Diz Rodrigo Moita de Deus no seu blog 31 da Armada:
a greve dos transportes explicada
Gente com emprego recusa transportar gente que quer trabalhar.
Posto de forma simples, ainda que com o seu quê de provocatória, é exactamente assim.
Não trago qualquer novidade ao dizer que esta greve de transportes nada tem a ver com a tradicional forma de luta na defesa de interesses de determinada classe de trabalhadores; é uma greve política, chapadamente política e ponto.
Eficaz? Hum... tão eficaz não quanto a adesão por parte do sector grevista mas quanto o número de pessoas que consegue afectar. Obviamente que o sector dos transportes é um dos sectores chave - quanto mais pessoas deixarem de trabalhar porque não terem transporte, ou, pelo menos, chegarem substancialmente atrasadas, maior o êxito da greve. "Gente com emprego recusa transportar gente que quer trabalhar", pois é... Destabilização social e política, pura e simples.
Daqui por quatro dias, a 12 de Novembro, soma e segue a manif. da Função Pública, a 24 continua o baile com uma greve geral marcada pelas duas centrais sindicais. Um fervor revolucionário em crescendo, uma técnica mais antiga do que o ... Ai credo, ia-me saindo um impropério.
De um modo geral é para o lado que durmo melhor; sou uma acérrima defensora do direito à manifestação, da liberdade de expressão e pelo direito à greve por motivos laborais. Porém a questão não é essa.
A questão é que o nosso país está de tanga, tanga rota e puídinha.
É bom, não, é fundamental, essencial, imprescindível, que consigamos manter o cumprimento dos nossos compromissos económicos dentro da U.E. e todos sabemos perfeitamente porquê, bater nessa tecla é repetitivo e não faz música.
Há dias, quando Papandreou se lembrou de querer um referendo na Grécia, fazendo tremer toda a economia da União Europeia, fê-lo em vésperas de entrar mais um "balão de oxigénio" sob a forma de euros naquela "caverna de Platão" mergulhada sob águas turvas. Tivesse esse "balão de oxigénio" sido suspenso e, este mesmo mês de Novembro, a Grécia asfixiaria sem hipótese de pagar salários e serviços, para já não falar de bens.
Voltando à vaca fria, gelada.
O problema não é a destabilização social, não são as greves puramente políticas, por essas já passamos várias vezes. O problema é que não nos podemos dar ao luxo de não trabalhar, de não produzir, de parar. Não podemos, mesmo.
Se a situação económica de Portugal tem saída?
Claro que sim, se não nos empenharmos em lixar o esquema a bem da contestação política, a bem do "exercício dos direitos dos trabalhadores". Os trabalhadores somos todos nós que trabalhamos, produzimos, pagamos impostos e, neste momento mais do que em tempos corriqueiros, o exercício dos nossos direitos fundamentais passa pelo direito a criarmos condições para voltarmos a ter uma vida com menos sacrifícios, uma vida melhor com um nível de qualidade mais elevado. Não é uma crença, não é uma fé política, não é sequer uma esperança exacerbada. Já passamos por maluqueiras semelhantes anteriormente e demos a volta; e é possível dar a volta, sem ser em sonhos, basta fazer contas, estabelecer metas, planificar e gerir. Pois, mas temos de produzir, de trabalhar, de meter na cabeça que o bem e o futuro de todos nós está em jogo agora; não é altura para fervores que sacrificam a causa comum na "luta" pela causa partidária. É absurdo!
Felizmente há quem entenda isto.
O Metro parou em Lisboa, no Porto não foi assim (se calhar são os trabalhadores do Metro do Porto que são fascistas reaccionários - ah, talvez não tanto, apenas se deixaram manipular)
Olhem lá:
“Claro que todos temos direitos mas, tanto quanto direitos, temos obrigações, deveres, lucidez e bom senso. E é por isso que não fazemos greve: por termos a obrigação de manter uma empresa racional e equilibrada e o dever de, todos os dias, garantir a mobilidade de milhares e milhares de pessoas”, lê-se num comunicado enviado aos jornalistas.A notícia está AQUI
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“E partilhamos a opinião de que o sector muito teria a lucrar se adoptasse, o mais rapidamente possível, um modelo operacional semelhante ao do Metro do Porto. Sobretudo, o Estado e os contribuintes seriam poupados a pagar uma conta manifestamente desajustada ao benefício gerado”, frisam os subscritores do documento.
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2 comentários:
O bom senso nunca irá existir e, entretanto, quem se trama é quem não tem alternativa de transporte. Sinceramente, não sei se não se deveria suspender, durante um determinado período e para determinados sectores, o direito à greve. Eventualmente pode ser perigoso, mas...
As suspensões são terrivelmente perigosas; uma vez que se legitime uma abre-se a porta a legitimar todas as outras, ao abrigo de todos os argumentos. Terá de reinar o bom senso e, se não existir terá de se inventar. A imaginação é uma super-potencia, veja o império que virou a Disney...
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