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UMA GOTA NO DESERTO

A maior parte das notícias que nos chegam dividem-se em dois grupos: o "Já foi" e o "Pode vir a ser".  

O "Já foi" é muitas vezes é um "já era", pronto acabou-se, ou um "veremos consequências" que nos permite estabelecer uma ou várias relações de causa/efeito; 

O  "Pode vir a ser" tem como contrapartida o "Pode vir a não ser", é frequentemente um exercício jornalístico baseado num qualquer facto, acontecimento, extrapolado em opiniões mais ou menos alicerçadas; dependendo de quem extrapola será uma hipótese plausível ou uma conversa que leva a parte nenhuma

De vez em quando aparece uma notícia que é mesmo importante, sobre alguma coisa que representa uma alteração real do statu quo, como a invasão da Ucrânia, o alargamento da NATO, uma mudança de linha de poder significativa, uma descoberta espantosa, um avanço científico transformador

Hoje houve uma notícia importante, muito importante, com um "a ver vamos" à mistura

O presidente do Irão, Masoud Pezeshkian, de 69 anos, um cirurgião cardiologista e legislador, foi eleito há uma semana derrotando o seu rival de linha dura Saeed Jalili, antigo negociador nuclear, numa votação que se desenrolou no meio de tensões acrescidas a nível interno e internacional.

Pezeshkian, escreveu no jornal de língua inglesa Tehran Times (texto completo no link) afirmando que espera melhorar as relações com a Europa, apesar de a acusar de recuos nos compromissos para aliviar o impacto das sanções impostas pelos EUA. 

"Apesar destes passos em falso, estou ansioso por encetar um diálogo construtivo com os países europeus para colocar as nossas relações no caminho certo, com base nos princípios do respeito mútuo e da igualdade"

Tido como um reformista Pezeshkian tem favorecido o diálogo com os inimigos do Irão, especialmente no que se refere ao programa nuclear

"Gostaria de sublinhar que a doutrina de defesa do Irão não inclui armas nucleares e exorto os Estados Unidos a aprender com os erros do passado (saída do Acordo Nuclear - JCPOA) e a ajustar a sua política em conformidade. Os decisores em Washington precisam de reconhecer que uma política que consiste em colocar os países regionais uns contra os outros não teve sucesso e não terá sucesso no futuro"

"A Rússia é um valioso aliado estratégico e vizinho do Irão e a minha administração continuará empenhada em expandir e reforçar a nossa cooperação. Lutamos pela paz para os povos da Rússia e da Ucrânia e o meu governo estará preparado para apoiar ativamente as iniciativas destinadas a alcançar este objetivo"

Como disse, é uma notícia importante, mais importante do que a queda de um helicóptero, mais importante do que as eleições no Irão, essas, de formas diferentes, foram ritos de passagem. Agora "a ver vamos"...  A ver vamos se o deixam, a ver vamos se continuará vivo e livre . A ver vamos se uma nova onda de protestos se formará entre o povo iraniano se Pezeshkian for travado após a sua eleição

É o líder supremo, Ayatollah Ali Khamenei, quem tem a última palavra em todas as questões de Estado. Em matéria de política externa Pezeshkian terá de se submeter a Khamenei que, até agora, condenou todas as tentativas de melhorar as relações com o Ocidente. Talvez os "acidentes de helicóptero" o motivem a repensar, uma coisa se tornou evidente: os helicópteros também caiem no Irão, sabe-se lá o que mais poderá acontecer...
Veremos se este é um "Pode vir a ser" ou se se ficará por um "Pode vir a não ser"

Um pingo de esperança num deserto teocrático


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