Estou a ouvir o secretário da defesa americano a fazer de conta que responde aos jornalistas depois de papaguear um discurso na reunião dos Ministros da Defesa da NATO em Bruxelas. Uma representação fundamentalmente para consumo doméstico que edifica um monumento a Trump enquanto aproveita para meter os pindéricos dos europeus na ordem (quem terá escrito aquilo?)
Nada do que diz são respostas, é um emaranhado de elogios a Trump e de defesas do indefensável. Lições e sentenças proferidas em nome de quem manda nisto tudo. "Trump é o único capaz de obter a paz". O resto resume-se como: "Isso não me diz respeito, eu só tenho por missão proporcionar ao presidente (ao país, não?) o melhor exército do mundo; Trump e Putin é que vão conversar "intimamente" ( a expressão não é minha). A Europa não tem cabimento nestas conversações e a Ucrânia tomará conhecimento quando for preciso
Claro, Trump é que sabe, é "o único que sabe como negociar com Putin", e Putin esfrega as mãos de contente, os europeus só criam dificuldades, para Zelensky não tem tempo nem pachorra
Falas bem decoradas, dificilmente convincentes, enfaticamente arrogantes porque "vocês todos juntos não chegam aos calcanhares da América". A postura de braços afastados do corpo para parecer maior ao lado do secretário-geral da NATO (porque um membro do governo americano é quase sempre maior do que os outros - digo quase sempre porque há quem não precise sentir-se maior). Lembra-me o Discurso de Marco António junto ao corpo de César mas interpretado por Marlon Brando. Não cola. Uma imposturice. Não há bom discurso que resista a um mau actor, muito menos um discurso publicitário"Make NATO Great Again!"
A sério? A mesma NATO que, "por ser uma ameaça para Rússia a obrigou a invadir a Ucrânia para se defender" ?
Já finda a reunião, há talvez 1h (19h em Washington) um jornalista perguntou a Trump sobre o que a Rússia deveria abdicar no âmbito das negociações de paz. Trump respondeu que a guerra não teria acontecido se ele fosse presidente. Claríssimo.
Que ninguém tome a minha palavra por certa, tenho uma visão preconceituada de tudo o que vem de Trump. Passo a palavra a Bolton, um republicano dos antigos, um que não é russófilo, que trabalhou com Trump, que foi conselheiro de Segurança. Não engulo Bolton por bom mas não é parvo, nem ignorante, nem inconsciente. Tem perfeita noção das consequências dos passos dados por maus caminhos na política internacional; Em 2020, quando Trump resolveu assinar um acordo com os talibã e entregar-lhes o Afeganistão (culpando Biden mais tarde) Bolton assinou a sua sentença de ostracização ao afirmar: "O senhor. Trump poderia manter a sua promessa de campanha de reduzir forças (no Afeganistão) sem se deitar com assassinos envoltos em sangue americano.»
Deixo abaixo a análise que Bolton deixou ontem sobre a forma, e o conteúdo, da abordagem de Trump relativamente à Ucrânia, ao acordo de paz que pretende, à festa que tem sido para Putin. Nada mais tenho a dizer
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