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UMA ABERRAÇÃO EM 28 LANCES


O novo «plano de paz» para a Ucrânia proposto pelos Estados Unidos parece que foi ditado directamente por Putin. Parece? Nem sei se parece...

Os Estados Unidos e a Rússia sentaram-se à mesa (ou debaixo da mesa?) e em comprometido secretismo esboçaram o futuro da Ucrânia — sem a Ucrânia, sem a Europa — um «plano de paz» com 28 pontos. Este documento, que não deveria vir à luz do dia antes de ser aceite pela Ucrânia,  não é um plano de paz, é uma negociação de reféns escrita pelo sequestrador.

O projecto prevê a criação de um «grupo de trabalho EUA-Rússia sobre questões de segurança, estabelecido para promover e garantir o cumprimento de todas as disposições deste acordo».

Esta aberração foi redigida por altos funcionários dos EUA "com a contribuição da Rússia" e aprovada por Donald Trump. Parece a lista de desejos do Kremlin na Amazon embrulhada numa bandeira americana com um laçarote de veludo dourado

Se existisse a menor sombra de dúvida de que esta coisa saiu de cabecinhas russas bastaria a inclusão do ponto «All Nazi ideology and activities must be rejected and prohibited.» (Toda a ideologia e atividades nazis devem ser rejeitadas e proibidas.) para esclarecer sobre o ADN da paternidade da coisa que Trump pariu.

A contribuição da Ucrânia? A contribuição da Europa? Só servem para complicar; os ucranianos são mais do que suspeitos, só sabem fazer exigências e as propostas europeias só têm em conta as prioridades dos ucranianos, que são "inaceitáveis". Ucrânia e Europa, e mais seja quem for, não sabem resolver nada, já resolvemos tudo, está lá escrito no ponto 2 o que decidimos: «Um acordo abrangente de não agressão será concluído entre a Rússia, a Ucrânia e a Europa.». Pronto.

O plano abre com uma fachada diplomática educadinha — “A soberania da Ucrânia será confirmada” — antes de imediatamente dividir a soberania da Ucrânia como se trichasse um peru à  mesa de Natal. Entrega à Rússia a Crimeia, a totalidade do Donbass - Donetsk e Luhansk - incluindo as zonas não ocupadas. Oferecido sem contrapartidas  numa bandeja trabalhadíssima e congela mais duas regiões, Kherson e Zaporizhzhia, como se fossem sobras. Estes territórios serão reconhecidos internacionalmente como pertencentes à Federação Russa, que renunciará a outros territórios que controla fora das cinco regiões.(podes ficar com os amendoins)

A Ucrânia não só perde (perderia) território como é (seria) obrigada a alterar a sua Constituição para prometer que nunca se juntará à NATO.  

A NATO, ou os países que a integram, não estacionarão tropas na Ucrânia.
A NATO tem (teria) de alterar os seus próprios princípios fundadores para fechar a porta para sempre à Ucrânia ou qualquer outro alargamento.
Curiosamente nenhum dos países aliados da NATO foi informado pelos EUA destas propostas, assim como a comunidade diplomática europeia foi mantida em total ignorância.  Não será de estranhar, o Congresso e os seus diversos comités de política internacional e de segurança,  e mesmo o ministério dos Negócios Estrangeiros - State Department - foram mantidos à margem desta preciosidade. Rubio só soube quando o documento "transpirou"; lá se aguentou como pode, publicou um tweet no X, é um rapaz obediente e discreto
Mas tudo está assegurado, Trump pensa em tudo. «Será realizado um diálogo entre a Rússia e a NATO, com mediação dos Estados Unidos, para resolver todas as questões de segurança.»

Face a isto<< é espectável que a Rússia não vá invadir mais países vizinhos>>. «É Espectável» que eles se comportem. Espera-se! Como se Putin fosse uma criança pequena de quem «se espera» que não volte a fazer maldades ao gato. Não, não estou a exagerar, é mesmo assim que está escrito: 

  «It is expected that Russia will not invade neighboring countries and NATO will not expand further.»

Enquanto isso, as forças armadas ucranianas — actualmente a lutar pela sobrevivência do seu país e, em honesta análise, pela paz na Europa — ficam (ficariam) limitadas a 600.000 soldados, porque nada garante “paz” como forçar a nação invadida a desarmar-se enquanto o invasor mantém as chaves de três províncias ilegamente invedidas e roubadas e se "espera" que (pela primeira vez) mantenha a sua palavra.  

Mas não há motivo para preocupações,  os EUA darão à Ucrânia “garantias de segurança”  — não especificadas no documento mas estabelecido que os EUA receberão uma "compensação" pela garantia de segurança — desde que Kyiv prometa não invadir a Rússia ou lançar mísseis contra Moscovo “sem motivo”. Sim, a Ucrânia é advertida para não atacar o país que a invadiu, senão acabam-se as "garantias de segurança"

Em troca de engolir tudo isto, a Ucrânia recebe a promessa de US$ 200 bilhões em dinheiro para reconstrução , 100 dos EUA  e 100 da Europa — metade dos quais, ou seja  a totalidade do que os EUA investem, representam lucros para os EUA, literalmente: os Estados Unidos ficam com 50% dos lucros da reconstrução das cidades que Putin bombardeou até ficarem em ruínas. É como um esquema de seguro, um incendeia, o outro recebe a indemnização e dividem os ganhos entre si. (Mal posso esperar para ver a Trump Tower- Kyiv Kiev)

Os activos russos congelados? Parcialmente devolvidos mas através de um fundo de investimento EUA-Rússia. Claríssimo. 

Cito o inacreditável directamente do documento porque estou longe de conseguir formar uma frase coerente sobre o assunto:

«O restante dos fundos russos congelados será investido num veículo de investimento separado, entre os EUA e a Rússia, que implementará projectos conjuntos em áreas específicas. Este fundo terá como objetivo fortalecer as relações e aumentar os interesses comuns,  a fim de criar um forte incentivo para não retornar ao conflito.»

A cereja no topo do bolo? A Rússia recebe amnistia total. Todos. Todos os criminosos de guerra. Todos os torturadores. Todos os sequestradores. Todos, a começar pelo mandante no Kremlin. Tudo perdoado, tudo protegido, tudo bem-vindo de volta à economia global, <<os EUA e a Rússia concordam em estabelecer uma parceria de longo prazo em áreas da energia, recursos naturais, infraestruturas, inteligência artificial, centros de dados, projectos de extração de metais de terras raras no Ártico e outras oportunidades corporativas mutuamente benéficas.>>

 As sanções serão levantadas (Quais? A Europa  e restantes apoiantes da Ucrânia não foram consultados nem chamados a opinar) e a Rússia recebe um bilhete de regresso ao G8 como se nada tivesse acontecido.

É um plano de paz escrito com a elevação moral de quem o propõe 

• A central nuclear de Zaporizhzhia? Dividida 50/50 na energia produzida

• Políticas educativas:
- A Ucrânia deve ensinar «tolerância» às suas crianças, porque aparentemente o país invadido terá um problema de empatia com os russos.

• Prisioneiros e reféns regressarão, incluindo as crianças. "As crianças" mas em ponto algum se especifica que a "inclusão" se refere às crianças ucranianas raptadas e sequentemente desaparecidas nos confins da Rússia,  que estão a ser "formatadas" na pedagógica cultura bolchevique. Regressarão? (se as encontrarem)

• A Ucrânia deve realizar eleições — em 100 dias — enquanto luta uma guerra, acolhe famílias deslocadas e entrega território. O que poderá correr mal?

• E no final deste circo geopolítico Donald J. Trump preside ao «Conselho de Paz».

Sim, o homem que não consegue mediar a discussão de um cessar-fogo com Putin é encarregado de fazer cumprir um acordo de paz continental entre Estados

Isto não é um plano de paz nem é sequer uma rendição, é uma liquidação total em que a Ucrânia paga a conta, a Rússia fica com a mercadoria, os EUA, e Trump pessoalmente, ganham nisso uma parceria lucrativa. 

Só uma tentativa diplomática verdadeiramente perturbada, inconsciente e amoral poderia delinear uma proposta com a Rússia recompensada, a Ucrânia desarmada, a Europa confrontada, as empresas americanas a lucrar, os crimes de guerra apagados, a Rússia de regresso à normalidade da aceitação internacional e Donald Trump sentado num trono dourado com a inscrição «O Pacificador» a usufruir da reconstrução do que não quis defender. 

Este é o plano, perfeitamente aceitável, escrito por "não se sabe quem" e assinado por Trump.

A única coisa que me dá algum consolo, não o suficiente, é saber que estes dois vão morrer e terão mortes difíceis, mas já virão tarde

Tenho a noção de que muito do que acima escrevi poderá ser pouco credível, exagerado, quase infantil, mas não fui eu que inventei. Deixo abaixo a totalidade dos 28 pontos sem comentários, juízos ou apreciações. Que falem por si


Trump's full Ukraine-Russia peace plan

1.- Ukraine's sovereignty will be confirmed.

2.- A comprehensive non-aggression agreement will be concluded between Russia, Ukraine and Europe. All ambiguities of the last 30 years will be considered settled.

3.- It is expected that Russia will not invade neighboring countries and NATO will not expand further.

4.- A dialogue will be held between Russia and NATO, mediated by the United States, to resolve all security issues and create conditions for de-escalation in order to ensure global security and increase opportunities for cooperation and future economic development.

5.- Ukraine will receive reliable security guarantees.

6.- The size of the Ukrainian Armed Forces will be limited to 600,000 personnel.

7.- Ukraine agrees to enshrine in its constitution that it will not join NATO, and NATO agrees to include in its statutes a provision that Ukraine will not be admitted in the future.

8.- NATO agrees not to station troops in Ukraine.

9.- European fighter jets will be stationed in Poland.

10.- The U.S. guarantee:

The U.S. will receive compensation for the guarantee;

If Ukraine invades Russia, it will lose the guarantee;

If Russia invades Ukraine, in addition to a decisive coordinated military response, all global sanctions will be reinstated, recognition of the new territory and all other benefits of this deal will be revoked;

If Ukraine launches a missile at Moscow or St. Petersburg without cause, the security guarantee will be deemed invalid.

11.- Ukraine is eligible for EU membership and will receive short-term preferential access to the European market while this issue is being considered.

12.- A powerful global package of measures to rebuild Ukraine, including but not limited to:

The creation of a Ukraine Development Fund to invest in fast-growing industries, including technology, data centers, and artificial intelligence.

The United States will cooperate with Ukraine to jointly rebuild, develop, modernize, and operate Ukraine's gas infrastructure, including pipelines and storage facilities.

Joint efforts to rehabilitate war-affected areas for the restoration, reconstruction and modernization of cities and residential areas.

Infrastructure development.

Extraction of minerals and natural resources.

The World Bank will develop a special financing package to accelerate these efforts.

13.- Russia will be reintegrated into the global economy:

The lifting of sanctions will be discussed and agreed upon in stages and on a case-by-case basis.

The United States will enter into a long-term economic cooperation agreement for mutual development in the areas of energy, natural resources, infrastructure, artificial intelligence, data centers, rare earth metal extraction projects in the Arctic, and other mutually beneficial corporate opportunities.

Russia will be invited to rejoin the G8.

14.- Frozen funds will be used as follows:

$100 billion in frozen Russian assets will be invested in US-led efforts to rebuild and invest in Ukraine;

The US will receive 50% of the profits from this venture. Europe will add $100 billion to increase the amount of investment available for Ukraine's reconstruction. Frozen European funds will be unfrozen. The remainder of the frozen Russian funds will be invested in a separate US-Russian investment vehicle that will implement joint projects in specific areas. This fund will be aimed at strengthening relations and increasing common interests to create a strong incentive not to return to conflict.

15.- A joint American-Russian working group on security issues will be established to promote and ensure compliance with all provisions of this agreement.

16.- Russia will enshrine in law its policy of non-aggression towards Europe and Ukraine.

17.- The United States and Russia will agree to extend the validity of treaties on the non-proliferation and control of nuclear weapons, including the START I Treaty.

18. Ukraine agrees to be a non-nuclear state in accordance with the Treaty on the Non-Proliferation of Nuclear Weapons.

19.- The Zaporizhzhia Nuclear Power Plant will be launched under the supervision of the IAEA, and the electricity produced will be distributed equally between Russia and Ukraine — 50:50.

20.- Both countries undertake to implement educational programs in schools and society aimed at promoting understanding and tolerance of different cultures and eliminating racism and prejudice:

Ukraine will adopt EU rules on religious tolerance and the protection of linguistic minorities.

Both countries will agree to abolish all discriminatory measures and guarantee the rights of Ukrainian and Russian media and education. (Note: Similar ideas were incorporated into Trump's 2020 Israel-Palestine peace plan).

All Nazi ideology and activities must be rejected and prohibited.

21.- Territories:

Crimea, Luhansk and Donetsk will be recognized as de facto Russian, including by the United States.

Kherson and Zaporizhzhia will be frozen along the line of contact, which will mean de facto recognition along the line of contact.

Russia will relinquish other agreed territories it controls outside the five regions.

Ukrainian forces will withdraw from the part of Donetsk Oblast that they currently control, and this withdrawal zone will be considered a neutral demilitarized buffer zone, internationally recognized as territory belonging to the Russian Federation. Russian forces will not enter this demilitarized zone.

22.- After agreeing on future territorial arrangements, both the Russian Federation and Ukraine undertake not to change these arrangements by force. Any security guarantees will not apply in the event of a breach of this commitment.

23.- Russia will not prevent Ukraine from using the Dnieper River for commercial activities, and agreements will be reached on the free transport of grain across the Black Sea.

24.- A humanitarian committee will be established to resolve outstanding issues:

All remaining prisoners and bodies will be exchanged on an 'all for all' basis.

All civilian detainees and hostages will be returned, including children.

A family reunification program will be implemented.

Measures will be taken to alleviate the suffering of the victims of the conflict.

25.- Ukraine will hold elections in 100 days.

26.- All parties involved in this conflict will receive full amnesty for their actions during the war and agree not to make any claims or consider any complaints in the future.

27.- This agreement will be legally binding. Its implementation will be monitored and guaranteed by the Peace Council, headed by President Donald J. Trump. Sanctions will be imposed for violations 

28.- Once all parties agree to this memorandum, the ceasefire will take effect immediately after both sides retreat to agreed points to begin implementation of the agreement.


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