Depois da II Guerra Mundial o Japão estava desfeito.
O Japão integra o grupo G8 - os sete países mais industrializados e desenvolvidos economicamente do mundo, mais a Rússia - tendo feito parte da sua constituição original em 1975
Ou seja, durante os meros 30 anos que decorreram entre o final da Guerra em 45 e a constituição do futuro G8 em 75 o Japão transformou-se numa super-potência industrial e económica.
Como foi isto possível? Como se tornou aquele estreito arco e as suas ilhas que correspondem pouco mais ou menos a duas vezes os Estado de S. Paulo no Brasil, no país que "dá cartas e pede meças" que é actualmente o Japão?
Trabalharam que nem uns loucos. Os japoneses são "workoolics".
A mim até me assusta, eu que penso que o trabalho deve servir a vida e não o inverso.
Mas eu não sou japonesa nem por lá passaram os meus ancestrais, poderia jurar...
A questão é a seguinte: quando há fogo é preciso correr e depressa, há que encher baldes, agarrar em mangueiras e apaga-lo antes que nos devore, a nós e ao que nos rodeia, futuro incluído.
Em mais de 30 anos, mais do que os mediaram entre o fim da II Guerra e a acção do Japão como super-potência, aqui pelo nosso rectângulo temos andado de incêndio em incêndio com uma grande calma, com um lusitano espírito de "logo se vê, isso resolve-se".
Por mim já me confessei, longe de ter os olhos em bico sou muito lusitana em muita coisa...
Porém...
Isto da quinta-feira santa última, véspera de feriado como todas, ter tido uma tolerância de ponto fez-me confusão; andamos de mão estendida a ver se arranjamos safa para o buraco económico em que estamos metidos mas lá passar sem uma tolerância de ponto antes de quatro dias "prá sossega"... isso é que era bom... No Estado prescinde-se de uma tarde de trabalho que, como qualquer bom português sabe, se traduz numa manhã de conversa e cafezinho mais duas folhas A4 em cima da secretária e vamos embora que já se faz tarde.
Seguiu-se o 1º de Maio...
E aqui del-rei (passo a expressão) que o pessoal do Pindo Doce vai trabalhar no 1º de Maio
O pessoal do Continente também mas com a Sonae, vá-se lá saber porquê, houve menos barulho.
Os sindicatos insurgiram-se porque "os trabalhadores do Pingo Doce não podiam gozar o Dia do Trabalhador". Estiveram carros de som à porta de vários destes super-mercados (estiveram sim, um vi eu) com um blá-blá-blá como se lá dentro os trabalhadores estivessem forçados e impedidos de sair.
E lá dentro? Bem, não sei o que se passou em todos os "Pingo Doce" mas sei o que se passou dentro de um deles. Já bem para o fim da tarde, a rondar já a hora de fecho o super-mercado estava cheio, filas enormes nas caixas e, curiosamente, os funcionários estavam bem dispostos e a trabalhar normalmente, sem "trombas" nem cara de quem estava ali porque não queria "sofrer represálias" laborais.
Alguma coisa não bate certo, não me venham com histórias de bons escuteiros que querem ajudar a velhinha a atravessar mesmo que a velhinha queira permanecer no passeio onde se encontra.
«Num comunicado da empresa para ser distribuído aos clientes, a que a Lusa teve acesso através do Sindicato do Comércio, Escritórios e Serviços de Portugal (CESP), o Pingo Doce refere que “trabalhar no dia 01 de Maio de 2011 representará, para todos os colaboradores que entendam apresentar-se ao serviço, uma remuneração de mais de 200 por cento, que acrescem à remuneração de um dia normal de trabalho e a concessão extraordinária de um dia de folga”.
Garantindo que os colaboradores que decidam exercer livremente o seu direito à greve não terão "nenhuma outra penalização", o Pingo Doce considera que, "no Portugal de hoje, o direito à greve não se deve sobrepor ao direito ao trabalho".»
In "Negócios On Line", 30 Abril 2011
Se o feriado fosse outro, que não o 1º de Maio, tenho sérias dúvidas de que os dirigentes sindicais sentissem tanta urgência em defender tão espalhafatosamente os direitos dos trabalhadores ao merecido descanso; a questão é política, claro.
Os trabalhadores são uma bandeira mas se estiverem interessados em triplicar o valor de um dos seus dias de trabalho (1 dia de salário normal + 200%) e a isso juntarem mais um dia de folga, o raio-que-os-parta;
Se resolveram ir trabalhar é porque das duas uma:ou se deixam "oprimir" ou são "traidores da classe".
Mais do que política este charivári é hipócrita: é a resposta exacerbada da defesa do "sacro-santo" reduto de uma posição revolucionária, que, por acaso, até nasceu de uma rebelião de mulheres americanas, o país da opressão capitalista.
A verdade é que a "Jerónimo Martins", tutelar do "Pingo Doce" apresentou em Fevereiro último, em plena "crise" resultados de crescimento em 2010 de 40,3% face ao ano de 2009.
40% é obra em qualquer altura, tanto mais nesta altura do campeonato.
18 de Fevereiro de 2011 — Comunicado de Imprensa - resultados 2010
Para Jerónimo Martins, 2010 foi um ano de resultados sólidos e de clara superação, com as vendas a aumentarem 18,8%, o EBITDA consolidado a crescer acima das vendas (23,6%) e o resultado líquido a atingir um novo máximo, cifrando‐se nos 281,0 milhões de euros, o que equivale a um crescimento de 40,3% face a 2009.
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Mantendo uma política de preços competitivos e estáveis, o Pingo Doce continuou a investir nos vectores de diferenciação ‐ perecíveis, marca própria e take away ‐ e reforçou o investimento publicitário para níveis em linha com a média do sector, alcançando, em 2010, a liderança em recordação total declarada.
O trabalho realizado ao nível da proposta comercial e da sua notoriedade consolidou a liderança do Pingo Doce, com impacto no crescimento LFL das vendas, que atingiu, no ano, 8,4% nos supermercados e 7,2% na rede total das lojas e registou vendas no valor de 2,749,3 milhões de euros.
Se os senhores sindicalistas se
enxofrarem com estes resultados talvez seja melhor lembrarem-se no irreal número de empresas que fecharam portas durante 2010, dos despedimentos que ocorreram e continuam a ocorrer e da distribuição de parcelas de lucro pelos seus trabalhadores que a Jerónimo Martins fez no final do ano.
Não pretendo minimamente tomar partido pela "Jerónimo Martins" e muito menos pela "Sonae" (com o Tio Belmiro não vou à bola nem para ver o meu Sporting ganhar), para o melhor e para o pior não possuo cota em nenhum dos grupos, mas este espírito revolucionário meio histérico é ridículo e não vem a propósito num país que precisa de trabalhar(-se), produzir(-se) e dinamizar(-se) para que o pão chegue às inúmeras e crescentes bocas onde já falta.
Tudo bem, no dia 6, uma sexta-feira como convém, já nos podemos consolar com uma "forma de luta": A greve nacional convocada Federação Nacional dos Sindicatos da Função Pública.
Não, não contesto o Direito à Greve, contesto sim uma greve estéril a um preço que não podemos pagar.
Ok malta, vocês lá sabem o que resolvem com isso.Lutem lá pelo que quiserem que o sector privado cá estará a trabalhar para sustentar as leviandades deste país.
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