A 12 de Novembro,
faz hoje 20 anos,
270 mortos, outros tantos feridos
e cerca de 270 desaparecidos.
São acontecimentos destes que fazem a vergonha da humanidade.
Foi um dia de vergonha, de dor, de luto, de injustiça cruel e, posteriormente, quando as imagens de um massacre chegaram às televisões do mundo, foram momentos de incredulidade e espanto.
Momentos...
Poucos anos depois a vida fez-me encontrar e relacionar-me diariamente, durante anos, com uma jovem timorense, familiar próxima de D. Ximenes Belo, a L. Ximenes. Tinha uma boa vida em Timor, em família, em conforto bem acima da média, na paz possível. Perdeu tudo isto porque a sua família se recusou a colaborar com os indonésios; os pormenores não são, agora, importantes, foi assim.
Eu tive oportunidade de a conhecer, e de com ela privar, porque a vida dela por lá, em Timor se tornou "complicada". Perigosa? Não sei, nunca mo disse. Veio viver para Portugal e por alguma razão assim foi. Era ainda uma menina, crescida no corpo, inocente na alma, sofrida já na vida.
Nos profundos e escuros olhos desta rapariga, só aparentemente frágil, nunca vi raiva, muito menos ódio. Vi tristeza e saudade, vi muita coisa calada e que talvez mais valera fosse esquecida. Vi quase sempre aqueles olhos a sorrir para as pessoas, educadíssima e prestável, solidária. Vi sempre doçura; nunca lhe ouvi uma palavra amarga embora me fosse evidente a amargura que lhe amassara o coração; Vi a herança de um povo que não alimenta em si a violência e a agressão. Vi a aceitação mansa da vida e um conhecimento íntimo de até onde a injustiça pode chegar. E vi esperança e uma imensa capacidade de amar.
Nunca se desaculturou: estudou por cá, licenciou-se, trabalhou, anos depois foi viver para Inglaterra, foi mãe ... ainda hoje na sua página do "facebook" encontramos o seu coração timorense - frequentemente escreve e comunica-se na sua língua natal.
Pode tirar-se a menina de Timor mas não Timor da menina.
Um abraço longo e apertado para ti, L.X., especialmente hoje.
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