Dois anos se cumprem hoje sobre a invasão da Ucrânia, dois anos sobre o que parecia ser um Golias devorando David, dois anos sobre o que era credível ser uma guerra de meia dúzia de dias até Kyiv cair sob o poder do Kremlin
Dois anos que comprovam o quanto o povo ucraniano é digno de admiração e respeito pela sua coragem, resistência, fibra, estoicismo, nomeando apenas as primeiras qualidades que me ocorrem num sopro
E no entanto...
O armamento pesado que as tropas ucranianas estão a usar é fundamentalmente de fabrico norte-americano; não é como uma pistola que dispara balas de calibre x independentemente do fabricante das balas desse calibre, é mais complicado do que isso, as munições requeridas obedecem a características especificas. E estão a acabar. E os russos sabem disso, intensificam os seus ataques na esperança de que um novo reabastecimento chegue demasiado tarde.
E Trump ajuda, faz o papel que lhe foi atribuído, a troco do apoio fantasma à sua re-candidatura à presidência, dando instruções ao seu gang dos 5 no Congresso e ao novo speaker-fantoche que fez eleger:
não se põe sequer à votação a libertação de fundos para rearmamento da Ucrânia. E o speaker-fantoche, aquele homúnculo pequenino que precisa provar que é gente, obedece, vai a Mar-a-Lago beijar o anel ao padrinho antes de seguir para 15 dias de férias suspendendo as sessões do Congresso. Duas semanas? Há meses, aflitivos, que a Ucrânia aguarda restringindo drasticamente o uso de munições com os resultados que todos testemunhamos. Como é possível? É possível porque os republicanos permitem que um homúnculo enfeudado a Trump controle um Congresso timidamente maioritário sujeito às manobras viciadas de um gang de 5 vendidos e mais meia dúzia de outros à venda com preço marcado e negociável. É assim.
Ficamos assim? Veremos, há quem jure que não, mesmo dentro do caído em desgraça partido republicano. Mais abaixo transcrevo um importantíssimo testemunho do congressista republicano BRIAN FITZPATRICK
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Ontem há noite, já pela madrugada, fui motivada a vencer o sono que já me vencia: ouvi a voz de um dos mestres e abri um olho, depois os dois e depois sentei-me prestando toda a atenção; Quando Carl Bernstein e/ou Bob Woodward, os históricos jornalistas do Washington Post que despoletaram o "Caso Watergate", falam eu oiço, sempre, são dois Mestres da divulgação da verdade e do pensamento coerente e corajoso. Ontem Carl Bernstein foi brevemente entrevistado, falou da sua correspondência com Navalny mas sobretudo não poupou na indignação e classificação do comportamento do Partido Republicano face à desesperada situação da Ucrânia
Transcrevo, traduzida, a maior parte da entrevista que pode ser lida no original e na integra AQUI
KAITlAN COLLINS, da CNN: Quero passar agora ao lendário jornalista Carl Bernstein, que também trocou mensagens com Alexei Navalny, autor de muitos livros, mas este de que estamos a falar esta noite, "Todos os Homens do Presidente", que Navalny leu enquanto esteve na prisão russa.
E, Carl, antes de chegarmos à sua correspondência com Navalny, que me fascina, gostaria apenas de perguntar, dada a sua cobertura dos presidentes dos EUA, e olhando para eles, a partir desta perspetiva histórica, o que acha de ver o Presidente Biden abraçar Yulia e Dasha, e prometer estas sanções, que veremos quão eficazes são, mas tomando essa posição?
CARL BERNSTEIN, JORNALISTA E AUTOR: Qualquer presidente, na nossa história, teria feito o que Biden fez, excepto Donald Trump. Donald Trump tem apoiado, a cada passo, Vladimir Putin.
Vamos falar sobre quem é Putin. Ele é o mais brutal, o mais consequente e,
na verdade, a grande figura, em termos de acabar com a democracia, e tentar acabar com a democracia na Europa. É disso que se trata. E só Donald Trump, nenhum outro presidente americano faria o que ele fez.Mas acho que o que é tão significativo sobre essa horrível, horrível cadeia de acontecimentos e história, também é sobre os Estados Unidos.
Tem a ver com a liderança americana e a falta de liderança em reconhecer Vladimir Putin como a ameaça, o déspota e o tirano que ele é, o tirano mais importante da Europa desde Hitler e Estaline. Ele iniciou uma guerra terrestre na Europa, a primeira desde a Segunda Guerra Mundial.
E um dos nossos dois partidos políticos, o Partido Republicano, permitiu,
continua a jogar com ele, ajudou as forças russas na Ucrânia, fazendo faltar munições e outras munições, e agora temos um partido político americano que está a ajudar, a auxiliar Vladimir Putin, nos seus desígnios europeus, e a tentar.Ele desestabilizou a Europa, através da subversão, da interferência nas eleições. E não sabemos onde é que isso vai parar. Mas sabemos que ele também destruiu a aliança da América e da Europa Ocidental, em termos de sermos o líder do Mundo Livre.
Veja-se o que aconteceu na Guerra Fria. Olhem para os Estados Unidos, na
Guerra Fria. Qual foi a grande força, a mais ruidosa de todas contra a agressão russa? O Partido Republicano. E agora, onde está o Partido Republicano? Estão a permitir o que Putin está a fazer na Europa. E este terrível acontecimento tem a ver com essa ligação. E Putin sabe-o.Mas a grande questão, nestas eleições, em muitos aspectos, deveria ser encontrar outro candidato republicano, que saiba o que fazer em relação à segurança do Ocidente, à segurança da Europa e à aliança entre os europeus e os Estados Unidos.
Mas a ideia de um partido que foi capturado por forças que apoiam Vladimir
Putin? Pensem no que isso significa. E estamos a falar sobre isso aqui no ar, esta noite. Essa é a história subjacente.BERNSTEIN: E precisamos de começar a olhar para este acontecimento importante, o assassinato e a morte de Navalny, como algo que diz respeito aos Estados Unidos, ao nosso sistema político, e não apenas ao corajoso Alexei Navalny.
COLLINS: Obrigado, Carl.
BERNSTEIN: E Bob Woodward, obviamente, é o outro signatário disto.
COLLINS: Sim.
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Posto isto e voltando um pouco atrás, acima refiro o testemunho do congressista republicano BRIAN FITZPATRICK. Não sendo palavras que ofereçam qualquer garantia ou grandes esperanças, muito menos quando o Congresso se encontra suspenso por meio mês, são no entanto uma evidência de que nem todos os congressistas republicanos venderam a alma ao diabo. Transcrevo:
BRIAN FITZPATRICK: Falo em nome de muitos dos meus colegas, de ambos os partidos.
O Presidente Zelenskyy é um ser humano extraordinário, como sabem. Foi um exemplo, para tantos líderes diferentes, em todo o mundo, de um símbolo de coragem, disposto a morrer pelo seu país .Eu vivia em Kiev. Foi a minha última missão como agente do FBI, muito, muito próximo das pessoas. Por essa razão, sou o presidente da bancada da Ucrânia. E este é um momento brutalmente difícil para um país que eu amo, que muitos de nós amamos, que está a lutar contra a tirania e a opressão.
Estamos a viver uma disfunção no Congresso, neste momento. Gostava que o Congresso não estivesse a andar tão devagar. Mas estamos a chegar a um ponto em que a Ucrânia tem semanas, não meses, para ser reabastecida com munições que só nós lhe podemos fornecer. Os nossos aliados europeus estão a ajudar, mas há certas coisas, sobretudo artilharia, que só nós lhes podemos dar.
CNN's KAITlAN COLLINS:Recebeu alguma garantia do Presidente da Câmara, Mike Johnson, sobre o projeto de lei que apresentou? Ele garantiu-lhe que o ia levar a votação?
FITZPATRICK: Nenhuma garantia, Kaitlan, para além de - para além de lhe dizer que temos uma maioria muito, muito apertada, neste momento. E não estou sozinho. Pode ver a intensidade na minha voz, na minha determinação, vamos encontrar uma maneira de fazer isto. A Ucrânia não falhará sob o nosso controlo.
Há demasiado em jogo aqui. Não se trata apenas da Ucrânia. Trata-se de liberdade, contra ditaduras. Trata-se da verdade contra a propaganda. Trata-se de uma luta existencial. E já vimos esta luta a desenrolar-se ao longo da história. Estes ditadores estão a tentar re-litigar o resultado da Segunda Guerra Mundial. Pensámos que estas imagens estavam permanentemente relegadas para os livros de história. Agora estão a ser reproduzidas em tempo real.
Por isso, chegou a altura de os líderes de ambos os partidos, e todos os membros de ambos os partidos, no Congresso, darem um passo em frente e fazerem o trabalho. E isso vai exigir, Kaitlan, que toda a gente venha para o centro. Porque há muitas maneiras diferentes de enquadrar este pacote.
Mas o mais importante é que consigamos fazer sair o dinheiro, especialmente as armas. A ajuda humanitária também é extremamente importante. Não me interpretem mal. Mas as armas são sensíveis ao tempo, neste momento. Avdiivka caiu por causa da falta de artilharia.
COLLINS: Parece-me que tem determinação, devo dizer. Mas também ouvimos outros republicanos, que têm determinação, mas de uma perspetiva diferente, pessoas como Marjorie Taylor Greene, que dizem que a ajuda à Ucrânia não vai ser votada no plenário.Se o Presidente da Câmara não a apresentar, vai juntar-se aos Democratas para forçar a votação do seu projecto de lei?
FITZPATRICK: Encontraremos uma forma de o levar a votação. Registe as minhas palavras.
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Tudo isto é insustentável moralmente, é inacreditável e, no entanto, está a acontecer diante dos nossos olhos, diante da nossa impotência imposta ilegitimamente por meia-dúzia de usurpadores sem ética, vergonha ou consciência histórica, em última análise por um tarado megalómano e egocêntrico que não se detém perante seja o que for para conquistar o poder que lhe permitirá furtar-se às consequências dos seus crimes de lesa-nação.
É este criminoso, com pretenções a ditador ao serviço de Putin, que o GOP se prepara para apresentar como o seu candidato à presidência dos States. Como chegaram aqui? Great! Again!
Foi devido à falta de visão europeia que Hitler conseguiu avançar; também a América acordou tarde, despertada por Churchill. As lições são óbvias e ignorância é revoltante. Revoltante.