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QUANDO O "DIA DO PAI" JÁ NÃO É

O Dia do Pai já não é,  já não faço cinzeiros de barro na escola nem desenhos a lápis de cor em que o pinto de chapéu, de mão dada comigo

Já não viajo no banco de trás do carro em silêncio pedindo quase sempre para ouvir a mesma cassete gravada em casa com excertos das peças clássicas de que eu mais gostava

Já não percorro as montras das lojas mais variadas em busca de um desejo manifestado, de uma novidade cativante, de um livro que seria protagonista de uma conversa para horas

Já não procuro um restaurante onde as conversas alheias chegam apenas num murmúrio, os empregados não têm pressa de nos servir o café e de onde saímos a pensar quando voltaremos

Quando chego a casa com o Sol a dar ares do seu despertar já não percorro o longo corredor sem acender a luz, sustendo a respiração,  e enfaixando-me sem apelo nem agravo no aquecedor a gás que "alguém" mudou estrategicamente de lugar

Já não preciso consultar três livros em vez do manual de história ou de filosofia para não ser trucidada na sala de aula por aquele professor com quem vivia desde que nasci (como me fez falta a Internet...)

Já não tenho trocas de tiradas em são-micaelense cerrado, falado à velocidade da luz,  para poder trocar disparates e apreciações mordazes no meio de uma qualquer reunião social entediante

Já não fico a falar do filme que passou na TV, ou que vi no cinema, diante um bule de chá ou um copo de whisky trocando interpretações, observações, perspectivas, criando outros olhares 

Já não chego a casa cheia de novidades, aguardadas com avidez, sobre o congresso partidário ou a ceia depois do comício e o que disse este e respondeu o outro que te manda muitos cumprimentos

Já não... Já não... Já não

Agora tenho fotografias, tenho cartas que sei de cor, tenho conversas que me vêm à memória no momento certo, tenho segredos, tenho histórias vividas e confessadas que conto ao meu filho, tenho uma herança cultural, ética, filosófica
mas Dia do Pai já não tenho 


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