Não tenho vontade de falar aqui do meu pai mas sim de lembrar hoje o homem que ele foi; como pessoa, independentemente de ser meu pai.
Completaria hoje 88 anos mas há catorze anos, que se completarão em Julho próximo, que deixou de envelhecer.
Foi um professor, de corpo e alma, apaixonadamente, pelo Conhecimento, pelo que ensinava e como ensinava, pelos seus alunos.
Fui aluna dele, durante mais anos do que seria suposto: quis o destino que no início de um ano lectivo tivesse falecido a minha professora de história e o meu pai disponibilizou-se para a substituir. Mais tarde vim a ser aluna dele também em Filosofia e em Organização Política.
Nunca tinha tido alunos tão novinhos (uma turma de gaiatada com 12/13 anos). Acabou por não querer largar a gaiatada e seguimos com ele até ao 7º ano (actual 11º). Para mim foi complicado... duro, quase injusto.
Por um golpe de sorte quase forçada consegui não o apanhar pouco tempo depois na faculdade.
Não vou falar dele mas deixo aqui alguns dos comentários e algumas das mensagens que encontrei no "site" do Lycée Français Charles Lepierre, dos quais por discrição, não identificarei totalmente os autores.
Escolhi retirar os comentários deste site por uma questão prática; ao longo dos anos tenho encontrado muitos ex-alunos seus de liceus, colégios e universidade, de quem ouvi comentários e recordações extraordinários. Não os estou a ignorar, evidentemente, só não quero deixar aqui histórias alheias contadas nas minhas palavras, histórias não esquecidas por eles, nem por mim.
- «E o professor que me marcou mais do que todos, no 10o e 11os anos, em Historia, Filosofia e Direito: Luís de A-------A-------. Uma Pessoa extraordinaria. Lembro-me que começava certas aulas no meio de uma ansiedade inaudível da nossa parte, receando chamadas escritas. Assim que o víamos acender o seu cigarro e começar a dissertar, respirávamos todos de alivio. Ate que interrompia a frase e anunciava: CHAMADA ESCRITA! E para não copiarmos, cada um tinha perguntas diferentes dos colegas do lado!» Maria Carmen A. S.
- Ensinou-me muitíssimo, e apesar de parecer distante, tinha um sentido de humor brilhante. Tenho muitíssimas saudades dele e tenho muita pena de não o ter visto mais depois de acabar o liceu em 81. Paz a sua alma.»
- «Foi lá que apanhei o "A-------" e nos tornamos mesmo Amigos!Foi ele que me moldou a mente,na Filosofia! Para mim,um grande Homem. Tenho fotos,do Final de Curso Liceal,com ele sempre ao meu lado..................../... grande professor,amigo formador de mentes,do meu 7º Ano » Rui Francisco A.C.O.
- «Eu gostava muito do teu Pai, que foi meu professor e, acredito que também muito meu amigo.» Maria João R. F.
- «Vi o nome do teu pai no memorial , que me comoveu imenso. Foi ele q me fez ir definitivamente para História...Grande professor!» Maria João C.J.
- «o seu pai teve um papel importante na minha formação e na de muita gente. » Luis A.G.
- «Já sei do falecimento do teu pai , pelo qual te dou os meus sentimentos . Quero-te dizer , que foi o teu pai que me fez gostar de psicologia e filosofia, matérias que sempre me acompanharam e por isso presto a minha homenagem.» Luis B.O.
- «Fui aluna dele, foi um dos professores de que mais gostei e mais importantes da minha existência.» Rosário M.
- «Fiquei sensibilizado pela morte do teu Pai. Foi um Homem que me marcou, creio que a todos nós.» Luis M.S.
- « Aula de filosofia - 8h AM - S'tôr, porque é que eu só a única a quem faz chamadas orais às 8h da manhã?
- Porque eu sou o único que a deixou sair ontem à noite.» - Alex
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13 comentários:
Um abraço muito apertado, priminha.
Dele tenho outro tipo de recordações como sabes, e uma das coisas inesquecíveis era o espantoso sentido de humor que me deixava fascinada.
Creio ser de família o que me desvanece muito porque para mim o humor é um dos maiores (ou mais claros) sinais de inteligência
Foi impressionante ver aqui a semelhança com o meu pai - e afinal não eram nada um ao outro! Também eu fui aluna do meu pai. E também tenho testemunhos deste tipo.
Aquece-nos a alma!
Um beijo, minha querida.
Era uma Pessoa especial, também o admirava muito
Stélio
Alexandra, linda homenagem.
É dificil ver desaparecer e viver sem os nossos pais. Mas é a lei da vida! Temos de nos centrarmos ainda mais nos nossos filhos.
Um beijão,
Nanita
Muito querida Alex,
Nem sempre aqui venho, mas esta do Prof,. dão deve ser por acaso, chamou-me !!!!!
Que saudades !
Gostava de ver mais algumas fotos dele.
Beijos para vocês todos !
Paula T.
Pé de cereja,
Percebo o que dizes relativamente à semelhança com o teu pai, já me tinha confrontado com ela, talvez isso tenha sido uma das coisas que os aproximou tanto; e o tal sentido de humor, muito irónico, que corre de facto na família. Até o meu caçula já dá ares da sua graça em exercícios de ironia espontâneos que só lhe podem vir do ADN.
Obrigada pelo abraço, é sincera e profundamente retribuido.
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Stélio,
Era especial sim, e por vezes essa maneira de ser muito dele era mal entendida. De ti dizia: "este sabe-la toda, é um tipo esperto que goza com isto tudo e leva a dele avante".
Beijos grandes.
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Nanita,
Tenho convivido bem com a lei da vida, aceito-a quando é respeitada, são as suas crueis inversões que me são difíceis de aceitar.
Vivi muito intensamente com o o pai, e com o meu professor. Por vezes, quando as coisas à minha volta parecem não fazer sentido algum, quando se mostram absurdas, gostaria de o ter por cá para conversar; recorro à memória de conversas passadas e penso o que ele pensaria... Não é um manual mas é uma bússula.
Beijo para ti, obrigada pelas tuas palavras.
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Paula T.
Pois... Não acredito em acasos.
A Paula foi sem qualquer dúvida uma das alunas mais queridas do meu pai, tinha uma enorme admiração pela sua cabeça e pela sua coluna vertebral. E achava-lhe uma imensa graça.(como não acharia?)
Ontem, quando quis uma foto dele fiquei espantada porque não tinha nenhuma no computador - foi formatado há cerca de um ano por causa de uma "virose" grave; perdi imensas coisas.
Quero fazer um álbum fotográfico e vou dar a volta a isto. Fica prometido o envio de umas quantas fotos.
Um grande beijo, mais distante e virtual do que aquilo que gostaria.
Até um deste dias.
Querida Xana,
Como sabes, nunca me foi fácil expressar o efeito que o teu pai provocava sobre mim. Adorava-o pela sua inteligência, pelo seu extraordináro sentido de humor e por tantas outras coisas que constituíam a sua personalidade, além, claro, do enorme carinho que sempre me dedicou.
Não foi meu professor em qualquer escola, como sabes, mas a simples convivência com ele já foi um enorme privilégio, uma vez que até nessa convivência aprendi muito com ele.
Tenho - desde que deixou de estar fisicamente presente na nossa vida - e como também sabes, uma profunda saudade do teu pai... e nunca me será possível esquecê-lo nem deixar de admirá-lo pelo que ele era, pelo que ele representava... e ainda representa, para mim, onde quer que esteja.
Um enorme beijinho para ti.
Sandra
Sandrita...
sei, sei que sentes tudo isso que me dizes
mas
nunca é demais "ouvir".
Ele também te achava sempre muita graça, como sabes; bem... sempre, sempre não sei, talvez achasse menos graça quando te "apanhava a roubar" sapatos lá por casa ;)
beijo grande para ti
Alex,
Fiquei sem computador, e só agora cheguei ao Real.
Quando o abri e vi o titulo “Parabéns Sr. Prof esteja onde estiver” pensei , Lá está ela a azucrinar (é assim que se escreve?) a cabeça de mais um governante… e comecei a ler.
Na 6ª feira dia 17 de Junho, andei o dia todo… Vou-lhe ligar! Mandar-lhe aquele beijo! Mas o medo das lembranças, das recordações fez com que hesitasse. E hesitei, e não liguei.
Lembro os jantares em tua casa, os aniversários, sempre temperados com o humor sábio do teu pai. As explicações e apresentações que me dava sobre os convivas, sempre da maneira mais inteligente, e quem quisesse que apanhasse o chapéu …
Existem muitas cenas hilariantes com o teu pai e relembro uma até hoje. Aniversário da tua mãe, jantar elegante com muitos amigos e amigas e o teu pai com aquele ar de … Quando é que isto acaba? Entra um casal ( que não me lembro de todo quem era) e a senhora empunhava um ramo enorme e vistoso de rosas. Lindissimas! Dá o ramo a tua mãe e diz qualquer coisa como, Parabéns A..., gostas das rosas? São lindas não são?
A tua mãe confirma o facto, e a senhora diz:
– São artificiais!!!!
O Sr. Prof. Diz de imediato, meio a rir, meio entre dentes, mas a bom som:
– Oh, Meu Deus! Só poderia ser!
Não foi meu professor, mas acredita que me ensinou imenso, ensinou-me sem lições, ensinou-me como um amigo.
O teu pai é das raras e excepcionais pessoas que eu tenho o privilégio de, um dia, me ter cruzado. Não estranhes o tempo do verbo, pois é no presente que eu tenho os que me são queridos, estando eles onde estiverem, estão comigo agora, aqui. É desta maneira que me sinto perto. E como eu gosto de me sentir assim! Gosto mesmo!
Um beijo para ti e outro para ele
Xana
Xana, que queres que te diga mulher?
Vocês os dois, juntos e ao vivo, formavam um bom par... Um bocadinho perigoso, quando em público, a menos que o público fosse surdo....
Obrigada pelo meu beijo
o dele não preciso de lho mandar.
Uma linda homenagem. Um grande beijo.
Zé
Obrigada Zé
Era um homem do norte, nascido em Paranhos
(mas torcia pelo Sporting...)
Infelizmente nao o conheci mas pelo que me disseram era " Muito Especial"
Gostei que tivesses falado DELE.
Bsj
rui
Obrigada Rui
beijo para ti, com saudades
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