciso fazer e quanto custará, para que possa decidir da forma que lhe for mais conveniente». Por favor não perca mais tempo comigo a explicar que consideram existir uma diferença entre "check-up" e "diagnóstico", diga-me só onde posso ir comprar a peça para me ir embora." A doce menina fez questão de me acompanhar ao balcão de compra de peças e pelo caminho foi confessando que realmente... Também o "senhor das peças", com quem falara na véspera, meteu a sua colherada: - "Então vai levar a peça, não a atendem na oficina?" - Lá lhe expliquei sumariamente - "Pois, é um abuso cobrarem o diagnóstico às pessoas, quando vim para cá trabalhar não era assim..." -"Sinais dos tempos meu caro senhor"
Como esta história acabou? Acabou bem, muito bem. Fui ter com o tal electricista que a despachada senhora da Bosch me indicou, homem de ar lavado com a vontade de ajudar estampada na cara. Pediu-me para esperar dez minutos, agarrou no bloco de comando, puxou do canivete e em cinco minutos ou menos tinha o problema resolvido. Por meia dúzia de patacos Abençoado.
Este paleio todo por quê? Porque preciso desabafar, não gosto de chicos-espertos, não gosto da forma como se considera normal entrar no bolso alheio anunciando-a como uma boa-prática. Gente desta sempre houve, obviamente, mas não proliferava como agora, como sendo o pão nosso de cada dia a cobrança imposta de serviços que não se prestam e que não são necessários
No pouco que possa depender de mim não vou deixar de alertar para esta cambada que vive à conta da boa-fé e da necessidade das pessoas, dos acordos com as empresas que beneficiam ambas as partes e que, quando são públicas, é mais um pedaço que nos sai do bolso. A normalização da negociata, do abuso, do "estou-me nas tintas" tira-me do sério, a aceitação disto enfurece-me e, o pior, é que vem de cima, de quem deveria representar a "lei e a ordem". Vive-se assim, vive-se a saque.
Hoje em dia viajar é fácil, muito mais fácil com a internet e a responder-nos a tudo antes de partimos e a acompanhar-nos na ponta dos dedos encaixada num telemóvel, certo? Hum... mais ou menos...
Sim, facilita muito, muitíssimo, mas a verdade é que quando saímos da nossa zona de conforto há muitas respostas que não buscamos porque nem nos ocorrem as perguntas
Vem isto a propósito de uma série de respostas a perguntas de que não nos lembramos em vésperas de partida e que são de facto fulcrais para quem viaja, neste caso, para Londres.
Londres enorme, eclética, tradicional e vanguardista, antiga e jovem, e muito, muito ao seu próprio modo
As respostas não são todas minhas, embora lhes tenha dado "uns toques" pessoais aqui e ali e acrescentado sugestões tendo em conta o menos óbvio, os meus gostos e o bocadinho que sei de Londres
Então vamos lá:
1. Ao reservar um hotel, descubra antes onde se encontra . Há muitas opções acessíveis em torno de Victoria e King's Cross, por exemplo, óptimas para visitantes. Os Bed & Breakfast (B&B) são uma boa opção e fáceis de encontrar na Net. Não será a melhor das ideias reservar um hotel fora das zonas 1 ou 2 (o circulo central e o primeiro anel em torno deste); o que possa poupar em estadia gasta em transportes e perde em tempo e conforto
2. Saiba como chegar à cidade a partir do aeroporto antes da sua chegada. Os táxis são muito caros.
- De Heathrow eu tomaria a Piccadilly Line ou Elizabeth Line.
- De Gatwick o comboio expresso Gatwick para Victoria é a sua melhor opção.
- De Luton apanhe o comboio para St. Pancras.
- A partir de City, pode apanhar o DLR. (Docklands Light Railway )
- De Stansted, apanhe o comboio para Liverpool Street.
Se estiver a viajar sob orçamento, pode apanhar um autocarro da National Express de qualquer um destes aeroportos para a Estação de Autocarros de Victoria.
3. Não confie apenas no mapa do Metro. É uma óptima forma de se deslocar por Londres, mas utilizá-lo-ia para distâncias mais longas. O autocarro é muito mais barato e também tem a oportunidade de ver a cidade enquanto viaja.
4. Descarregue a app CityMapper. Mostra-lhe todas as opções de transporte público disponíveis para onde quer que precise de ir e é muito fácil de usar, especialmente para visitas de primeira viagem.
5. Vai usar o Metro para explorar a cidade? Desça em Westminster.
A primeira coisa que verá quando sair da estação é o Big Ben, e a Abadia de Westminster; o London Eye, 10 Downing Street e Trafalgar Square, Buckingham Palace, estão a uma curta distância a pé, e a 15 minutos do Museu Britânico
6. Quer ir ao teatro? Há opções acessíveis. Consulte o stand TKTS de Leicester Square para obter descontos, fazer fila fora do teatro para os Day Seats ou tentar deitar as mãos aos bilhetes Rush através da aplicação TodayTix. Todos estes estão a preços com grandes descontos para grandes lugares. Verifique que opções tem o espectáculo que deseja ver. Por exemplo, pode arranjar bilhetes de pé por cerca de £10 para um dos grandes musicais em cena . E não se esqueça de cuscar o que se passa no Albert Hall, tem concertos inesquecíveis
7. Muitos dos restaurantes do West End têm fila à porta à hora de almoço ou do jantar. Se quiser evitar isto, talvez seja melhor fazer uma refeição a hora diferente da habitual. 16:30h é uma óptima hora
8. A gorjeta é apreciada e na maioria dos lugares é esperada, mas os 20% ou mais que os americanos praticam não são obrigatórios, nem de longe
9. O London Eye é caro e muitíssimo movimentado.
O Sky Garden, no topo do edifício Walkie Talkie é gratuito e dá-lhe a mesma vista sobre a cidade. à noite e ao fim de semana está mais apinhado; no último andar há um miradouro que tem a mesma vista, custa cerca de 10 libras e costuma ter fila. Esqueça.
10. Se quiser visitar a Abadia de Westminster ou a Catedral de St. Pauls, tenha em conta que a entrada é gratuita. Pode assistir a uma missa mas terá mais liberdade de movimentação se não estiver uma a decorrer
11. A maioria dos museus são gratuitos. Isto inclui o Museu de História Natural, Museu Victoria and Albert , Museu Britânico, Museu da Ciência, entre muitos outros.
12. Não é necessário obter um Cartão Oyster para utilizar os transportes públicos, pode utilizar o seu cartão de crédito ou débito nas máquinas de contacto mas tenha em atenção que as tarifas para cartões estrangeiros são um pouco mais elevadas do que as dos cartões britânicos . Há ainda um limite diário de 7 libras.
13. Compre os seus bilhetes para atracções turísticas com antecedência. Há bilhetes multi-atracções disponíveis online através, por exemplo, GetYourGuide, onde pode combinar três atracções (por exemplo: The London Eye, (o imperdível museu de cera) Madame Tussauds e Sea Life) a preço com desconto.
14. Para quem viaja com crianças fãs de Harry Potter: pode tirar fotografias na Plataforma 9 3/4 (grátis se a tirar você mesmo) e pode adquirir on line bilhetes para a WB Studio Tour em Watford, mas há muito mais coisas relacionadas com Harry Potter que pode fazer em Londres. Vale definitivamente a pena tentar arranjar lugares para a peça Harry Potter and the Cursed Child no Palace Theatre ou visitar a exposição fotográfica em Covent Garden. E Covent Garden, proriamente dito, é a não perder
15. Vale a pena visitar o Mercado de Eclusas de Camden. Embora seja tão turístico quanto o West End, tem uma arquitectura e um ambiente únicos e originais, bem mais autêntico do que a muitas partes da cidade. É um óptimo local para tirar fotografias giras, almoçar barato ou comprar lembranças.
16. O Harrods é uma loja de departamentos de luxo que vale francamente a pena conhecer. Embora pratique preços proibitivos para a maioria das pessoas toda a gente é bem-vinda a dar uma vista de olhos e fazem questão em ter coisas suficientemente acessíveis para a pessoa comum. Se quiser fazer uma pequena extravagância o Tea Room no topo do edifício é uma excelente opção que lhe proporcionará uma very british experience que lhe ficará na memória. Aproveite
17. Não viaje para a estação da Abbey Road no Docklands Light Railway (DLR) se quiser ver a passagem de peões dos Beatles. Saia do Metro na estação St John's Wood para visitar a Abbey Road utilizada na capa do álbum dos Beatles.
18. A ponte icónica que simboliza Londres tanto como o Big Ben não é a London Bridge, mas sim a Tower Bridge; em muitos anúncios turísticos aparece como "London Bridge"; não deixe que lhe troquem as voltas, Tower Bridge é um espetáculo, London Bridge não tem interesse algum. Se decidir ir a Tower Bridge considere a possibilidade de fazer uma caminha ao longo do Thames bordejado por dezenas de pubs onde se pode ir "reabastecento", descansar, conversar
19. Se for assistir a um concerto na O2 Arena,tenha em conta que à saída o Metro fica impraticável depois dos espectáculos. Considere hipótese de usar o River Bus (Uber Boat) para a O2, além do mais é uma experiência agradável e confortável
20. Se tem gosto em fazer um jantar especial e caracteristicamente londrino uma das opções mais agradáveis e razoavelmente acessíveis é no restaurante mais antigo de Londres (1700 e troca-o-passo), o Rules, em Convent Garden. Pode fazer uma reserva on line onde também é disponibilizado o menu. As crianças são bem-vindas ao almoço mas o jantar está reservado a maiores de 10 anos e os grupos têm um limite máximo de 6 pessoas; ou seja, é um local sossegado e dado a boa conversa. Serviço impecável em salas lindíssimas
21. A Oxford Street costumava ser a rua comercial mais importante de Londres, mas perdeu o seu encanto ao longo dos anos. Actualmente apesar do grande número de lojas , à volta de 3 centenas, encontrará muito do que encontraria em qualquer capital europeia, algumas das mais baratas a A zona de Covent Garden é muito mais agradável quando se trata de compras. Se procura uma concentração de lojas luxuosas o local é Bond Street
22. Para um tradicional pequeno-almoço inglês completo, encontre umaWetherspoons perto do seu hotel ou do local onde está hospedado. Wetherspoons é uma cadeia de bares e hoteis e poderá encontrá-los por toda a Londres. A comida é trivial, os âmbientes e edifícios bastante agradáveis e são um boa opção para um almoço ou jantar acessível.
23. Não caia em armadilhas para turistas. Os jogos de azar que se jogam na rua são sempre esquemas e muitas vezes aproveitam a sua distração para lhe levarem a carteira. Por uma questão de segurança mão aceite nada de estranhos, especialmente rosas ou pulseiras! Não compre lenços de papel a estranhos no Metro
24. E não se esqueça de que o Reino Unido já não está na UE. Se é cidadão da UE agora precisa de passaporte para entrar no Reino Unido. Não se esqueça também de que os inglêses, e suas "descendências", fazem o possível por fazer as coisas de forma diferente do resto do mundo; em Inglaterra o trânsito faz-se pelo lado esquerdo das vias. Crie o hábito, como um mantra salva-vidas, de PARAR SEMPRE antes de atravessar, e tome consciência de de que lado se aproximam os carros. . Se não tem experiência de condução pela esquerda não é de todo boa ideia alugar um carro.
25. .Last but not least, não parta sem uma noitada num pub ou, pelo menos, um tranquilo fim de tarde. A escolha é multipla e para todos os gostos; deixo o link a uma selecção feita por especialistas. .
Mas... Se procura um ex libris muito especial, não um pub mas um bar com fama de preparar um os melhores Martinis do mundo,atreva-se pelo Dukes Bar, no Dukes Hotel London em St. James’s Mayfair, a 5 minutos de Buckingham Palace.
Era o bar de eleição de Ian Fleming, o criador de James Bond, onde bebia os seus Martini Vesper (que descreve no seu primeiro "James Bond - Casino Royale) e terá também ido beber a sua icónica frase: "Shaken, not stirred".
Não lhe passe pela cabeça aparecer de T-shirt, o mais casual permitido será um impecável polo de manga curta; Se optar por um true English chicafternoon tea encontra aqui um servido com Champanhe e todos os mimos que possa desejar...
mas prepare o cartão de crédito...
Mais acessível, britanicamente encantador e igualmente icónico tem o Fortnum's Bar and Restaurant em Royal Exchange onde um afternoon tea que lhe vale por um almoço fica entre 35 e 45 libras dependendo do seu apetite por Champaghe.
Mas atenção, no Fortnum & Mason - The Diamond Jubilee Tea Salon, o luxuoso 4º andar em St. James's, chega às 100 libras num piscar de olhos