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A ALIANÇA MILITAR E O GAMBITO POLÍTICO

Nas vésperas do início da reunião dos ministros dos Negócios Estrangeiros dos Estados da Nato, com a presença do MEE da Ucrânia e do rei da Jordânia, tendo na agenda "O Dialogo Mediterrânico" e "As Relações com a Ucrânia", o futuro presidente dos EUA apresentou o seu "Plano para a Paz na Ucrânia" no que se assemelha muitíssimo com uma estratégia para desmontar tudo o que for decidido entre os dias 3 e 4 correntes nesta última reunião da Defesa da NATO, antes da sua tomada de posse a 20 de Janeiro 


Escreve Trump na sua rede social "Truth Social":

“Tenho o prazer de nomear o general Keith Kellogg para o cargo de assistente do presidente e enviado especial para a Ucrânia e a Rússia”

 “Juntos, vamos garantir a PAZ ATRAVÉS DA FORÇA e tornar a América e o Mundo NOVAMENTE SEGUROS!”

Segundo Kellogg,  "Biden substituiu a abordagem de Trump por uma abordagem liberal inter-nacionalista que promovia os valores ocidentais, os direitos humanos e a democracia. Esta é uma base bastante sombria a partir da qual se pode construir um compromisso sobre a segurança europeia. O Ocidente dá prioridade aos valores do seu próprio modo de vida e segurança. A guerra da Ucrânia está relacionada com valores que não precisamos de perpetuar e  devemos afastar-nos da ameaça nuclear de Putin.

Mais:  "A produção de armamento do Ocidente não consegue acompanhar o ritmo e os seus valores são um desperdício."

(ocorrem-me vários impropérios)

Kellogg diz que a administração Biden alienou a Rússia ao prosseguir uma política “hostil”, que não só resultou na invasão da Ucrânia pela Rússia, como também aproximou Moscovo da China, criando um novo eixo de poder que envolve a Rússia, a China, o Irão e a Coreia do Norte. 

Refere que "a decisão de Trump ao dar a primeira ajuda letal à Ucrânia transmitiu a força necessária para enfrentar Putin, e a abordagem suave de Trump ao chefe do Kremlin - não o demonizando como Biden fez - permitirá que ele chegue a um acordo". E afirma ainda que "deveriam ter sido fornecidas mais armas antes da invasão russa, e imediatamente depois, para permitir que a Ucrânia vencesse".

Obviamente que  Kellogg não leu a transcrição do telefonema entre Trump e Zelensky em 25 de Julho de 2019; Primeiro - Trump não "deu", vendeu; Segundo - A "grande ajuda" tinha uma condição: "Gostaria porém que nos fizesse um favor...", ou seja: Vendemos-te os Jevelins se nos arranjares umas papeladas do teu ministério da Justiça que provem que o Biden é corrupto.

O "Plano de Paz através da força " não explica muito sobre como conseguir o que propõe mas propõe em linhas muito gerais:
  • A adesão da Ucrânia à NATO deve ser suspensa indefinidamente, “em troca de um acordo de paz abrangente e verificável com garantias de segurança”.
  • Se a Ucrânia se recusar a negociar, os EUA deixarão de prestar ajuda militar. Por outro lado, o apoio americano à Ucrânia só aumentaria se a Rússia recusasse as negociações. 
  • As linhas da frente devem ser congeladas por um cessar-fogo sendo imposta uma zona desmilitarizada. 
  • Por concordar com o cessar-fogo, a Rússia obteria um alívio limitado das sanções, e um alívio total quando assinado um acordo de paz do agrado da Ucrânia. 
  • Uma taxa sobre as exportações de energia russas pagaria a reconstrução da Ucrânia. 
  • Não seria pedido à Ucrânia que desistisse de recuperar o território ocupado, mas teria de fazê-lo apenas através da diplomacia. 
  • A futura ajuda dos EUA será provavelmente concedida sob a forma de empréstimo e será condicionada pela negociação da Ucrânia com a Rússia,
Gostaria que Kellogg, ou Trump, especificassem qual foi a primeira, ou a última, vez que Putin respeitou um cessar-fogo; na verdade, quando é que Putin respeitou qualquer acordo que tenha assinado a partir do momento em que se lhe tenha tornado inconveniente
E  Kellogg reconhece: "Isto exigiria um futuro avanço diplomático que provavelmente não ocorrerá antes de Putin deixar o cargo". Ok, então estamos a falar de quê e para quê?

Em momento algum refere o que Moscovo exigirá e ignora totalmente todas as vezes que utilizou o processo diplomático no passado para perseguir avanços militares. O congelamento das linhas da frente precipitará a violência dos ataques russos, na verdade isso já está a acontecerpois Moscovo procura conquistar o máximo de terreno possível antes de ser confrontado com uma negociação. O Kremlin sempre ignorou os cessar-fogo e perseguiu os seus objectivos territoriais negando-o sem rodeios ou engulhos. Já agora é de referir en passant os previsíveis desacordos no seio da UE durante as eventuais negociações do cessar-fogo e do estabelecimento e manutenção de uma "zona desmilitarizada", que quão mais prolongado e controverso mais agradará e servirá a Putin - tudo o que sirva para dividir o Ocidente é bem vindo. Por alguma razão, há menos de uma semana, na cimeira da CSTO - a aliança militar liderada pela Rússia -  Putin elogiou Trump, descrevendo-o como um político "inteligente e experiente capaz de abordar o conflito". Temos homem!


Até 20 de Janeiro há muito mais a fazer do que pensar nas ideias de Trump, Kellogg e do resto da seita sem esquecer o futuro vice-presidente JD Vance, que tem defendido que os recursos dos EUA se devem concentrar na luta contra a China e não no apoio à Ucrânia. E sobre "recursos" opina Musk, o amigo e companheiro de negócios de Putin, que segura Vance pela trela


A presença do rei da Jordânia na NATO tem que se lhe diga... 
O regresso dos "Rebeldes" à guerrilha Síria, neste momento em que Rússia e Irão têm as mãos - leia-se armas e mercenários - ocupadas à exaustão é assunto a ter em conta por todas as partes. Pergunto eu porque sou curiosa: por quem e onde está a ser feito o treino nos "novos rebeldes" sírios? E de onde lhes chegam as ferramentas? Quem as faz, quem as paga, quem as distribui?

O que foi Keir Starmer conversar com Macron a Paris na primeira quinzena de Novembro, 5 dias após a vitória de Trump? 
E a Alemanha? A Alemanha, por agora, entra nas contas mas não na revisão de contas, irá a votos  a 23 de Fevereiro e uma mudança para um governo titulado pelos democratas-cristãos é o cenário mais provável. Olaf Scholz  deu sempre o seu apoio à Ucrânia mas mostrou-se sempre muito cauteloso, talvez demais no entender dos britânicos e dos franceses. Haverá por certo um novo baralho no jogo e redistribuição de cartas
A NATO? A Nato terá de se salvaguardar de Trump, já o fez uma vez e sabe bem com o que conta, e com o que não pode contar. Uma coisa é certa, nada se tornará mais fácil.