::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::

Ó OTELO, APROVEITA ENQUANTO HÁ CHOURIÇOS

Um dos poucos argumentos que Sócrates apresentou com razão foi que o seu governo era legítimo: resultou de um acto eleitoral no qual o PS venceu as eleições, sem maioria parlamentar, o que se reflecte no apoio da Assembleia, mas venceu. Tudo o resto são considerações, análises opiniões mas o facto era inegável.

O presente governo tomou posse em Junho; sendo um governo de coligação é um governo maioritário, e legítimo. Tomou conta de um país com as cuecas rotas na mão, as quais nem se sabia bem até que ponto estavam rotas, desconhecia-se se ainda tinham um elástico que as mantivesse no sítio...

O presente governo pegou num país já com a troika "cá dentro", a tal "troika jamais" porque não havia «derrapagem orçamental» e estava «tudo controlado», os buracos tapadinhos com papel de embrulho para não se ver o fundo porque o fundo do buraco já nem dava para ver.
E quando se desembrulhou o buraco... embrulhados numa grande embrulhada estávamos nós todos.

A tal "troika jamais" já deveria ter entrado antes, já deveria ter havido um Basta! muito antes, já se deveria ter posto rédea na "besta" muitíssimo antes.

E agora? Agora estamos a viver dentro dos curtos limites que nos restaram. Estamos a viver muitíssimo limitados; pois é, pois estamos. Agora pagamos a factura de tanto crédito, de crédito mal parado; nunca parado por acção de gestão económica e financeira - parado apenas pelo embate num fundo de rede que antecedia a banca-rota.

Agora chegamos a isto e precisamos de um esforço hercúleo, vemo-nos em situações desesperantes e maioritariamente injustas. Preço elevado este que pagamos por um BASTA excessivamente tardio

Ou seja: deixamos que fossem ultrapassados todos os limites.


De repente aparece o herói do cavalo branco, o major que queria mandar os fascistas para o Campo Pequeno para serem fuzilados, e diz, como se alguém o tivesse mandatado para falar em nome do povo:

«Ultrapassados os limites deve ser feita uma operação militar e derrubado o governo»

Que grande democrata me saiu este general de aviário, sim senhor!

Bem... Ele também diz que não é para já... Talvez lá mais para Abril, digo eu, talvez dia 24... dois feriaditos seguidos até que vinha a calhar.

Ó Otelo... pergunto-me porque só agora te deste conta de que a coisa está preta, porque só agora te deu para botar faladura.
Ó Otelo... com tanto bom copo para beber na boa companhia de antigos camaradas de armas e desarmas... Deixa-te de merdas, as melhores revoluções fazem-se à mesa depois de um bom cozido à portuguesa; Ó Otelo... aproveita enquanto ainda há chouriços.




Eu fico-me por aqui; mais houve que dissesse e já não é de agora. O texto abaixo foi publicado no blog Arrastão e no Expresso on-line a 20 de Abril de 2011. Poderia chamar-se "Ó Otelo, vê se te enxergas"...
Não concordo com tudo o que diz, também não é preciso e talvez nem fosse tão salutar. Ah, mas concordo com tudo o que diz a propósito de Ótelo; é bom saber que não estou só.


Se soubéssemos o que sabemos hoje, Otelo!
por Daniel Oliveira

Otelo Saraiva de Carvalho presenteou-nos com mais uma das suas frases de efeito: se soubesse o que sabe hoje não teria feito o 25 de Abril.


Três coisas rápidas:

A primeira: o 25 de Abril não foi uma prenda de Otelo aos portugueses. Foi obra de muitos outros militares. E foi obra dos portugueses. A democracia não nasceu num dia. Foi construída. E foi construida e defendida por nós. Se ele não tivesse comandado as forças revolucionárias outros o fariam no lugar dele.

A segunda: isto não acabou assim. No meio, erguemos um serviço nacional de saúde que, com todos os seus defeitos, até está entre os melhores do mundo; alfabetizámos, construísmo a escola pública, democratizamos o ensino superior; garantimos uma segurança social universal; acabámos com a censura; deixámos de ter presos políticos; abrimos Portugal ao Mundo; e, para o mal ou para o bem, defendemos sempre a nossa democracia, com liberdade e pluralismo. Se Otelo faz um balanço negativo, ele lá saberá o que esperava da revolução.

A terceira: não me parece que se a revolução não tivesse acontecido estariamos melhor neste momento. Que tenha de haver gente a explicar isto a Otelo Saraiva de Carvalho só demonstra que o que lhe sobrou em coragem sempre lhe faltou em inteligência política, como se foi notando pelo seu percurso tão repleto de asneiras.

A ser verdade este súbito sentimento de Otelo, talvez seja altura de abandonar a parcimónia com que nos dirigimos a ele e dizermos de uma vez por todas o que muitos de nós sentimos demasiadas vezes: se soubéssemos que Otelo seria o que foi depois da revolução também teríamos preferido que tivesse sido outro a comandar as operações no dia 25 de Abril de 1974. Não precisávamos de ir longe. Bastava procurar entre alguns dos militares que o acompanharam naquele dia. De Salgueiro Maia a Melo Antunes, nunca faltou quem provasse ter muito mais sabedoria com muito menos fanfarronice

Publicado no Expresso Online



.

Sem comentários: