Pronto, está bem, a gente habitua-se a tudo e também já me habituei a este: quando abre a boca ou entra mosca ou sai asneira. Só ainda não tenho a certeza de o que acontece com mais frequência: se entrar a intrépida mosca - a avaliar pelo elevado número de bocejos que o homem evidência, muitíssimo contagiosos, diga-se de passagem - se sair a irreprimível asneirola.
Sempre que o Mário Soares bota faladura lembro-me do Rei de Espanha e, convém distinguir porque ambas as possibilidade seriam plausíveis, não é por causa das trombas dos elefantes, é devido àquela apropriadíssima tirada histórica: «Por que no te callas?»
Bastou o Monsieur Hollande, personagem de banda desenhada não menos inverosímil do que o Monsieur Sarkozy, ter ganho as eleições em França por uns estrondosos 3,2%, para que uma parte mais entusiasta das linhas do nosso PS desatasse aos pulos evocando «A vitória da alternativa à austeridade»
Francamente não estou a ver o filme, será que estes tipos acreditam mesmo no que estão a dizer? Não creio, não são assim tão estúpidos, não lhes concedo a benesse de acreditar nesta falta de entendimento da realidade.
Inevitavelmente a França tem vindo, a pequenos passos, a resvalar para dentro das linhas da crise económica europeia. Monsieur Sarkozy pode ser chanfrado mas, obviamente, não entrou em política de austeridade para chatear o "François-Peuple" (primo gaulês do luso Zé.Povo). É uma chatice mas é verdade, a Europa, mais a sul de que o resto, está economicamente debaixo de água, mais ou menos profundamente, e à tona reina o fogo, nem os "Very-British" escapam a esta dura realidade.
De repente aparece um Monsieur Hollande montado no seu cavalo branco empunhando a rubra rosa e pronto, acabou-se a política de austeridade. Mas isto é credível? Será que ainda há quem brinque a sério à Independência Nacional, pelo menos no que concerne à economia europeia?
Na segunda-feira de manhã, no rescaldo das eleições francesas, acordei ao som de umas felizes almas que festejavam na praça da Bastilha a sua vitória eleitoral. Até aqui tudo bem. Mas diziam as felizes almas: «Estamos livres, a França está livre! Acabou a austeridade!». Ó céus, pensei eu, mas que grande trambulhão estas almas vão dar das suas ilusões abaixo. Pelo menos nisto, nós portugueses, já vamos lá muito à frente.
Agora aparece o Mário e sai-se com esta:
«Partido Socialista já não está obrigado a respeitar o acordo da troika; essa obrigação já não é necessária porque François Hollande vai provocar mudanças na Europa.»
Pois, pois vai, vai cunhar moeda falsa e vende-la aos chineses... Só se for assim...
Tive um arrepio, veio-me logo à mente o nosso José a dizer que as dívidas não são para pagar, são para gerir. Que gente...
O Soares é fixe:
- meteram-nos dinheiro nas unhas para sobrevivermos;
- fizemos um acordo que se não for cumprido compromete (leia-se acaba com o resto) a nossa credibilidade, e viabilidade, económicas;
- estamos a fazer um esforço quase impossível para manter os nossos compromissos e regressar aos mercados de cabeça erguida;
- e agora vem este e diz que já não vale porque o outro ganhou as eleições algures e a malta pode borrifar-se no assunto porque mudou tudo.
Não haverá por aí alguém capaz de se responsabilizar por lhe dar as gotas a horas?
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