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«A obsessão de que falhou alguma coisa não faz sentido» - Costa dixit.

Evito falar do Costa; evito falar do governo de um modo geral, normalmente acabo com uma dose excessiva de um cocktail de Alka-Seltzer e Guronsan, mas estes tipos - refiro-me à malta que ficou em segundo lugar nas Legislativas - conseguem tirar-me do sério, o que não é nada fácil porque habitualmente não os oiço. Basta um momento incauto, um rádio ligado no carro, um café numa pastelaria com TV... e pronto, lá vem a naúsea.
Hoje é pior do que naúsea, hoje deu-me vontade de chorar: chorar de pena, chorar de injustiça, chorar de raiva, chorar de impotência, chorar de vergonha.

Vejam este vídeo, um de muitos, e agarrem as lágrimas no peito

Não há lágrimas que lavem a tragédia encerrada em gabinetes confortáveis e seguros, em reuniões que de pouco mais servem  do que para tranquilizar algum sentimento de culpa que ocupa o espaço da consciência.


Confirmados 38 mortos (incluindo bebé de 1 mês),  
7 desaparecidos 
63 feridos (15 graves)
Números podem subir.

Costa diz que é preciso “tempo” para que o Governo analise o relatório da comissão independente sobre a tragédia de Pedrógão e tome medidas.
“Temos de transformar as recomendações em medidas práticas, temos de passar aos actos. Isso implica tempo, mobilização política, de meios e recursos”
TEMPO? Precisa de tempo? E  o raio que o parta, não?
O incêndio de Pedrógão deflagrou no dia 17 de Junho último. 
Depois desse dia malfadado as desgraças multiplicaram-se. Não quero ignorar que este Verão foi muito quente, que existe uma seca grave, mas mesmo considerando esses factores que escapam ao controlo humano é preciso ter uma enorme lata para reclamar TEMPO para analisar sacudindo a água do capote... Que raiva me dá!
Já foram de férias, já fizeram campanha, já brincaram ao pau com os ursos. Tempo?

Havia, e continua a haver, uma obrigação moral e uma responsabilidade institucional por parte dos poderes executivo e legislativo de assumirem as suas funções  "de caras" e de tomarem as rédeas da situação. A Assembleia estava fechada para férias? Pois que abrisse. O Costa estava cansadito e queria ir para Palma de Maiorca? Pois que adiasse as férias, ele e os outros muxaxos que se sentiam olheirentos. Ser governo não é ter um emprego. Nem ser deputado. Ser poder é assumir um compromisso de servir um país. Perceberam?
De meio de Junho a meio de Outubro vão quatro meses, mais de 120 dias. 

Queres mais tempo Costa? Ok, pode ser que o fogo chegue a S. Bento.

Diz o Costa:
«Essa obsessão de que falhou alguma coisa não faz sentido. A culpa é do desordenamento da floresta, que está mal estruturada e é pouco resiliente, um problema que se acumula ao longo de décadas.»

Falhou alguma coisa? 
Nãããõoooo. o povo anda obcecado com os fogos, culpa das TV's que só filmam para o lado que arde. 
este fim-de-semana arderam matas nacionais impecavelmente ordenadas e tratadas – provavelmente as únicas matas nacionais bem tratadas, as do Pinhal de Leiria. A culpa é do desordenamento da floresta...  E talvez também do rato Mickey que tem a mania de ir para lá fumar charros.

Quando questionado sobre se seria prudente dar por terminada a "Fase Charlie" o secretário de Estado da Administração Interna, essa avantesma, respondeu que o corte de 40 % dos meios de combate, provocado pelo fim da Fase Charlie, estava devidamente calculado. Na resposta, o Governo referiu ainda que não fosse estendida a fase Charlie, tinha sido reforçado o dispositivo de combate aos fogos. O-QUE-É-MENTIRA.
Todos os postos de vigia da rede nacional - todos os 236 postos - foram encerrados a 30 de Setembro.
Isto é compreensível? É perdoável?
Vem o Costa dizer que o governo irá assumir as suas responsabilidades... Pois sim. Que o diga na cara de quem perdeu os seus, as suas casas, a sua terra, a sua empresa, os seu sustento. Na cara dos portugueses já disse e ainda ninguém veio para a rua responder-lhe...

Números...

Durante a Fase Charlie os meios humanos de prontidão chegavam aos 9740 operacionais; sofreu uma redução de quase 45% - 5518 operacionais disponíveis.
Veículos de prontidão disponíveis: a 1 de Outubro passou dos 2053 para 1318, um corte de mais de 35%..
Meios aéreos -  a redução registada a 15 de Outubro era mais significativa: 65% -  de 47 para 18/16. (Meios aéreos disponíveis de 1 de Julho a 30 de Setembro 47; passaram a ser 24 a 1 de Outubro; 18 a 5 de Outubro; 16 a 15 de Outubro.)

O relatório? 
O relatório põe o dedo na ferida, em muitas feridas, e aborda incompetência, falta de prontidão na actuação, falta de profissionalização, falta e utilização de meios disponíveis...  
«...como agora nos disse, preto no branco, a Comissão Independente que investigou o fogo de Pedrógão Grande, o sistema de Protecção Civil montado por Costa quando era ministro não é o adequado. Não serve. Nem está servido pelos mais competentes, antes por demasiada gente com o cartão do partido. Depois, porque a opção feita há dez anos foi feita.»
Obviamente não o li, não creio que esteja disponível para o português comum e eleitor (virá a estar?) e são 250 páginas de leitura de uma tragédia mortal. O Expresso e o Observador - talvez outros - oferecem uma boa janela para o interior deste revoltante relatório:

E o Secretário de Estado da Administração Interna, o que dizer das declarações deste mimo governativo?

Jorge Gomes, secretário de Estado da Administração Interna, disse no domingo à SIC Notícias:

 «Temos que nos auto-proteger, as comunidades têm de ser pro-activas ao invés de ficarem à espera do socorro dos “nossos bombeiros e aviões». 
Costa nada comentou sobre estes mimos do Gomes; tem razão mais vale estar calado


Eu também não digo mais nada.


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«Quando o “pacote florestal” foi aprovado não foram poucas as vozes de técnicos, especialistas e cientistas a criticá-lo. A considerá-lo ou insuficiente, ou mesmo errado. Ninguém lhes deu ouvidos, as atenções estiveram todas numa discussão espúria sobre eucaliptos com o Bloco de Esquerda. Agora basta ler o relatório da Comissão Independente para concluir que essa reforma, de quem o ministro disse que era “a maior desde D. Dinis” (por ironia trágica do destino é com este mesmo ministro que ardeu o emblemático pinhal que ainda hoje associamos a D. Dinis…), é no mínimo muito insuficiente, nalguns casos contra-produtiva. Muitas das sugestões dos especialistas contrariam o que foi legislado, a maioria propõe acções que não estão contempladas nas leis aprovadas.»
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«Numa altura de seca severa e extrema em quase todo o país e previsões de tempo quente, o país não tem activo nenhum dos 236 postos da Rede Nacional de Postos de Vigia.
A informação foi confirmada à TSF pela GNR, que gere estes postos de vigia, sublinhando que cumpriu aquilo que está previsto na Directiva Operacional Nacional onde se planeiam os meios anuais de combate aos fogos, feita pelo Ministério da Administração Interna e Autoridade Nacional de Protecção Civil (ANPC, que remeteu qualquer esclarecimento sobre o assunto para a GNR).
Fonte - TSF 10 Out. 2017
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O governo não tem nenhuma varinha mágica.” - Costa
Pois... nem eu. 

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