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ASSALTAM-ME DÚVIDAS


1-  Alguém acredita que Putin está interessado num acordo de paz?

2- O que quer Trump dizer no seu post publicado na noite anterior à reunião de líders na Casa Branca com "Lembrem-se de como começou" ?

3- Por que considera Trump que Zelensky "pode acabar a guerra com a Rússia quase imediatamente" se o país invasor recusa retirar-se dos territórios ilegalmente ocupados?

4- Uma vez que os países da NATO, enquanto tal, são colocados fora de causa na defesa e segurança da Ucrânia, o que é uma prestação de garantias de segurança "tipo" artigo 5°? 

5- Se Trump está empenhado na segurança da Europa, na dos seus aliados, e se está empenhado concretamente na segurança e soberania da Ucrânia, por que coloca à partida, antes de quaisquer conversações, que a adesão da Ucrânia à NATO é um não absoluto e está fora de discussão?
5.1- Não seria a adesão da Ucrânia à NATO a forma mais eficaz e rápida de garantir a segurança da Ucrânia?
5.2- É sabido que Putin, o agressor, não quer, mas Zelensky, o agredido, quer; os aliados também aceitam, só Trump se opõe, porquê?

6- Porque é que 4 dias após se ter reunido pessoalmente com Putin, Trump decide retirar as Autorizações de Segurança (security clearances) a 37 autoridades de segurança, em funções ou não, alguns pertencentes à comunidade de Inteligência, que trabalharam na investigação da comprovada interferência da Rússia nas presidenciais de 2016?

7- Após a assinatura do Memorando de Budapeste ficou estabelecido que a Ucrânia, a Bielorrússia e o Cazaquistão,  ao entregarem as suas armas nucleares à Rússia receberam o compromisso e as garantias de reconhecimento da soberania nacional e que não seriam ameaçados pelos signatários, Rússia, UK e EUA, os quais ficaram proibidos de usar qualquer força militar ou coerção económica;
Alguém tem conhecimento de quando e/ou como foi revogado o estabelecido pelo Memorando?

8- Trump afirmou ontem na FoxNews que está absolutamente fora de causa o envolvimento do exército americano na guerra da Ucrânia; por que promete ele a participação nas forças de Garantia de Segurança da Ucrânia?
8.1- Considera que vender armas a aliados que as doam à Ucrânia é uma garantia de segurança?
8.2- Vai ao menos voltar a fornecer Inteligência e informação geo-estratégica?

9- Por que afirma Trump que um acordo de paz está muito próximo e, por isso, não há necessidade de um cessar-fogo quando, até ao seu encontro com Putin, o considerava fundamental?



10- Uma vez que Trump reconhece que "é possível que Putin não queira um acordo" por que não institui as sanções e as "sérias consequências" com que o ameaçou como forma de pressão?

11- Será absurda a hipótese de Trump não instituir sanções primárias, nem secundárias, contra a Rússia por estar à espera de ver Zelensky recusar o "acordo e paz" proposto por Putin?  Por que haveria de pôr sanções à Rússia se é a Ucrânia que se recusa a aceitar a paz?




12- Trump afirma que a Ucrânia vai receber uma grande quantidade de terras (a lot of land); quais são? 
12.1- E a Crimeia, território ocupado em 2014, porque é, à partida considerado um assunto indiscutível? 
Lei dos EUA nº 115-44, Ponto 3, Secção 257: 
"Esta é a política dos EUA: jamais reconhecer a anexação ilegal da Crimeia pela Federação Russa ou a separação de qualquer parte do território ucraniano por meio do uso da força militar."
Presidente Donald Trump
2 de Agosto de 2017  
Não sei se ocorrerá alguma dúvida a alguém, isto parece-me absolutamente claro. 


13- «Após a conclusão das reuniões (foi a meio) telefonei ao Presidente Putin e iniciei os preparativos para uma reunião, em local a determinar, entre o Presidente Putin e o Presidente Zelensky»;  por que é que quando Trump disse que iria telefonar a Putin todos os 6 líders europeus presentes decidiram que seria melhor ficarem para jantar?




No dia 11, há uma semana, 4 dias antes do nauseante encontro no Alasca, terminei post desse dia assim:

"E quando o encontro terminar, o presidente dos EUA dirá que correu muito bem, que Putin quer mesmo um acordo de paz e está nas mãos da Ucrânia terminar esta chacina. Nas mãos da Ucrânia, não forçosamente de Zelensky..." 

14 - ...Se Zelensky se opuser ao acordo (um "se" muito pequenino)  será que Trump irá levantar a questão da legitimidade democrática de Zelensky enquanto presidente? Então lá porque se está em guerra - com as populações e edifícios cívis a serem constantemente bombardeados - não se pode fazer eleições? - Vídeo abaixo, 18 Agosto 2025



15- Será que Putin quer mesmo encontrar-se com Zelensky?
15.1- E, no caso dúbio do encontro acontecer, quantas semanas levará a ser preparado? Talvez lá mais para o Inverno, quando chover a potes na Ucrânia?



Na verdade, tenho mais dúvidas, muitas mais, algumas convicções e umas quantas certezas; Por hoje ficam estas que se enquadram na "conjuntura" actual

E uma última pergunta, directa a Trump:

Se é tão fácil acabar com esta guerra, era até para ter sido resolvida no primeiro dia da segunda administração Trump, por que raio ainda não acabou?

AS EXIGÊNCIAS DE PUTIN E UM QUEIJO DA SERRA


Exigências de Putin para o "fim da guerra" 

1. A Ucrânia deve retirar todas as tropas de Donetsk e Luhansk em troca do congelamento das linhas de frente em Kherson e Zaporizhzhya. 

2. A Rússia devolveria apenas pequenas áreas que tomou no norte de Sumy e no nordeste de Kharkiv. 

3. Reconhecimento formal da soberania russa sobre a Crimeia — incerto se apenas pelos EUA ou por todos os Estados ocidentais e também pela Ucrânia. 

4. Levantamento parcial das sanções contra a Rússia. 

5. Proibição do ingresso da Ucrânia na NATO, com vagas promessas de "garantias de segurança". 

6. Status oficial da língua russa na Ucrânia e livre funcionamento da Igreja Ortodoxa Russa.


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Existirá um secreto ponto 7 exigindo uma casinha numa ilha mediterrânica, com petróleo no jardim, uma mina de diamantes nas traseiras e um queijo da serra todos os dias para o lanche. Nada que não se consiga com boa vontade, obviamente o homo sapiens está mortinho por acabar a guerra

UMA OPORTUNIDADE EXTRAVIADA

Teria sido possível transformar este encontro numa reunião positiva? Teria, dependeria apenas  da atitude de Trump. Não estou a aproveitar (mais) uma oportunidade para esfregar a nódoa, estou a falar de factos. Não seria difícil para um presidente dos EUA que respeitasse as prioridades correctas e espectáveis. Um simples  «Ouve lá, ó Vladimir, tu começaste esta guerra, tens de a acabar e a maneira de a acabar é chegares a um acordo com a Ucrânia, um que a Ucrânia possa aceitar, que os europeus possam aceitar; ou passarás pela vergonha injustificável de perder mais uma guerra»

Ou seja, Trump teria de estar disposto a usar as vantagens de que os EUA dispõem em todas as vertentes de poder - Económico (apoio e sanções como adjuvante e nunca como fundamento), militar (o fundamental armamento, Inteligência satélites, ciber-tecnologia)   e político (numa manifestação de vontade inalterável) - reiterar a sua recente afirmação de que haverão "consequências severas" se Putin não considerar pôr termo à guerra. Isto dito, e feito, juntamente com todos os apoios dos Estados da NATO e além da Aliança, obliteraria drasticamente a capacidade da Rússia para continuar esta guerra, com China ou sem China, porque Xi não joga para perder.

A exigência de um cessar-fogo feita por Trump foi prontamente dissolvida na calorosa recepção do Alasca. É admissível que tenha sido uma questão de bom-senso. Se tivesse sido estabelecido mais um frágil cessar-fogo que fosse (seria) quebrado por Putin,  o ego de Trump seria ,uma vez mais, ferido pela demonstração de credibilidade e inacção perante o facto. Até Trump sabe isso, aprendeu à sua custa. Saiu desta reunião dizendo "deixem lá o cessar-fogo, temos perspectivas maiores". Sim, mas quais e quando? É que neste aspecto Trump e Putin estão de acordo e isso não tem sido um bom sinal. Tudo foi vago, secreto, diria que inconfesso. Um Putin sorridente e bem disposto, um Trump exausto, esquivo, enrascado


Seja qual for a proposta que Putin deixou com Trump,  a sua obstinação na reivindicação do território de Donetsk é certinha, apesar de só ter o controlo de 1/3 desse território. Este é um absoluto obstáculo a qualquer acordo de paz, ainda que outros, significativos, não existissem. Trump não achará nada mal, bem pelo contrário, dá para a troca de exploração de minério no Alasca, saiem ambos a ganhar e a Ucrânia que se lixe.
(Aquele ar enrascado foi fotografado quando Trump magicava uma forma airosa de comunicar esta traição a Zelensky) 
Estivesse Trump disposto a opor-se neste tabuleiro com todas as vantagens que tem, Putin poderia então ser forçado a conversações de paz sérias 

A única nota positiva deste encontro, e significativa SE mantida, é a evocação de Garantias de Segurança para a Ucrânia; e o facto de Putin as ter referido na sua intervenção não pode ter outro significado senão uma fingida concordância para ocultar a incapacidade de impedir algo que é imposto, algo que é imposto pela NATO , a Trump para impor a Putin
Os EUA terão de escorar a presença de tropas europeias na Ucrânia, uma decisão incontornável alicerçada por vários "incentivos", alguns económicos, alguns de apaziguamento mas não só...
Não é com vinagre que se apanham moscas, na ponta deste incentivo está a possibilidade do troféu mais desejado, um Nobel da Paz. Sim, é uma merda mas é disso que as moscas gostam (desculpem o meu latim mal declinado)
Do outro lado está a recordação de uma "ridícula" derrota da Rússia no Afeganistão; mais vale um acordo "voluntário" do que uma derrota,  pior, uma derrota face à Ucrânia, essa terra de ninguém 

A "outra" atitude que Trump pode tomar é a promover uma proposta de acordo inaceitável na qual o país invasor sai a ganhar e motivado para manter as suas políticas de agressão. Esse tipo de motivação já deu devastadoras provas históricas, é um erro a não repetir. 

Sobre atitudes nesta cimeira o bom senso esteve de férias.
Não era preciso Trump ter esperado por Putin, o criminoso de guerra, um raptor de crianças, sobre o o tapete vermelho, não era preciso ser tão efusivo no reencontro, não era preciso um palanque ladeado por caças e uma passagem de quatro F-35 escoltando um Stealth B-2,  não era preciso dar-lhe "boleia" no carro presidencial. Um exibicionismo de vaidades que não mostrou nada de novo. Esta photo-op foi uma deliciosa prenda suplementar oferecida a Putin para ser divulgada com sarcasmo na comunicação social russa, à fartazana. Também não era preciso ter sido Putin o primeiro a falar na hora dos discursos como se fosse o anfitrião, referindo  a Ucrânia apenas de passagem e aproveitando para dizer aos líders europeus para não "torpediarem a proposta", mas ele deve ter pedido com jeitinho. Preciso seria terem feito a anunciada conferência de imprensa... Nem o previsto almoço teve lugar, estavam ambos mortinhos por se verem dali para fora, sem jornalistas, sem perguntas, sem explicações, sem esclarecimentos

Em nota de rodapé: 

Lavrov shirt - CCCP/USSR

Folgo em constatar que Lavrov afinal tem sentido de humor, de humor negro mas eficaz, a mensagem é clara - "Somos um império, temporariamente diminuído mas em progresso"



ALASKY? АЛЯСКА!

 A amiba mental diz, e reitera, que "vai à Rússia" na sexta-feira encontrar-se com Putin.

Não sei se nas cedências de territórios da Ucrânia que estarão na proposta de paz a apresentar por Putin e Trump o Alaska irá de bónus revertendo a compra à Rússia em 1867

Espantosamente o secretário da Defesa e a secretária da Justiça assistem mudos e quedos; se Trump diz é porque é assim. Parte significativa do mundo está ao sabor das decisões deste idiota ignorante


A cavalgadura já está a preparar a gloriosa saída da reunião, já atira para cima de Zelensy a responsabilidade da continuação da guerra deixando implícito que foi ele que a começou 
«Fiquei um pouco incomodado com o facto de Zelinsky dizer, "Tenho de obter aprovação constitucional". Quer dizer, ele tem aprovação para entrar em guerra e matar toda a gente, mas precisa de aprovação para fazer uma troca de terras  (???) , porque vai haver uma troca de terras. Sei que através da Rússia e através de conversas com toda a gente para o bem da Ucrânia. coisas boas, não coisas más.» (min.4:43 )

Outros momentos apoteóticos da conferência de imprensa, no vídeo abaixo: 

«E se não fosse a chuva e a lama Kyiv teria sido tomada em 4h..». (min. 8:10)

«Vou dizer-vos isto. Vi uma sondagem saída da Ucrânia, 88% das pessoas gostariam de ver um acordo feito. E se recuarmos três anos, toda a gente estava entusiasmada com a guerra. Sabe, toda a gente está entusiasmada com a guerra até a ter. É uma coisa incrível» (min.9:16)

Pergunta: «Vlodimir Zelinsky não é convidado para sexta-feira?»
Trump: «Ele não fez parte disto. Eu diria que ele poderia ir, mas ele já foi a muitas reuniões. Sabe, ele está lá há três anos e meio. Não aconteceu nada. E qual é a definição? Quero dizer, querem alguém presente que está a fazer isto há três anos e meio?» (min.10:06)

Sem comentários.


Convirá referir, só para que fique "registado em acta",  

1- O facto básico de que a guerra continuou durante a presidência de Trump, praticamente 8 meses passaram sobre o "Acabarei com esta guerra no primeiro dia da minha presidência ou até talvez antes". Trump poderia ter contribuído decisivamente para o final da guerra se tivesse vontade política, ou se não estivesse enfeudado a Putin
Tem vindo a comportar-se de forma inexplicável à luz do mais ténue bom-senso; apresentou pelo menos cinco propostas de cessar-fogo e prometeu aplicar sanções contra Putin se este rejeitasse as propostas de paz, de cessar-fogo 
Putin rejeitou-as uma e outra e outra vez e, até hoje, Trump nunca avançou com quaisquer sanções. As últimas ameaçadas foram adiadas e re-adiadas à mais evidente vantagem para Putin, uma recalendarização  de alfaiate

2- Trump afirma que haverá uma "troca de terras", e nem é de "troca que de facto fala pois nenhum território russo entra nesta equação. Factualmente o que preconiza é uma cedência de terras a troco de uma paz limitada ao tempo que Putin precisa para recomeçar. Putin quer a Ucrânia, toda a Ucrânia, cuja entidade e nação não reconhece. Há quem já o tenha feito com consequências desastrosas, há acordos que têm por destino ser rasgados


3- Ninguém, que esteja de facto interessado em conseguir o melhor acordo possível, põe na mesa um leque de cedências antes do início das negociações. Não é um "erro diplomático", é dar várias voltas de vantagem ao adversário antes da partida; ou, pondo mais claramente, não se trata de um adversário, trata-se de um jogo em equipa. Trump aderiu a este jogo desde a sua entrada na Casa Branca.

4- Trump apresenta agora uma paridade de responsabilidades na ocorrência desta guerra, princípio, meio e fim; digo "agora" porque não faz muito tempo defendia a versão de ter sido a Ucrânia a responsável (lá voltaremos por certo). A verdade é não se trata de um conflito entre dois países, trata-se de  um crime de invasão e agressão, um crime internacional grave; há um agressor e um agredido, um invasor e um invadido, contra todos os princípios de direito internacional, de integridade territorial. Existe uma obrigação legal e moral de assistência ao agredido por parte de qualquer país decente, o contrário disto vai contra todo o sistema de segurança global e do direito internacional

5- É possível mutilar a capacidade de manutenção da máquina de guerra russa negando-lhe as receitas do petróleo e do gás. Isto pode ser feito impondo sanções secundárias sérias aos países que continuam a comprar petróleo e gás russos. E fornecer à Ucrânia todo o armamento necessário tendo em vista ajudar e não apenas vender armas a aliados

6- O maior temor de Putin é a unidade ocidental. Trump acalmou os seus ataques à NATO após a última cimeira porque lhe caiu dos céus uma multiplicidade de negócios de venda de armamento muito acima do que lhe seria dado esperar. Esta unidade será o primeiríssimo alvo de Putin e Trump não é exactamente difícil de manipular

Retorna à superfície a política de apaziguamento e a cedência de parte da Checoslováquia anexada por Hitler no tratado final da Conferência de Munique em Setembro de 1938 numa tentativa ingénua de evitar a guerra. Seis meses depois, em Março de 39, Hitler ignorou o tratado e invadiu a Checoslováquia; Em Setembro de 39 invadiu a Polónia e começou a II Guerra Mundial.
É muito positivo que retorne à superfície, assim seja também emergente a lição que engloba



VAMOS AO QUE INTERESSA


“We’re done funding the Ukraine war — Europeans can take the lead”, Vance says

<<Acabamos com o financiamento da guerra na Ucrânia — os europeus podem assumir a liderança.
Se os europeus quiserem assumir a liderança e comprar armas a fabricantes americanos, estamos bem com isso — mas não iremos mais financiá-la nós>> Vance, 10/08/25

A 5 dias de Trump estender o tapete vermelho a um criminoso de guerra (e não só) que enverga um mandato de captura do Tribunal Criminal Internacional, Vance enfatizou que Washington busca um acordo com base na "linha de contacto existente" , que <<Ambos os lados ficarão provavelmente insatisfeitos mas isso é sinal de um verdadeiro compromisso>>

Vance a falar de "compromisso", céus, quanta ironia!

Zelenskyy respondeu, sem gastar muitas palavras:

<<A Ucrânia não pode violar a sua constituição em questões territoriais e os ucranianos não doarão suas terras a ocupantes >>

Real Gana, 12 Abril, 25:
O enviado especial de Trump ofereceu-se para "dar" quatro regiões ucranianas à Rússia... /... Steve Witkoff ofereceu-se pessoalmente para "apoiar" o direito da Rússia a ocupar as regiões de Zaporizhzhia, Kherson, Donetsk e Luhansk. Não sei por que não englobou a Crimeia no pacote... Será por o presidente dos Estados Unidos considerar que a Crimeia já pertence à Rússia não fazendo assim sentido que seja objecto de negociações? 

Moral da história:

Dia 15, sem essa coisa incómoda dos telefones que tão pouca intimidade proporcionam, dirá o Vlad:

Ó Doninha (tradução do russo de Donaldsky), senta-te aí que eu quero dizer-te uma coisa. Isso da Ucrânia deixa comigo que eu resolvo com o Xi, vê mas é se lhe facilitas o controlo de exportação dos chips IA HBM que eu preciso deles e o xoninhas do Biden bem nos lixou. Tens aqui a proposta que vais ler do teleponto e não te preocupes mais. O Zelensky não vai aceitar as "nossas" propostas, a menos que tu o convenças seja lá como for; podes ir vendendo umas armas aos europeus, devagarinho, olha que andas a ceder demasiado à NATO, tu vê lá isso... Mas vamos ao que interessa, temos de assinar os acordos de cooperação entre os EUA e a mãe-Rússia. As sanções são uma chatice mas se tiver de ser paciência, não nos puseste taxas de exportação, ficou-te bem e reconheço. Essa mania do Nobel da Paz, vê se te safas com Israel porque por aqui não vais lá, esquece. Lê lá os acordos a que chegámos para ver se depois não te baralhas. 

O encontro ainda não aconteceu e o criminoso de guerra já tem a sua primeira vitória diplomática: é recebido em solo americano pelo presidente dos EUA, líder do maior país da NATO

É quando o encontro terminar, o presidente dos EUA dirá que correu muito bem, que Putin quer mesmo um acordo de paz e está nas mãos da Ucrânia terminar esta chacina. Nas mãos da Ucrânia, não forçosamente de Zelensky... 


O ÚLTIMO VÔO DE DAME STELLA RIMINGTON


Dame Stella Rimington foi um marco histórico como pessoa e como profissional.

Foi a primeira mulher a chefiar o MI5 e também a primeira a chefiar uma agência de Inteligência no mundo, um meio tradicionalmente dirigido pela figura do "macho alfa" 

Em 1965 encontrava-se na Índia acompanhando o marido num posto no Alto Comissariado Britânico em Nova Deli; aí  ingressou no MI5 em regime de part-time. Quando regressou ao Reino Unido, em 1969, integrou-se no MI5  a tempo inteiro. Trabalhou nos três ramos dos Serviços de Segurança: Contra-terrorismo, Contra-espionagem e Contra-subversão dos quais foi, sucessivamente, directora. 

Em 1992 tomou a chefia do MI5 a seu cargo tornando-se directora-geral. Foi responsável pela maior "visibilidade" da agência tornando os campos de actuação menos obscuros, mais compreensíveis contribuindo para a sua aceitação pública e entendimento do trabalho de Segurança realizado. Deixou os Serviços em 1996 profundamente remodelados na sua filosofia, comunicação e forma de se relacionar com as restantes agências similares e com a população britânica 

«Somos, naturalmente, obrigados a manter a informação em segredo para sermos eficazes. Isto não quer dizer que devamos ser, necessariamente, uma organização totalmente secreta. O segredo não é imposto por si só. Não é um fim em si mesmo."

"É um assunto entusiasmante e levou à criação de muitos mitos — e de algumas especulações escabrosas — sobre o nosso trabalho. Devo admitir que foi com alguma hesitação que me propus esta noite lançar alguma luz, tenho um pressentimento de que a ficção pode acabar por ser mais divertida do que a realidade.» 1994, Dimbleby Lecture - BBC TV

Nas palavras de Sir Ken McCallun, actual head do MI5:

 «A liderança de Stella proporcionou uma nova era de abertura e transparência relativamente ao trabalho que o MI5 desenvolve para manter a segurança no nosso país e o seu legado permanece até hoje. Como primeira mulher a assumir a chefia de uma agência de Inteligência no mundo, Dame Stella irrompeu barreiras de longa data e foi o percetível exemplo da importância da diversidade na liderança.»


Stella foi a inspiração para a personagem "M" interpretada por Dame Judy Dench que, nos mais recentes filmes de James Bond/007, interpretava a chefe do MI6


Escreveu vários livros, uma colecção de ficção criando a personagem-espia Liz Carlyle, outros biográficos, como "Open Secret" (2002) e vários ensaios sobre diversas vertentes de acção dos Serviços de Segurança Internos.
Em 1994, enquanto Head do MI5foi a oradora da Dimbleby Lecture de  na BBC TV e fez várias outras palestras abertas, publicou uma brochura sobre os Serviços.

Após o fim da sua carreira profissional nunca deixou de fazer ouvir a sua voz sobre assuntos que considerou importante expressar a sua opinião. (exemplo)

"As fontes humanas são provavelmente uma das fontes mais importantes de inteligência."
Esta sua opinião foi a  piece de resistence da intervenção ficcional de "M" num dos filmes de 007 (Skyfall) quando teve de defender a continuidade dos activos humanos como meio fundamental da actividade do MI6.
Abaixo deixo 2 vídeos: o ficcional e dois minutos retirados de de uma palestra pública de Stella; vale a pena comparar



Partiu esta madrugada aos 90 anos no seu último voo nocturno

No próximo mês de Outubro uma outra mulher, Blaise Metreweli, assumirá, pela primeira vez  em 116 anos de existência, a chefia do MI6; um caminho desbravado há 33 anos por uma mulher de excepção




OS AMIGOS SÃO PARA AS OCASIÕES

Medvedev não tem qualquer poder real, é um sopeiro de Putin, sempre foi mesmo quando foi presidente para preencher a lacuna constitucional, já colmatada, que impedia Putin de reinar em continuidade ininterrupta.
Uma das tarefas adjudicadas a Medvedev é a de "mandar bocas" através de microfones internacionais sem a carga oficial, essa recai sobre Pescov; Putin diz-lhe "Medv, vai rosnar àqueles gajos  e mostra-lhe os dentes" e Medvedev acaba de emborcar a caneca de vodka, atira-a para um canto e vai rosnar. Passou a semana nisto. Na quinta-feira rosnou  sobre as capacidades automáticas da era soviética para ataque nuclear retaliatório da Rússia, ainda operacionais e prontas a disparar

Trump  esfregou as mãos de contente, foi exactamente o que estava a precisar para desfocar as atenções mediáticas do peçonhento "Caso Epstein/Trump" que tem trazido colado a si sem conseguir lavar-se de tal peçonha.

«Ordenei que dois submarinos nucleares fossem posicionados em regiões apropriadas para o caso de estas declarações tolas e inflamatórias serem mais do que isso. As palavras são muito importantes e podem muitas vezes levar a consequências indesejadas. Espero que este não seja um desses casos. Agradeço a vossa atenção a este assunto!»

A ser verdade será grave, totalmente desmedido e arriscado, de facto as palavras são muito importantes e podem levar a consequências indesejadas.
E por que raio o presidente dos EUA responde a um vice do concelho de segurança russo, ex-político de reconhecidíssimo e elevadíssimo grau alcoólico?

A ser verdade...  Os submarinos nucleares estão constantemente posicionados, têm trajectos e posições cuidadosamente planeadas e coordenadas entre si e de acordo com alterações geo-estratégicas; Não é coisa que se altere assim de um dia para o outro porque deu na bolha do presidente

O Donald fazer uma declaração, numa página da sua rede social, é uma coisa; O presidente dos EUA fazer uma declaração, é outra coisa. E não fez. Depois, já enquanto presidente e falando aos media, Trump falou em medidas, em precauções... mas não em submarinos, muito menos em ogivas
Deslocar dois submarinos nucleares é uma coisa, complicada; deslocar dois submarinos nucleares armados com ogivas, é outra coisa, complicadíssima
E comunicação do Pentágono, alguma coisa? Pois do Pentágono coisa alguma

Até mais ver, se houver que ver, veremos 
Passando àquilo que Trump quer, desesperadamente, que passe

Esta semana o Donald teve uma nova ideia para "demonstrar" as razões do seu afastamento de Epstein, esse "creep". Diz ele que o expulsou de Mar-a-Lago porque o "creep" lhe roubou umas meninas que trabalhavam no spa. (incluindo Virginia Giuffre que posteriormente veio a público, foi testemunha acusatória e, recentemente, se suicidou)  E não, não sabia nada sobre as práticas de tráfico de meninas de Eptein; nem nunca foi à ilha dele ( Donald, tu sabes que há manifestos de vôo dos aviões privados, não sabes?  E localizações de telemóveis mesmo com GPS desligado, também sabes?)

Não é, infelizmente, a característica mais grave do Donald mas é uma das mais irritantes: o homem julga que as pessoas são todas parvas e que é mais esperto do que o diabo. Compreendo. A avaliar pela capacidade de discernimento dos seus seguidores o homem sente-se esperto. Mas "a amostra é curta para servir na estatística "Número de pessoas parvas que acreditam..."

 

 Em 2004, já mais de uma década passada sobre a estreita relação destas duas belas peças de perversidade, Epstein apresentava-se como sendo o maior licitador para um imóvel, uma casa em Palm Beach, com a oferta de 36 milhões de dólares. Tendo a aquisição como certa, levou o seu amigo Trump a ver a casa para o aconselhar sobre como mudar a piscina.

Trump viu a casa e, nas costas de Epstein, ofereceu 40 milhões de dólares, ficou com a propriedade.

Epstein, profundamente envolvido com as finanças dispersas de Trump, sabia que, naquela altura, Trump não tinha 40 milhões de dólares disponíveis para pagar esta casa, teriam de ser 40 milhões de dólares de outra pessoa; acreditava que se tratava de 40 milhões de Rybolovlev, um oligarca russo.

Um ano e tal depois esta casa comprada por 40 milhões foi vendida por 95 milhões de dólares a Rybolovlev. Isto não é apenas um negócio, é a bandeira vermelha de lavagem de dinheiro.  Epstein ficou furioso por ter perdido a casa e, pior, pela traição imobiliária de Trump. Começou a ameaçá-lo com processos judiciais e, provavelmente pior,  ameaçou-o de ir à imprensa dizer que Trump era um testa de ferro de lavagem de dinheiro russo

Trump entrou em pânico. Desacreditar Eptein tornou-se um acto de sobrevivência
Epstein estava convencido, e acreditou até ao dia em que morreu, que foi Trump quem foi à polícia denuncia-lo. Sabia que Trump estava totalmente a par do que se passava na casa Epstein, totalmente a par durante muitos anos. Começou então uma investigação e o desenrolar dos problemas legais de Epstein durante os 15 anos seguintes.

A história sobre este imóvel, e a desavença entre Trump e Epstein, foi publicada pela primeira vez em Junho de 2019, durante a primeira presidência Trump. 

Epstein havia contado esta história a Michael Wolff, biógrafo de Trump (o mais odiado por Trump)e este relatou-a em pormenor no seu livro "Siege - Trump Under Fire", o segundo que escreveu sobre a Casa Branca de Trump.
Epstein estava em Paris quando o leu. Telefonou a Wolff claramente alarmado, disse-lhe que tinha medo de ter falado demais.
Três semanas depois deixou Paris e regressou aos Estados Unidos. Foi prontamente detido na pista do aeroporto em Nova Jérsia quando o seu avião aterrou a 6 de Julho de 2019

Foi encontrado morto na sua cela a 10 de Agosto de 2019

 O médico legista de Nova Iorque e o inspetor-geral do Departamento de Justiça consideraram que a morte de Epstein foi suicídio por enforcamento. Nunca foi explicado como é que alguém se consegue enforcar numa cela que não tem qualquer ponto de apoio suficientemente elevado, existia apenas um beliche bastante baixo que facilmente se viraria em queda se suportasse o peso de um homem adulto. Estranhamente no relatório é afirmado que Epstein atou tiras de lençois rasgados à pequena mesa/secretária que se vê na foto. A sério?  

Os advogados de Epstein contestaram a conclusão do médico legista e abriram o seu próprio inquérito, contratando o patologista Michael Baden.

Quando Epstein foi colocado na Unidade de Alojamento de Segurança (SHU), a prisão informou o Departamento de Justiça de que ele teria um companheiro de cela e que um guarda verificaria visualmente a cela a cada 30 minutos. Estes procedimentos não foram seguidos na noite em que morreu. A 9 de Agosto o companheiro de cela de Epstein foi transferido e não foi substituído. No final da tarde que precedeu a sua morte, Epstein encontrou-se com os seus advogados, que o descreveram como “optimista”, antes de ser escoltado de volta à SHU às 19:49 pela guarda Tova Noel. 

As imagens de CCTV mostram que os dois guardas não efectuaram nenhuma das contagens de prisioneiros exigida às 22:00, 00:00, 03:00 e 05:00 na ala L onde Epstein e mais três prisioneiros em diferentes celas se encontravam. Registaram Noel a passar brevemente pela cela de Epstein às 22:30. As contagens foram porém efectuadas nas restantes alas (e apresentam uma discrepância "inexplicável", já la vamos). Durante toda a noite, em violação do procedimento normal da prisão, Epstein não foi inspeccionado de 30 em 30 minutos. Os dois guardas encarregues de inspecionar a sua cela durante a noite, Tova Noel e Michael Thomas, adormeceram à secretária durante cerca de três horas (?!?!) e mais tarde falsificaram os registos relacionados com as inspecções. As duas câmaras em frente à cela de Epstein também avariaram nessa noite. Outra câmara tinha imagens “inutilizáveis”.

As imagens captadas em CCTV divulgadas nos media não são do exterior da cela de Epstein mas de uma zona comum, de recepção e entrada daquela área da prisão

 Em Agosto de 20219, o Procurador-Geral William Barr,  apesar de ter inicialmente manifestado suspeitas, descreveu a morte de Epstein como "uma  perfeita tempestade de erros". Tanto o FBI quanto o Inspector-Geral do Ministério da Justiça conduziram investigações sobre as circunstâncias da morte. Os guardas de serviço foram mais tarde acusados de vários crimes de falsificação de registos. Muitas figuras públicas acusaram o Serviço Federal de Prisões de negligência; vários legisladores apelaram a reformas do sistema prisional federal. Em resposta, Barr demitiu o director do Bureau e pronto, está feito.

O mau funcionamento das duas câmaras frente à cela, as alegações de Epstein de possuir informações comprometedoras sobre figuras poderosas, as dificilmente explicáveis circunstâncias da sua morte foram alvo de especulação; Dois dos mais aguerridos e audíveis defensores de que Epstein não se suicidou, Kash Patel e Dan Bongino, foram nomeados, já na segunda administração Trump, respectivamente director e vice-director do FBI; rapidamente chegaram à conclusão de que estavam enganados, Epstein suicidou-se, fim de papo. Uma das maiores defensoras da publicação total dos "Epstein Files", Pam Bondi, que expressou várias vezes que só e apenas os nomes das vítimas e das testemunhas colaborantes deveriam ser ocultados, foi nomeada Attorney General e passou-lhe o impeto 

Em consequência da morte de Epstein, todas as acusações contra ele foram retiradas e as investigações em curso sobre tráfico sexual foram abandonadas.

Então e a prometida publicação dos ficheiros?
A lista que existe, que afinal não existe, que existe mas não diz nada...
Avaliado o relatório publicado pelo FBI (Junho de 23) nada leva a parte alguma
O relatório é uma anedota feita de contradições, e enigmas, nada foi explicado. Quem quiser provas disso que dê uma voltinha no vídeo que deixo aí abaixo, especialmente a partir do min.8.


No que toca ao "inexplicável" levanta-se uma lebre mais do que estranha; mais do que uma lebre, um possante mamute: ao minuto 2:22 e por uns breves 4 segundos de forma pouco evidente mas perfeitamente visível se prestada atenção, vê-se neste vídeo alguém vestindo um fato prisional, cor-de-laranja, descer a escada que conduz à cela onde estava Eptein, não passa frente à recepção, continuando portanto a descer outro lance não estando na companhia de guardas prisionais.
Contagens de prisioneiros - em outras alas que não a de Epstein - variam entre os 72 e 73 presentes consoante a hora da noite em que feitas pela mesma guarda ( o que obviamente levanta a questão de poder existir um "prisioneiro infiltrado" nessa noite). Mais: as contagens que apresentam a presença de um prisioneiro a mais são a das 22:00h e a das 00:00h, o que coincide com o período de gravação CCTV em que alguém com um fato prisional desce aquela escada em particular. Sozinho.

Epstein terá rasgado os lençois para fazer uma "corda", sem tesoura ou outro objecto cortante, mas ninguém - nenhum dos outros 3 prisioneiros no mesmo corredor, dois dos quais frente à cela de Epstein, os guardas que estavam à secretária da recepção suficientemente próxima da cela - ouviu o inevitável barulho que uma acção dessas implica.
1min e meio de gravação vídeo inexistente; descobriu-se há dias que afinal faltam mais 3 minutos...  Enfim, um festival anedótico  

Voltando à actualidade: no dia seguinte à publicação pela  Bloomberg  de um extenso, bem fundamentado e marcadamente analítico artigo de fundo sobre a censura que o FBI fez às "Eptein Files" rasurando todas as múltiplas referências a Tump -1 de Agosto - Medvedev faz declarações bombásticas a propósito de coisa alguma; Trump responde-lhe que vai soltar dois submarinos nucleares 

The FBI Redacted Trump’s Name in the Epstein Files

The bureau’s FOIA team tasked with conducting a final review of the records blacked out the names before higher-ups said last month that releasing the documents ‘would not be appropriate or warranted.’

Bloomberg, August 1, 2025 at 3:35 PM GMT+1 LINK



Eu não sou de intrigas mas as ameaças de Medvedev vieram mesmo a calhar. Os amigos devem ser para as ocasiões


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