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QUAL SERÁ A TUA IDADE?

Há pouco mais de um par de meses deixei aqui um texto , do escritor colombiano Santiago Gamboa, sobre as mulheres com mais de quarenta e poucos anos que achei pleno de  simplicidade realista e bem observada. Escrevi uma pequena introdução tocando o elevado preço do envelhecimento; dizia eu:  

Um homem nunca entenderá como é duro para uma mulher envelhecer; é o elevadíssimo preço que se paga por uma vida mais longa, mas o que obtemos por esse elevadíssimo preço é de facto qualidade. Poucas mulheres honestamente trocariam o que a maturidade lhes vendeu pelo aspecto que tinham aos vinte ou aos trinta anos.

Esta tarde recebi um SMS telefónico enviado por um longínquo amigo de há muitos anos, mais de vinte, quase trinta, com uma citação de Confúcio, só e apenas, sem mais.
Não estranhei, vindo de quem vem... Aliado à vertiginosa aproximação do meu aniversário natalício.

Disse assim Confúcio:
«Qual seria a tua idade se não soubesses quantos anos tens?»
Deixou-me a pensar... Mas foi mais do que isso.
Todos, ou quase, conhecemos aquela sensação de satisfação ao encontrar escrito,  por alguém com mais facilidade em se expressar do que nós, uma coisa que pensamos ou sentimos mas que não conseguimos verbalizar numas poucas palavras claras e coerentes.

Foi isso. Mas foi mais do que isso.

Para facilitar, de uma forma mais consciente ou menos consciente, tendo a atribuir às pessoas a idade que elas aparentam. Há que ter em conta que isto só pode ser aplicado a pessoas que já tenham idade para "serem responsáveis pela cara que têm". Teenagers, juniores ou seniores, não entram nesta dúbia classificação. Além de mais, o que torna mais dúbio este esboço de método, é que o que "está dentro" difícilmente se acorda com o que "está à vista", há que ter o olhar mais profundo. Os facilitismos são escorregadios.

A beleza e a inteligência desta pergunta de Confúcio é que engloba o ser e o parecer que cada um de nós contém e os faz emergir ao ponto de vista próprio. É uma fórmula simples para compreendermos a nossa verdadeira idade, se utilizada  honesta e conscientemente.

Costumo dizer que não acredito que tenho a idade que tenho; acho mesmo que provavelmente não tenho... Pois, mas como explicar(-me) isto? Ao que parece Confúcio explica... (Sim, está bem, talvez Freud também explique mas é uma complicação)
Não se trata de uma resistência frustrada ao envelhecimento, é que quando olho para a maior parte das pessoas que nasceram pelos mesmos anos que eu não me revejo, não me reconheço nelas. Por quê?

À excepção de umas boas dezenas de colegas com quem cresci, desde a idade em que entrámos para a escola até ao final do liceu, em ambiente de desusada liberdade de expressão e estimulado livre-pensamento,  dentro de regras disciplinares não opressivas mas claramente presentes e não passíveis de grande elasticidade, são raros, e muitíssimo bem vindos, aqueles com quem me consigo identificar geracionalmente - mais novos ou mais velhos.

Quer isto dizer que aqueles em quem nos reconhecemos, em termos geracionais, são aqueles com quem criamos laços de tenra idade? Não creio. Tenho amigos da minha idade muito mais "velhos" do que eu, os quais, obviamente, não cresceram comigo.

Quer isto dizer que aquilo que marca a forma como iremos amadurecer e envelhecer se delinía no tipo de educação que recebemos e no meio em que crescemos? Vou mais por aí.

Se assim é parece-me que estamos a criar gerações de velhos precoces: o nível de responsabilidade, falta de tempo lúdico, distantes relações afectivas que vimos impondo às actuais tenras gerações contém uma carga de tal forma pesada que dificilmente tenderá a gerar jovens, seja lá de que idade for.

«A vida é para levar a sério»... Hum... Será que o sábio Confúcio concordaria com isto?


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2 comentários:

Laurus nobilis disse...

É o que se pode dizer, uma bela reflexão para começar o dia. Percebo perfeitamente essa das "pessoas da minha idade, muito mais velhas". Na parte que me toca, os meus amigos foram aqueles que comigo cresceram ao longo da infância, do secundário, mais uns, poucos, da universidade. Depois há as excepções; as pessoas que pela vida fora vamos conhecendo e com as quais acabamos por criar cumplicidades, empatias e, por vezes, amizade. Mas essas, são muito poucas. Pela minha experiência, vejo isso também à minha volta, com os meus filhos, embora em moldes diferentes na aparência, mas similares no conteúdo. Há miúdos fantásticos, com muitos velhos da idade deles a rodearem-nos mas que, mais cedo ou mais tarde se irão afastar, ou talvez não, continuando a ser velhos e a terem o beneplácito dos amigos, sobretudo por uma questão de lealdade. Como me dizia um “dos fantásticos” há pouco tempo, depois da morte do seu pai, “a vida é para se celebrar”. É impossível estar mais de acordo!

Alex. disse...

Gosto muito dos dizeres populares, na sua maioria encerram sabedoria empírica preciosa. Diz o povo que "Amigos de calções são amigos para sempre"; assim é muitas vezes. A confiança e a intimidade são sempre "bens antigos", não existem feitas à pressa.
Cresci tendo sempre pessoas idosas em casa e nunca as vi como "velhos", a minha avó sempre foi adulta nos seus relacionamentos mas nunca deixou de ser uma jovenzinha no seu comportamento. Devo-lhe mais no que tenho em mim e no que sou do que consigo abarcar de ânimo leve.