As conversações dos EUA com a Rússia iniciadas a 17 Fev. sob a mediação da Arábia Saudita têm, segundo o secretário de Estado americano, 3 objetivos, por esta ordem:
1- Restabelecer relações diplomáticas com a Rússia
2 - Negociar o fim da guerra na Ucrânia
3 - Explorar oportunidades económicas e geo-políticas no interesse dos EUA e da Rússia
Como diz Trump, "Business, everything is business"
E para a Rússia, quais são os objectivos e por que ordem de prioridades?Além de uma proeminente operação de relações públicas, digamos assim, agora que conseguiu retornar à mesa da comunidade internacional pela mão dos EUA, vê o seu isolamento dos últimos anos quebrado e reassume-se como super-potência, condição da maior importância para Putin. E o levantamento das sanções, das sanções, das sanções... Não contei quantas vezes Levrov disse "sanções" e fiz bem, acabaria cansada. Lavrov apresenta-se como tendo o comando das conversações, nas exigências, na conferência de imprensa, no olhar vagamente paternalista que, do alto dos seus mais de 20 anos de Negócios Estrangeiros, dedica ao ex-senador texano. Uma festa aquele "puto tenrinho", obviamente não quer conversas com europeus; esqueçam lá quem invadiu quem, esqueçam lá as ambições imperialistas de Putin, esqueçam os crimes de guerra e outras "mentiras" contra a Rússia, incompreendida, injustamente ostracizada. Ameaçada pela ocidentaliação da Ucrânia, pelo seu namoro à NATO (na última versão que Trump papagueou traduzida do russo), que alternativa restava senão uma invasão defensiva?
A Rússia dita assim os seus termos, para já :
- Restabelecimento das relações diplomáticas EUA/Rússia
- Estabelecimento de acordos políticos com os EUA relativos a outras situações de conflito geo-estratégicos em diversos pontos do globo.
- Levantamento das sanções económicas (não vai ser possível sem a UE)
- Afastamento, sine die, da adesão da Ucrânia à NATO (não vai ser possível sem a NATO e sem a Ucrânia )
- Não haverá negociação com delegações europeias (pois, parece que terá de haver...)
- Qualquer contingente militar associado a um ou vários países da NATO, seja sob que bandeira for, mesmo a europeia, para manutenção de paz e garantia da segurança do território ucraniano será inaceitável (não vai ser possível sem a Europa e outros membros da NATO)
- Nenhum retorno à Ucrânia de territórios ocupados pela Rússia
- Compromisso de não bombardeamento de refinarias ou outras instalações petrolíferas Russas (Não é possível sem a Ucrânia)
O que ficou acordado neste primeiro dia?
- Restabelecimento das embaixadas com todo o pessoal anterior (às expulsões) em Washington e Moscovo
- Designação de uma equipe americana de alto-funcionários para negociação de um acordo para a Ucrânia
- Criação de condições para "oportunidades económicas históricas"
- Negociadores de topo permanecerão em Rihad para assegurar o desenvolvimento dos trabalhos
Isto posto leva-me a pensar sobre o envolvimento da Arábia Saudita...
Ofereceu-se para mediar estas conversações EUA/Rússia;
Oferece-se para mediar conversações entre os EUA e o Irão;
Está envolvida nas negociações de Gaza até às entranhas;
Gaza... E a Riviera de Trump. Trump e o seu amigo Netanyahu, Trump e o seu amigo Salman, Salman e Netanyahu (mais vale um judeu autoritário do que um xiita teocrático - mais vale um sunita assassino do que um xiita bélico). Salman que tem sido uma peça chave na regulação de preço do petróleo na OPEC, em colaboração com Putin. E tem jeito para os negócios o rapaz, a sua preciosa ajuda eleva-o ao palco da política internacional, deu-lhe a oportunidade de dizer a Rubio, enquanto o recebia nos seus domínios "Podemos fazer coisas muito positivas pela Arábia Saudita e pela América, por tantos outros países do mundo". A generosidade personificada, é ainda dizem que manda esquartejar jornalistas numa das suas embaixadas... Calúnias!
Na próxima sexta-feira Salman vai receber os líders do mundo árabe para discutirem alternativas à "proposta" de Trump para Gaza: Jordânia, Egipto, Quatar, Emiratos. Veremos se MBS mantém a sua posição de recusa ou se tentará contornar "dificuldades" contornaveis com uma promessa de investimento e cooperação económica, de Defesa e tecnológica
Que salganhada, sou só eu que sinto um cheiro esquisito?
E do lado de cá? (parece conversa do tempo da Guerra Fria, quando o Muro era visível)
Do lado de cá, depois da reunião convocada por Macron, Trump achou por bem falar com ele durante cerca de 20 minutos; depois de Zelensky ter cancelado a sua projectada ida à Arábia Saudita, esta quarta-feira, Trump enviou um dos "seus" generais à sede da União Europeia para falar com von der Leyen; Por último Macron marcou uma nova reunião alargada a novos participantes: Portugal, Noruega, Lituânia, Estónia, Letónia, República Checa, Grécia, Finlândia, Roménia, Suécia, Bélgica e Canadá que, não sendo europeu, é uma importante presença na NATO.A Turquia não fará parte desta volta mas Erdogan recebeu Zelensky em Ankara e disse rejeitar a pretensão russa de manter os territórios ucranianos conquistados - por coincidência no mesmo dia (17/02) em que a Rússia assinou um acordo com a Síria para aí manter bases militares... Erdogan já tem calafrios que bastem na fronteira, de mais de 800km, com a Síria. A presença na NATO é, apesar de ter mantido relações com a Rússia durante a guerra , uma cautela a manter
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