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DIZES TU, DIREI EU


Recebi um e-mail, que abaixo transcrevo, de um bom amigo de há já uns largos anos; Homem de carácter e inteligente, afecto ao PS. Nunca as divergências de cariz político, ou outras, se interpuseram entre nós e creio sinceramente que esta não será a primeira vez - o respeito que há muito nutro pelo Francisco está acima de divergências de opinião e, estou convicta, que o mesmo se passará com ele em relação a mim.

Que raio me deu então para transcrever um e-mail pessoal e optar por aqui, no blog, lhe
responder?

É que não se trata de um e-mail pessoal, no sentido em que aborda uma temática que tem estado presente a todos os portugueses e que aqui tenho abordado sem rodeios.

O Francisco desafia-me a publicar no Real Gana uma entrevista, provavelmente convencido de que não o farei, provavelmente "espicaçando-me" para que o faça.
E eu faço-o, obviamente.


Obviamente? Claro.


Não temo nem evito de forma alguma a contraposição de opiniões - porém esta não me parece ser uma questão de opiniões, é uma questão de factos e, ao contrário do que diz o adágio popular, contra factos muito se pode argumentar, apenas pouco se poderá alterar...


Então o Francisco escreveu-me assim:


.....................................................
«Cara Amiga,

Tenho lido com algum desgosto o teu encarniçamento anti Socrático.
Espero que a leitura desta entrevista no jornal I de Sábado possa contribuir para te elucidar melhor sobre estas matérias, visto que o entrevistado é do teu partido e é reputadamente acima de suspeita.

Post scriptum: Se pusesse PS pensarias logo outra coisa....
Quero ver se inseres a entrevista no teu blog.?.....»

.................................................................................................

E eu respondo-lhe assim:

Meu querido Amigo,

Em primeiro lugar quero dizer-te que lamento que alguma coisa que eu faça te provoque desgosto; não estou a ser minimamente irónica, sinceramente é coisa que jamais me seria indiferente. Não me importo nada que tenhamos divergencias, discussões, até amuos de ocasião mas desgostar-te é algo que francamente me afecta.
Lamento-o mas não escondo aquilo que penso e, como bem sabes, algumas vezes já tenho passado por uns quantos "amargos de boca" à conta da minha não calculista franqueza.

Em segundo lugar tenho de te dizer que esta entrevista em nada me elucidou, confirmou sim aquilo que já pensava:
O Dr. Proença de Carvalho, homem de infinito encanto e possuidor de uma inteligência muit
o acima da média é, sem dúvida, um dos melhores advogados da nossa praça. E bem sabe escolher os seus clientes ou, talvez melhor dizendo os seus clientes sabem bem por que o escolhem:

«se alguns dos meus clientes têm sido pessoas de maior capacidade económica foram eles que me escolheram».

«Sim, encaro o sigilo profissional com naturalidade. Não há segredos que me incomodem. De facto, nada perturba a minha consciência ética, profissional e deontológica. Também tenho tido o privilégio de não ter necessidade de aceitar qualquer patrocínio com que não me sentisse bem.»

A este excelente advogado que acompanhou Champalimaud durante dezenas de anos, obviamente não será estranho ouvir que "
está absolutamente convencido da inocência de Dias Loureiro" ou, menos estranho ainda que "está absolutamente convencido da razão de Sócrates", de quem é advogado desde que este foi ministro do ambiente.

(Nem uma só vez entrei na frutaria perguntando se as maçãs eram boas me responderam:" Não, não leve que estão cheias de bicho".)


Como estranho também não será ouvi-lo afirmar:
«Aliás vejo com mágoa que tantas personalidades neste país estejam tão preocupadas com o direito à liberdade de expressão ou pensamento.»

Ele vê com mágoa... Eu também. E não só eu... Mas temos mágoas diferentes por razões diferentes.
Lembra-me aquele tipo que ia pela auto-estrada a barafustar dentro do carro "Mas estão todos doidos, vem tudo em sentido contrário..."
As 10 mil pessoas que, em pouco mais de 48h assinaram a petição "Pela liberdade" estão todas parvas e/ou a ser manipuladas?

Nunca, após o 25 de Abril, ouve uma tamanha reacção a um primeiro ministro à excepção de Vasco Gonçalves e, mesmo essa, não atingiu os moldes em que a actual se processa.

Sócrates não consegue passar por um homem integro e honesto nem que se pinte de am
arelo às riscas. Mais, não consegue fazer passar a imagem do injustiçado vítima de uma cabala negra.
Perdoa Francisco, mas não consegue porque não tem cara, não tem postura, não tem passado nem presente de gajo sério. É tenaz, é voluntarioso, é persistente. Sério não é.

Compreendo que um bom advogado baseie a sua táctica na opinião jurídica de que:


«Não retiro dali (das escutas que diz não ter lido) nenhuma conclusão com o mínimo de segurança. Eventualmente, a irresponsabilidade de actores dessas conversas. Por uma questão de princípio, não faço nenhuma avaliação de meios de prova seja do que for que o Direito repudia. Não posso aceitar isso. Seria o mesmo que validar ou comentar declarações de alguém sobre tortura, sobre chantagem, sobre pressão.» (?!?!?!?)

A verdade é que as escutas existem, não foram inventadas, não foram feitas a indivíduos que estivessem sob tortura ou chantagem. A verdade é que as escutas revelam aquilo de que o excelente advogado de Sócrates «não leu», «só tem conhecimento por ouvir falar» e de que não quer nem falar. A verdade é que a maioria dos portugueses as quer conhecer, ou não?

Por último, meu querido Francisco, só um pequeno comentário à tua curta missiva. Quando dizes que "
o entrevistado é do teu partido"...
O entrevistado diz-se independente, que nunca foi de partido algum. Do meu não será com certeza, desde 1985 que não tenho qualquer partido e, muito menos, o meu voto enfeudado seja a quem ou que partido for; pensei que já tivesses tomado nota...
Quanto à tua expressão:"
é reputadamente acima de suspeita", não digo que não, eu pelo menos não suspeito de coisa alguma, tem a sua ética de advogado e, enquanto advogado é um homem ético. Por mim era capacíssima de almoçar com ele e, estou certa, de que não me entediaria nem desiludiria com a conversa nem por um momento.

Lembra-me um curto episódio que não sei se cheguei a contar-te:

Um dia o senhor reitor entrou no seu gabinete onde, sentados à mesa de reuniões, estava um advogado recém-chegado à casa, mas não às lides do Direito, e eu.

O senhor reitor vinha de falar com um jovem licenciado em direito, lá na casa, onde era sobejamente conhecido pela sua vivacidade, e que era agora advogado de um antigo professor.
E disse o senhor reitor enquanto se dirigia para a mesa a sentar-se connosco:
- "Este rapazinho vai ser um bom advogado, é honesto..."
Sem tardar responde o advogado recém-chegado, que tu e eu tão bem conhecemos:
- "Mau, senhor Professor, então mas ele é bom advogado ou é honesto?"

Não quero pôr em causa a honestidade do Daniel Proença de Carvalho, refiro apenas que o Dr. Daniel Proença de Carvalho é um excelente defensor jurídico dos seus clientes.


Se não transcrevo a entrevista na integra é porque é bastante longa, embora se leia com facilidade e até com gosto.

Aqui fica o link para a entrevista com o Dr. Daniel Proença de Carvalho


Até breve,

Aquele abraço,

Alex

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2 comentários:

O Pinoka disse...

Oi Alex!

Sem querer meter foice em seara alheia, concordo inteiramente com a forma como abordas o tema “Daniel Proença de Carvalho”.
Beijos

Alex disse...

Olá Pinoka!
long time no see.

Não metes a foice em seara alheia, para mal dos nossos lusos pecados a seara é nossa... os corvos são muitos.
Dizia o poeta "Uma rosa é uma rosa é uma rosa"
Neste, e noutros, casos, um adogado é um advogado é um advogado...

beijinho à Pinokinha