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DE BORDALO A DISNEY

O texto que abaixo transcrevo não será um modelo de peça literária mas diz verdades como punhos. Nada disto seria tão mais grave do que a realidade que nos confronta diariamente, já de si gravíssima, se nós, portugueses, não assistíssemos a isto nas brutas calmas. Nas embrutecedoras calmas.

Não entendo, aliás já desisti de entender; oiço toda a gente a refilar com o status quo em que estamos vivendo, uma refilice mal-amada e revoltada, mas ninguém se mexe, ninguém actua clamando por justiça, ninguém se revolta além da palavra. Não entendo mesmo, somos um país de "zombies" falantes.

Há quase 3 anos, quando iniciei este blog, escrevi um "post" sobre a refilice passiva dos portugueses. Já então achava que isto só "lá ía" ao estalo... Agora, 3 anos depois, a vida em Portugal atingiu um baixo nível tal que mesmo tão só há 3 anos seria impensável; e não estou só a falar de economia, estou sobretudo a falar do que transpõe a economia mas a envolve como uma gestante "janada".
Há 3 anos escrevi:
Este país parece a sala de espera para a consulta de geriatria.
Actualmente parece-me que vivemos na ala dos doentes terminais e ninguém reclama cuidados intensivos - PEC à parte, claro, que é uma espécie de eutanásia.


Estes últimos dias em que tanto se tem falado da Polónia trouxeram-me à memória a revolta sindical do
"Solidarność" nos anos 80. O governo polaco acabou por se ver obrigado a negociar com o sindicato, nem a lei marcial os safou. E o regime mudou, tinha de mudar.

Compreendo que se diga, que se escreva, que um Estado de Direito não é esta amalgama de poderes, negociatas, lobbies e influências em que vivemos, ante o desleixo dos "passa-culpas" dos que deveriam cuidar acima de tudo dos sectores essenciais à vida e ao progresso do Estado. Claro, óbvio, evidente que não é.

Mas se, reconhecidamente, não estamos vivendo num Estado de Direito, nos confrontamos com atoardas diárias que vão de mal a pior, escândalos,traições por parte da Justiça, rebaldaria nos dinheiros públicos, desconfiança e incompetência uma e outra vez à sombra da "crise", por que não reclamamos aquilo que nos pertence? Portugal pertence aos portugueses, aos portugueses pertence a garantia de um Estado de Direito. E aos portugueses pertence defende-Lo.


Até quando vão os portugueses aturar isto pacificamente? O que esperam, que "a coisa" melhore por si?


Não há melhoras, há um alastramento da imoralidade, da ausência de ética; e quanto mais pobres ficarmos (sim, gaita, a palavra é essa, POBRES) mais serão os que cedem a verticalidade sob o peso da trafulhice, e passividade, social. Estamos a afogarmo-nos na nossa própria trampa sem estrebuchar além da refilice.

Isto já não é um país que pertence a pessoas, isto é um sítio onde existe gente. E que gente... Uns são malandros, os outros são parvos. Eu estou no lado dos parvos.

Lamento tanto dizer isto que até me dói, eu que gosto tanto de Portugal, mas tenho de reconhecer que isto não é sítio para criar um filho.






______2010_____




______1875______

O Estado de Direito
Rui Rangel …… Juiz Desembargador

«O Estado de Direito fez-se para haver igualdade, liberdade e justiça.

Não se fez para gerar cerca de meio milhão de desempregados, para fomentar a injustiça social e a desigualdade. Não se fez para gerar mais pobres, mais excluídos, nem só para criar poucos e cada vez mais ricos. Não se fez para os seus filhos terem um ensino degradante e em decadência, com falta de autoridade disciplina, onde o professor é o elo mais fraco da cadeia de interesses. Não se fez para a saúde ser um bem raro e escasso, onde só alguns têm direito a serem tratados em condições de dignidade.

Não se fez para o Estado Social deixar de cumprir a sua função primeira de prestar apoio aos mais desfavorecidos. Não se fez para que a classe média, já em vias de extinção, seja sempre a primeira a pagar a crise provocada por um Estado despesista. Não se fez para que a crise seja sempre combatida à custa do aumento da carga fiscal, sacrificando sempre os mesmos. Não se fez para que as pensões de reforma dos nossos idosos sejam de miséria. Não se fez para que as empresas públicas paguem ordenados e prémios aos seus gestores que são “obscenos” que ofendam a moral e a ética republicana. Nem Salazar se atrevia a tanto. O descaramento e a falta de vergonha dos gestores públicos não tem limites. Eles devoram e comem tudo e o estado cúmplice olha para o lado. O Estado de Direito não se fez para gozar com a bondade e a passividade do ser português. Não se fez para que os políticos se transformem em profissionais da política e se eternizem nos lugares, capturando a democracia ao não deixarem que a sociedade respire. Não se fez para que Portugal continue a ter um índice de iliteracia e de analfabetismo dos mais elevados da Europa. Não se fez para que a Justiça esteja em crise há mais de trinta anos, com défices de credibilidade que a tornaram num dos maiores falhanços da democracia. Não se fez para que os políticos não gostem de ser investigados, escutados e escrutinados no respeito pela separação de poderes. Não se fez para que se crie à volta da justiça uma crispação gratuita, que só serve os interesses instalados, devendo quem governa este povo fazer um exame crítico e analítico, interrogando-se porque é que os políticos estão no fundo da tabela da confiança do cidadão. Não se fez para que a confiança e a auto-estima dos portugueses estejam nas ruas da amargura. Não se fez para pactuar com o aumento da corrupção que mina o Estado, onde às segundas-feiras o governo dá mostras de querer combater este flagelo e às terças dá sinal contrário, para que tudo fique na mesma.

Não se fez para termos um legislador que é reincidente na criação de legislação oportunista e de fraca qualidade. E não se fez para a judicialização da política nem para a politização da justiça. O Estado de Direito foi capturado e está acorrentado, servindo os interesses dos mais ricos e poderosos.

O Estado de Direito não é isto!»


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