Recebi agora um e-mail da Xana com a célebre fábula de La Fontaine "A cigarra e a formiga". Como sabem, esta fábula originalmente em francês (La cigale ayant chanté Tout l'été, Se trouva fort dépourvue...), desta feita foi-me enviada nas versões alemã (traduzida) e portuguesa. A primeira é curta e clara, como convém a uma versão germânica, a segunda... Bem a segunda é bem à nossa moda, muito de acordo com o "políticamente correcto", com variados interveniêntes por pouco que sejam chamados ao caso e bastante mediática - como convém a tudo o que se queira ver levado a sério por mais escarninho que seja.
Vêde e julgai; eu cá ri-me perdidamente.
A CIGARRA E A FORMIGA
(Versões alemã e portuguesa)
(autor omisso)
Versão alemãA formiga trabalha durante todo o Verão debaixo de Sol. Constrói a sua casa e enche-a de provisões para o Inverno.
A cigarra acha que a formiga é burra, ri, vai para a praia, bebe umas bejecas, dá umas quecas, vai ao Rock in Rio e deixa o tempo passar.
Quando chega o Inverno a formiga está quentinha e bem alimentada. A cigarra está cheia de frio, não tem casa nem comida e morre de fome.
Fim
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Versão portuguesa
A formiga trabalha durante todo o Verão debaixo de Sol. Constrói a sua casa e enche-a de provisões para o Inverno.
A cigarra acha que a formiga é burra, ri, vai para a praia, bebe umas bejecas, dá umas quecas, vai ao Rock in Rio e deixa o tempo passar.
Quando chega o Inverno a formiga está quentinha e bem alimentada.
A cigarra, cheia de frio, organiza uma conferência de
imprensa e pergunta porque é que a formiga tem o direito de estar quentinha e bem alimentada enquanto as pobres cigarras, que não tiveram sorte na vida, têm fome e frio.
A televisão organiza emissões em directo que mostram a cigarra a tremer de frio e esfomeada ao mesmo tempo que exibem vídeos da formiga em casa, toda quentinha, a comer o seu jantar com uma mesa cheia de coisas boas à sua frente.
A opinião pública tuga escandaliza-se porque não é justo que uns passem fome enquanto outros vivem no bem bom.
As associações anti-pobreza manifestam-se diante da casa da formiga. Os jornalistas organizam entrevistas e mesas redondas com montes de comentadores que dissertam sobre a forma injusta como a formiga enriqueceu à custa da cigarra e exigem ao Governo que aumente os impostos da formiga para contribuir para a solidariedade social.
A CGTP, o PCP, o BE, os Verdes, a Geração à Rasca, os Indignados e a ala esquerda do PS, com a Helena Roseta e a Ana Gomes à frente e o apoio implícito do Mário Soares, organizam manifestações diante da casa da formiga.
Os funcionários públicos e os transportes decidem fazer uma greve de solidariedade de uma hora por dia (os transportes à hora de ponta) de duração ilimitada.
Fernando Rosas escreve um livro no qual demonstra as ligações da formiga com os nazis de Auschwitz.
Para responder às sondagens o Governo faz passar uma lei sobre a igualdade económica e outra de anti-discriminação (esta com efeitos retroactivos ao princípio do Verão).
Os impostos da formiga são aumentados sete vezes e simultâneamente é multada por não ter dado emprego à cigarra.
A casa da formiga é confiscada pelas Finanças porque a formiga não tem dinheiro que chegue para pagar os impostos e a multa.
A formiga abandona Portugal e vai-se instalar na Suíça onde, passado pouco tempo, começa a contribuir para o desenvolvimento da economia local.
A televisão faz uma reportagem sobre a cigarra, agora instalada na casa da formiga, a comer os bens que aquela teve de deixar para trás. Embora a Primavera ainda venha longe já conseguiu dar cabo das provisões todas organizando umas "parties" com os amigos e umas "raves" com os artistas e escritores progressistas que duram até de madrugada. Sérgio Godinho compõe a canção de protesto "Formiga fascista, inimiga do artista".
A antiga casa da formiga deteriora-se rapidamente porque a cigarra está-se cagando para a sua conservação. Em vez de fazer algumas obras queixa-se que o Governo não faz nada para manter a casa como deve de ser. É nomeada uma comissão de inquérito para averiguar as causas da decrepitude da casa da formiga. O custo da comissão (inter-partidária mais parceiros sociais) vai para o Orçamento de Estado: são 3 milhões de euros por ano.
Enquanto a comissão prepara a primeira reunião, para daí a três meses, a cigarra morre de overdose.
Rui Tavares comenta no Público a incapacidade do Governo para corrigir o problema da desigualdade social e para evitar as causas que levaram a cigarra à depressão e ao suicídio.
A casa da formiga, ao abandono, é ocupada por um bando de baratas, imigrantes ilegais, que há já dois anos que foram intimadas a sair do País mas que decidiram cá ficar, dedicando-se ao tráfego da droga e a aterrorizar a vizinhança.
Ana Gomes, talvez um pouco a despropósito, afirma que as carências da integração social se devem à compra dos submarinos e faz uma relação que só ela entende entre as baratas ilegais e os voos da CIA aproveitando para insultar Paulo Portas.
Entretanto o Governo felicita-se pela diversidade cultural do País e pela sua aptidão para integrar harmoniosamente as diferenças sociais e as contribuições das diversas comunidades que nele encontraram uma vida melhor.
A formiga, entretanto, refez a vida na Suíça e está quase milionária...
FIM?
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