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INSUSTENTÁVEL

Indefensável
Imperdoável




JAZZ

 In Memoriam

O nosso Jazz deixou-nos hoje, foram 12 anos de amor puro, de desassossego, de companheirismo e de todas essas coisas boas que só um cão nos pode oferecer sem quase nada pedir. 

Talvez por ser o cão mais pequeno que tive foi mimado para além do superlativo, foi o que mais me deu conta da cabeça, o que tive de desistir de soltar em campo aberto depois de inúmeras fugas, a última das quais me valeu uma caminhada de 8kms sob um Sol abrasador ao longo de uma estrada que fazia contorcionismo; fui salva por meia-dúzia de jovens que vindimavam e o conseguiram apanhar enquanto serpenteava entre as cepas. 
Obediência? Mostrem-me um beagle obediente e mostrar-vos-ei um fenómeno da natureza. E o Jazz não era bem um beagle, era um cruzamento entre um beagle e um foxhound inglês, nascido para correr e seguir uma pista até ao fim do mundo. Não quero ser maledicente, ele obedecia, dentro de casa ou em recinto fechado... Não por ser obediente mas por não ser minimamente estúpido

O nosso Jazz deixou-nos hoje, depois de quase 2 anos de quimioterapia muita dedicação e empenho. Foi irrepreensivelmente assistido pela oncologista Drª. Ana E., uma síntese de competência, de devoção, de experiência e de humanidade. Nunca passou mal nem mesmo menos bem, não apresentou sequelas de efeitos secundários, teve praticamente mais dois anos de vida plena depois do que temi ser a evidência do fim. Se for verdade que todos os diabos têm sorte o meu diabrete não o negou

O nosso Jazz deixou-nos hoje em perfeita paz, em companhia, sem ter passado pelas provações que tantas vezes a pré-morte trás

Meu querido Jazz, espero que encontres os teus amigos lá no céu dos cães, que deve ser o melhor dos "céus"; se depender de mim voltaremos a encontrar-nos




SEM LIMITES

 Faz tempo que o designo por "Bode Maligno", faz tempo que digo que atravessamos um "reinado do maligno", querendo com isto significar que o consciênte colectivo atravessa uma fase de vigência crescente de tudo quando é mau, tolera-se o desrespeito pelos mais básicos limites como se fosse normal, é assombroso. A irracionalidade vigora como se a sociedade global fosse constituída por seitas lideradas pela mentira, pela disseminação do ódio, sendo a ignorância dos factos a maior prova de lealdade que se pode prestar a líders venerados como deuses: Trump, Putin, Kin JongUn, Xi...

Abaixo está o último anúncio de campanha do dito no final do qual, ou muito me engano ou prepara a ascensão do seu primogénito à Casa Branca dando continuidade à "sagrada dinastia" . 

Não teço comentários, para quê?

2024, A INCÓGNITA

 Por mais estrondosa que seja a Passagem d'Ano -  desta vez passei-a de forma pacífica e sossegada, estritamente em família e, abraços à parte, creio que o momento mais alto terá sido o magnífico fogo de artifício de Londres que tem a vantagem de ser o único à mesma hora de Lisboa mas sem o "banho Tuga" e as mini-entrevistas deprimentes no Terreiro do Paço - só me convenço de que um novo ano está a começar quando chega o Dia de Reis, quando deixo de ouvir "Feliz ano Novo" a cada passo, quando as luzinhas se começam a apagar e o bolo rei deixa de nos ser impingido em grandes tabuleiros à beira de qualquer inocente café. 

Ontem fiz uma deslocação prolongada e pouco mais tinha para me ocupar durante esse tempo do que as minhas congeminações e solilóquios silenciosos. O mote? 2024... Não se me aparenta muito auspicioso... 

Desde que Putin começou a ameaçar ataques nucleares a coisa tem vindo a piorar a passos largos. Não as ameaças de Putin, esse é diabólico, não estúpido, mas o termómetro do ponto de ebulição mundial tem vindo a subir, a subir... Como se não bastassem as crises migratórias, a regressão económica pós-Covid, a destabilização social, económica, política e de segurança da Guerra na Ucrânia, a crescente ocupação terrorista da África, a ameaça expansionista de uma China em declínio, as taras megalómanas da Coreia do Norte, a obtusidade que reina no partido republicano nos EUA, a rematar o último trimestre de 23 deu-se aquele selvático ataque terrorista a Israel que descambou naquela barbaridade genocida em Gaza. E mais além? O Líbano está na calha... O Mar Vermelho na ordem do dia...  A Síria não conhece paz e o Iraque é um alvo adiado. 2024 estreia-se com um ataque terrorista no Irão... Abstenho-me de comentar.

Deparamo-nos com uma variedade de desafios que têm implicações drásticas para a democracia e a estabilidade de uma paz trémula. O mundo enfrenta  ameaças às instituições, aos valores democráticos, aos mais básicos direitos humanos, ao direito internacional, enquanto o  autoritarismo, a diminuição do espaço cívico e a desinformação disseminada conhecem alguns dos seus melhores dias.

2024 será  ano de uma avalanche de eleições, quase 80 países irão a votos, votações umas mais reais do que outras. Começando em Taiwan, onde de hoje a uma semana se joga a posição face à China, segue-se a Rússia que já tem vencedor, a menos, talvez, que o czar caia nas escadas do Kremlin do primeiro ao último degrau. Também Portugal irá a votos - o que só terá grande interesse para os portugueses e alguma relevância para a U.E. - segue-se a India onde não se preveem grandes alterações. No Reino Unido a coisa não será pacata, terão de ser marcadas eleições até Janeiro de 25, aguardemos. A África do Sul e o México poderão trazer surpresas; acabando nos EUA, onde vai a jogo tudo e mais alguma coisa;  no meio disto tudo há que considerar as eleições europeias, às quais demasiados não ligam e que a todos dizem respeito.

É absolutamente claro que o mundo passará por profundas transformações: as mudanças económicas, os avanços tecnológicos, as alterações político-sociais irão moldar a nossa situação global.  Os desafios cada vez mais óbvios das alterações climáticas, a desigualdade social e a agitação política terão de ser enfrentados com uma consciência arguta e adulta: as mudanças que atravessamos exigem colaboração e soluções inovadoras. A divisão crescente e o regressismo obsoleto e obtuso não deixam transparecer grandes esperanças. Que não falhe o propósito e não falte a coragem

Por agora dou graças pelo que tenho, pelo fim de ano pacífico e acolhedor que para tantos seria um luxo, um sonho. Que assim permaneça na alvorada do próximo ano