::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::

DEPOIMENTO: ACORDO A 50%

Ouvi dizer que essa coisa do "Acordo ortográfico" entrou hoje em vigor. Que fixe, deve de haver por aí um grupito de malta muito contente. Não sei por que lhe chamam "Acordo" porque a maioria das pessoas que vive em Portugal não se têm manifestado nada de acordo com a coisa mas está bem, cá por mim podem até chamar-lhe assobio .

Conforme tive já oportunidade de AQUI expôr com alguma clareza, perante muitas situações concretas estou-me completamente nas tintas para a lei - e se traço nessa atitude alguns limites não me advém tal sensatez da urbanidade mas antes da auto-defesa. Normalmente a minha rebeldia, chamemos-lhe assim para simplificar, não vai além de um interior desdém vagamente perceptível numa subtil elevação do canto direito da boca acompanhado por um silencioso "pois, está bem..." retido no pensamento. Há alguns "respeitos pela lei" que me fazem confusão de tão estúpidos que podem ser e esses, obviamente, ultrapassam-me o pensamento saltando para as palavras, ou para a acção. Paciência, sou assim, já não mudo, já passei a idade de ter hipótese de cura.
Quanto a esta coisa do tal "Acordo" nem tenho sequer a oportunidade de levar em consideração qualquer pensamento mais sério acerca do dito: faz-me cócegas no cérebro e desmancho-me a rir; já tentei e não consigo, o médico até já me disse para não forçar porque pode ser perigoso - já têm sido internadas pessoas com semelhantes ataques de hilaridade difíceis de suster.
(Não é que eu ache que a coisa tem graça, é demasiado perversa e consequente para isso mas felizmente não me dá para chorar)

Assim como há gente que "não joga com o baralho todo" - talvez seja o meu caso, não me recuso a admitir - também há gente que quer deixar de jogar com as letras todas, "é mais fácil" dizem nas suas fracas e pouco alicerçadas justificações que pouco mais argumentam para além do facilitismo e da "evolução" - como se alteração fosse sinónimo de evolução. Está bem, levem lá a bicicleta, a taça e as letras que tanto vos pesam de tão difíceis que são.

Aqueles que frequentam o Real Gana ou que por aqui dão um salto com um mínimo de assiduidade não terão a menor dúvida de que por aqui se escreverá sempre com as letras todas.
Mais: sejam os textos da minha autoria ou de outrem, retirados de jornais, revistas ou seja lá de onde venham, aparecerão por aqui sempre com as letras todas, escritos em português, não em acordês. Acordês Aqui Não. Evidentemente.

Porém...
Porém, e só para mostrar que não sou de pedra, que também tenho coração, resolvi fazer uma cedência e parece-me que sou uma querida, amorosa mesmo, ao fazê-lo: com aqueles que, por livre exercício da sua vontade ou no exercício das suas actividades profissionais, resolvam aderir à coisa passarei a expressar-me oralmente - e apenas oralmente - respeitando as novas regras da dita.
Sei que não vai ser fácil, será até ainda mais difícil do que fazê-lo por escrito (apesar dos que dizem que "é mais fácil") mas sei que acabarei por conseguir, é uma questão de treinar lendo os pasquins em voz alta tal qual lá estará escrito.
Vêem, queridos acordeses, como eu não sou do contra; até sou uma querida, ou não sou?
É uma espécie de acordo a 50%, aliás tal como vós, acordeses, o fazem: falam em português e escrevem em acordês - eu decidi-me pelos "outros" 50%, dirigir-me-ei a vós em acordês e escreverei em português - mas por favor não se riam, é que não será de mim que se estarão rindo...


.

Sem comentários: