::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::

ALEXIS PILATOS

Ai coitados dos gregos... Sim, é verdade, coitados dos gregos mas a verdade é que quem semeia ventos colhe tempestades.

Quando o Syriza ganhou as eleições houve uma histeria  além-fronteiras das esquerdas festivas: Agora é que era, o Syriza ia mostrar à Europa que o povo venceu, que ninguém manda em quem não se deixa comandar. Ó céus... Não, o Povo não venceu, o povo, em desespero, fez uma aposta num caminho ainda não percorrido, agarrou-se a uma esperança atormentada de "tudo ou nada" já que o nada estava garantido e perto. A aposta era onírica, o nada chegou.

Olhando aquela rapaziada não era preciso ter luminárias na testa para adivinhar o desfecho de tão bonitas e ilusórias decisões de mudança radical; já foi demonstrado à saciedade que o mundo não é dos espertos, mesmo os sábios aliam-se ao tempo e à espera para provarem a sua razão...
Haverá quem se lembre de me ter ouvido dizer em Janeiro "Dou-lhes seis meses"; em Abril, quando Alexis Tsipras foi pedir batatinhas ao embargado Putin, escrevi aqui:

«Varoufakis tem a mania de que é diabólico, o Guevara da aurora da Nova Europa, renascida da luz da Grécia, que é ele. 
E Tsipras? Tsipras é parvo. Não é estúpido, mas é parvo. Ainda está sob os efeitos da vitória do Syriza, vagamente alucinogénicos; ainda não equacionou bem as incógnitas: para vencer basta conseguir ter votos, para governar é preciso ter com quê... Sem x, y é igual a zero. E não, a Europa não vai sucumbir de medo que a Grécia lhe dê com os pés.
(.../...) O governo grego está a jogar um jogo perigoso, de consequências mal medidas, irresponsável, egocêntrico, quase infantil... Fez promessas impraticáveis, por irresponsabilidade ou demagogia, o facto é que as fez. A romântica e juvenil vitória do Syriza, fruto de um desgoverno prolongado e uma austeridade sem reformas, vestiu ao actual governo uma camisa de onze varas, não um fato de super-homem heróico. Quando confrontado com a realidade, a dura e caríssima realidade, este governo optou por uma postura arrogante e irrealista. De cofres vazios viu-se forçado a negociar; percebeu que as dívidas, afinal são mesmo para pagar, ao contrário do que advogava um Zé-Sócrates-Chico-Esperto. Percebeu que não existem empréstimos nem resgates incondicionais. »

 De facto Tsipras não é estúpido... Por mais parvo que tenha sido ao partir para uma negociação que sabia não poder manobrar sem trair todas as ilusões que criara, sem perder o apoio do Syriza  e da esquerda eleitoral, deverá ter tido presente que não se pode  negociar sem ceder, sem assumir compromissos que refutou em absoluto;   Tsipras não é estúpido... Como Pilatos não era... "Eu tentei, eles não deixaram, agora decidam vocês". Game Over! Até nem fica mal na fotografia, até que esta vá parar aos livros de história.

O povo grego tem pela frente um dos momentos mais críticos da sua existência, é óbvio, mas não é apenas (como se não bastasse) a saída da comunidade europeia e o regresso ao dracma... Outra espada, da qual ninguém parece querer falar, levita sobre a cabeça dos gregos: Quem estenderá a mão a uma Grécia falida e isolada? Não foi a eventual saída da Grécia da União Europeia que levou Obama a telefonar a Merkel, esse será o lado para o qual ele dorme melhor, o que lhe tira o sono e, se pensarmos bem nos dará pesadelos, é o facto de Putin estar à espreita, esfregando as mãos e acendendo velas a S: Nicolau de Mira, padroeiro da Rússia... e da Grécia.
E, ao longe, ouvem-se os chineses sussurrando:"Segundos, estamos aqui..."

. ACTUALIZAÇÃO  ACTUALIZAÇÃO ACTUALIZAÇÃO ACTUALIZAÇÃO
ALEXIS NO PAÍS DAS MARAVILHAS

Felizmente não tinha ainda ouvido as  declarações de Tsipras quando escrevi o que se lê acima; digo felizmente porque duvido que tivesse mantido a desejável calma e compostura a que Bloguece Oblige.

Acabei de ouvir o primeiro-ministro grego e não queria acreditar na representação descaradamente manipuladora que personificou perante as câmaras da televisão pública grega.
Não posso, não devo, aqui adjectivar a intenção de consequência das suas declarações (transmitidas na SICNOTÍCIAS no Jornal da meia-noite e que entretanto desapareceram dos vídeos on line onde aparece apenas o inicio da "coisa-a-fingir-que-é-uma-entrevista",  mas posso cita-lo:
"Apelamos ao povo para que o (acordo) rejeite em maioria. Quanto maior for a percentagem de "não" maiores serão as armas do governo grego para relançar as negociações.
(.../...) Se o povo grego quer continuar com medidas de austeridade, com planos de austeridade que nos escravizarão, se o povo quer assistir a uma "fuga de cérebros", se o povo quer uma elevada taxa de desemprego e novos empréstimos, se essa for a escolha dos gregos, vamos respeitar essa escolha mas não seremos nós a concretizá-las.
Por outro lado, se queremos um novo futuro, com dignidade, devemos fazer isso juntos porque os povos têm poder." 
Absolutamente espantoso este Tsipras!!!
"They will not kick us out of the eurozone because the cost is immense."

Mais espantoso só conseguiria ser se conseguisse explicar onde vai buscar esse "novo futuro com dignidade" sem medidas de austeridade, sem elevada taxa de desemprego, sem novos empréstimos. E também fico curiosa relativamente ao "acréscimo de armas" que representará para o seu governo uma maioria de "Não".
Terá um "acréscimo de armas" argumentativas sim, para argumentar várias atitudes e decisões, mas não nas negociações com a União Europeia, muito pelo contrário.

Não tenho palavras para tanto, ou até terei, mas, por respeito por vós e por mim, não as usarei.

2 comentários:

Laurus nobilis disse...

Aprendi com o tempo, que poder e dinheiro vão e vêm com alguma facilidade e, portanto, tudo se resume, na parte do dinheiro, a não se gastar mais do que se tem. Estes senhores, do governo grego, querem continuar a viver à custa dos outros, esquecendo-se do que estão a passar portugueses, espanhóis, irlandeses e por aí fora; conseguiram destruir em poucos meses, o que tinha sido feito em alguns anos e insistem. Mas, efectivamente, para o povo grego a situação é uma verdadeira tragédia em muitos actos, que não vai acabar tão depressa quanto todos desejaríamos. Convém também não esquecer quem, por cá, veio para a praça pública congratular-se efusivamente quando o Syriza ganhou as eleições. E não estou propriamente a falar do bloco de esquerda...

Alex. disse...

Estes senhores do governo grego são inqualificáveis, universitários de boas famílias que julgam que descobriram a pólvora, com uma enorme sede de protagonismo, herois dos revoltados, super-herois da sua própria banda desenhada.
Tenho pena dos gregos? Tenho. Estou cheia de sentimentos de solidariedade e de vontade de continuar a sustentar-lhes os vícios? Não, de todo, já me chegam os que estão por cá e bem nos têm saído do pelo.
Congratular-se com a vitória do Syriza foi muito "politicamente correcto"(dá um jeitaço esta expressão) e muito avant-garde; palavras que leve o vento, e depressa, em fortes rabanadas.

Prazer em "vê-lo", Laurus nobilis.