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Querida Alexandra,

Muito obrigado por me dares acesso a escrever para teu Blog.


O que te estou agradecendo é o “cheque em branco” que me entregas numa confirmação de confiança depositada.

Mas…

Tu que és uma mulher lúcida e sábia, és, também, generosa na confiança que atribuis àqueles que inscreves no teu livro de amigos.

Sei…

Sei que não é fácil conseguir um “passaporte” (para usar uma expressão  tua) e transpor a fronteira da tua amizade.
Sei que é um território onde não mais poderá passear-se alguém que traia ou desrespeite as tuas sólidas portas franqueadas.

Sei… Mas…

Será que todos os que têm um lugar na tua “Isola dell'Amicizia” o sabem? Será que quando entregas os passaportes emitidos no profundo arquivo da tua alma explicas que no núcleo do teu claro respeito pela liberdade alheia – e pela tua, há que ter presente 
 se condensa o buraco negro pelo qual são expurgadas do teu universo as almas pouco avisadas que não reconheceram o limite, o ponto sem retorno?

Será? Não sei… Mas creio que não.

A mim não me explicaste nada. Nem manual de instruções, nem mapa, nem sinalização de via.
Um fim de tarde sem pré-aviso, um olhar telepático e a chave dos símbolos. Nascia uma amizade, ali, sob o Arco da Rua Augusta, frente ao Cais das Colunas… Depois viraste a Oriente e quiseste ir molhar a garganta ao Martinho. Acompanhei-te à esplanada convencido de que me irias explicar qualquer coisa acerca de ti.
Nada!
Antes mesmo do primeiro trago rasgaste os véus da conveniência esmagadora e deixaste voar a sinceridade absoluta, corajosa, despida de calculismo. Não falaste de ti nem de mim nem de ninguém, só da Vida. E dos labirintos dos Tempos. E da “persistência da memória”. Pela primeira vez tive um entendimento além-visual do quadro de Dali. E enquanto pensei isto, no quadro, num estalar de dedos já estavas a arrumar os cigarros: “Tenho de ir, deixei o carro em estacionamento proibido”. Obviamente! Foi a primeira e única frase tua que não me surpreendeu, essa tarde.

Crês que se pode viajar na tua Ilha sem mapa?

Sei que acreditas que deve ser assim.
Uma das tuas histórias favoritas é a do “Petit Prince” que fala sobre o seu desenho, o da cobra que engoliu um elefante, e que "as pessoas que precisam de explicações" acham que é um chapéu. São os teus testes para o diferimento de passaporte, e para teu divertimento.

Talvez te recordes de uma vez te ter perguntado o que fazes quando te perdes. Sem sombra do dramatismo a jusante da minha pergunta respondeste num inesperado sorriso aberto:
”Isso é fácil, guio-me pelas coincidências, os caminhos importantes têm um traçado, o problema é quando não percebemos que nos perdemos. As coincidências são estrelas-guias do nosso caminho.”

Hoje estamos sob céus diferentes com estrelas diferentes. 

Talvez os nossos universos pessoais, com todos os seus buracos negros, tenham uma passagem e do outro lado se abra num buraco branco num mergulho na Luz que sempre quiseste buscar, e caídos dos céus aos trambolhões, conduzidos pelas “tuas” estrelas-guias, coincidentes, interceptivas, talvez nos reencontremos na tua “Isola dell'Amicizia”.

Por certo, querida Amiga.


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1 comentário:

Alex. disse...

Obrigada meu Amigo.
Que bom teres-me recordado a “Isola dell'Amicizia”. Por certo, como dizes.
Um dia aterrarei lá, talvez caida do "céu aos trambolhões". Guardar-te-ei um copo.
De resto... digo-te por e-mail.