Eu sei que há quem não me perdoe mas, por muitos adjectivos pejorativos que me possam aplicar, EU GOSTO DO VíTOR GASPAR. Pronto.
Não "gosto" dele por questões partidárias, estou-me completamente borrifando para os partidos, embora nunca deixe de votar: há uns que nunca deixam de votar e a abstenção é a mãe das falsas maiorias. Também não gosto dele para o convidar para tomar café ou coisa decorrente. Não é por aí.
Gosto dele porque acredito nas suas capacidades, no seu trabalho, na sua despreocupação popularista, na sua forma explicita tranquila de expor as questões, enfim, na sua competência descomplexada e arejada.
(Nesta altura já há uma boa percentagem de leitores a insultar-me e a passar para outro blog mais esclarecido)
Há tempos o nosso 1º disse que temos de nos deixar de pieguices - o que é tão verdade quanto anti-eleitoralista. Caiu o Carmo e a Trindade, aqui d'El Rei que o gajo chamou piegas ao povo! Uma gaita, só não percebeu quem não quis (ou não percebe além do B-A BÁ). Quando um país está "de gatas" tem arregaçar as mangas e levantar-se, não vale a pena militar na berraria de que a vida está dura, já todos sabemos, e sentimos. Há que plantar a bananeira, berrar por bananas não mata a fome nem dá sombra.
E, perguntarão, o que é que lhe deu para agora de repente vir com este relambório todo como se alguém quisesse apedrejar o Vítor Gaspar mais do que é quotidianamente habitual?
Acabei de ler um pequeno, e claro, artigo do analista económico Camilo Lourenço, com quem muitas vezes concordo e outras quantas nem por isso - não das suas análises económicas, não tenho conhecimentos para tanto, mas das suas abordagens politico-sociais - e vejo escarrapachado exactamente aquilo que penso. (Deixo o artigo, na integra, aí abaixo)
Vivemos durante décadas acima do que podemos, leia-se, do que produzimos, andamos a curtir com empréstimos a fundo perdido sem com isto criarmos meios, investimentos, rentáveis, temos um aparelho de Estado sustentado no insustentável e, ao batermos no fundo, leia-se, chegados ao dia em que foi impossível esconder que não havia com que pagar ao Zé-povo no mês seguinte, lá pedimos o tal resgate que "nunca seria pedido porque não havia derrapagem económica".
E agora? Agora, apenas um ano e dois meses depois da tomada de posse do governo, anda tudo a apertar o cinto - o que, por mais que nos doa, era fundamental, os nossos hábitos de "poço sem fundo" têm de ser alterados - muitas pme's fecharam, muitas outras lançaram-se na exportação e conseguiram novos mercados, o aparelho de Estado tem vindo a levar um enorme esticão; só as mentalidades não se conseguem mudar em tempo recorde, o resto, por muito, muitíssimo, que falte, tem vindo a ser feito, em tempo recorde.
Há quem não sinta o ar fresco nas narinas que vem do fundo do túnel, há até quem não o queira sentir.
Eu sinto-o e acredito sinceramente que ali adiante, após mais algumas curvas e contracurvas, se encontra a saída. Podemos atrasar o passo por cansaço, por descrédito, por raiva; ou podemos manter a marcha, por dura que seja e progredir em direcção a uma outra vida.
É como fazer uma dolorosa fisioterapia após um desastre grave. Não adianta ter pena de nós próprios, ninguém o pode fazer por nós, depende de nós, sem lamúrias.
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Somos uns calimeros
Camilo Lourenço ( camilolourenco@gmail.com )
22 Agosto 2012
«Em 19 de Janeiro deste ano os juros da dívida a 10 anos estavam em 14,67%; ontem caíram para 9,18%. Em 19 de Janeiro os juros a cinco anos estavam em 18,46%; ontem caíram para 7,83%. Em 19 de Janeiro deste ano os juros da dívida a 10 anos estavam em 14,67%; ontem caíram para 9,18%. Em 19 de Janeiro os juros a cinco anos estavam em 18,46%; ontem caíram para 7,83%. Já no prazo a dois anos os juros estavam em 16,6% e ontem desceram para 4,76%. De referir que a comparação peca por defeito: o valor mais elevado ocorreu no final de Janeiro (os juros a cinco anos chegaram a encostar nos 21%)…
Nos prazos de dois e cinco anos os juros até já estão abaixo dos valores de antes do pedido de ajuda externa. A descida é tanto mais notável porque ela se mantém apesar da queda do PIB (3,3% em termos homólogos) no segundo trimestre de 2012 e da turbulência em Espanha, para onde vão 24% das nossas exportações.
Explicações para este comportamento há-as para todos os gostos: eventual intervenção do BCE; abertura a cedências no programa da Grécia; descida dos juros espanhóis e italianos… Há outra explicação, com mais peso: o trabalho desenvolvido por Vítor Gaspar no controlo das Finanças Públicas, que os investidores estão finalmente a reconhecer (a tendência de descida vem de Fevereiro…).
Confesso que não entendo como é possível ignorarmos (analistas, políticos, opinion makers, etc) uma vitória como esta. Sim, porque é uma vitória (alguns cépticos até já dizem que é provável o regresso aos mercados em 2013…). Há muita coisa por fazer (estimular o investimento, reduzir o desemprego, aumentar a produtividade, voltar a crescer)? Sem dúvida. Mas para um país pequeno, que não gera capital suficiente para se desenvolver, convencer os investidores (em tão pouco tempo) que lhe podem voltar a emprestar dinheiro, é obra. Repito: é obra. Convinha que valorizássemos isso.»
In "Negócios on line"
2 comentários:
Decididamente, 6ª feira passada algo mudou...
Não podia concordar mais com «ambos»!
Estamos a pagar uma factura, que embora desnecessária e não criada por todos... terá que ser liquidada. Louvo no nosso ministro das Finanças pelo seu empenho!
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