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O DIRECTO E O ESQUIVO

Jake Tapper, é um dos meus jornalistas preferidos, quer dentro da CNN, onde está desde 2012 e  onde já conquistou vários prémios Emmy, quer mesmo fora dela porque é extremamente incisivo nas suas perguntas relevantes, sem perder a calma, sem amachucar os punhos de renda. 

A entrevista de que deixo uma transcrição parcial, mas do essencial, não a trago pelas novidades mas como uma exemplar demonstração de "Como fugir com o rabo à seringa"; por mais directas que sejam as perguntas de Tapper, o enviado especial de Trump à Rússia, Steve Witkoff, velho amigo pessoal de Trump, conseguiu sempre ser inconclusivo, debitar o que o patrão gosta de ouvir e deixar as perguntas  sem resposta. Lembrou-me o Dr. Álvaro Cunhal, perguntassem-lhe fosse o que fosse respondia sempre o que lhe apetecia. Será uma escola?

Jake Tapper - "State of the Union" - CNN:   Acho que toda a gente que consegue perceber a necessidade de diplomacia, e especialmente o Presidente Trump querendo reiniciar a relação com a Rússia mas o que  diz aos milhões de americanos, e pessoas em todo o mundo, que estão preocupados por os Estados Unidos, neste momento, não parecerem compreender quem na verdade lançou esta guerra contra a Ucrânia e estão de facto a tentar comprometer-se até à vitória  dos maus da fita, Putin e os russos, enquanto tramam os bons da fita, Zelensky e a Ucrânia. Acho que isso é um medo que muitos americanos têm.

Enviado especial dos EUA Steve Witkoff:   Bem, veja, já ouvi esse tipo de conversa. Não concordo necessariamente com isso mas deixe-me dizer isto, vou fazer alguns comentários: o primeiro é que a guerra, independentemente de quem a começou, precisa de acabar porque a vida de demasiadas pessoas foi apagada em resultado dela e isso simplesmente não faz sentido para o Presidente. Ele quer ser  o presidente que faz a paz, a paz através da força. E eu não o censuro, na verdade, concordo com ele, com a sua linha de pensamento, processo de pensamento em torno disto.
Isso é um, dois, esta a guerra não precisava de ter acontecido, foi provocada, não significa necessariamente que foi provocada pelos russos. Houve todo o tipo de conversas sobre a adesão da Ucrânia à NATO. O presidente falou sobre isso, isto não precisava de acontecer. Basicamente, tornou-se uma ameaça para os russos. por isso, temos de lidar com esse facto. E esses são factos reais, no terreno, aqui mas seja como for, os russos indicaram que estão receptivos um fim para isto. Houve muito, muito,
daquilo a que chamarei  convincente e substantivamente enquadrado em algo que se chama o Acordo protocolar de Istambul. Estivemos muito, muito perto de assinar alguma coisa, e penso que vamos usar esse enquadramento como um guia para chegar a um acordo de paz entre a Ucrânia e a Rússia. Penso que será um dia espetacular e a verdade é que o Presidente compreende como fazer acordos. Os acordos só funcionam quando são bons para todas as partes e é esse é o caminho que estamos a percorrer aqui.

Jake Tapper: Segundo o que entendemos, e por favor corrija-me se estiver errado, as exigências de Putin incluem,  1º, a rendição completa das forças ucranianas em Kursk, a região russa que a Ucrânia tomou, 2º, o reconhecimento internacional de que o território ucraniano tomado pela Rússia já não pertencerá mais à Ucrânia,  3º, limites à capacidade da Ucrânia para mobilizar as suas forças armadas e 4º, a suspensão da ajuda militar ocidental à Ucrânia e a proibição de forças de manutenção da paz estrangeiras, como soldados franceses ou britânicos, na Ucrânia. Será que isto está correcto? E, se está correcto, parece que Putin quer as terras que tomou e quer que a Ucrânia não tenha capacidade para se defender no futuro. Está Trump preocupado por, ao aceitar estas condições poder estar a preparar o terreno para outra invasão russa na Ucrânia?

Steve Witkoff: Jake, eu não consideraria a sua descrição inteiramente correcta. Olhe, antes desta visita houve outra visita e antes dessa visita ambos os lados estavam a milhas de distância; ambos os lados estão hoje muito mais próximos. Tivemos resultados verdadeiramente positivos vindos da Arábia Saudita, conversações mantidas com o nosso conselheiro de Segurança Nacional Mike Waltz e com o nosso secretário de Estado Marco Rubio. Eu descrevo a minha conversação com o presidente Putin como equitativamente positiva, ambos os lados estreitaram as diferenças entre si e agora sentamo-nos à mesa, estive com o presidente (Trump) todo o dia de ontem, estarei com ele hoje para conversarmos sobre como estreitar ainda mais as nossa diferenças. É como eu descreveria.

Jake Tapper: Pode dizer-nos qual é a situação actual relativamente aos quatro pontos que referi, pode ser que estejam ultrapassados por uma ou duas reuniões; onde se encontra a Rússia neste momento?

Steve Witkoff: Bem, as quatro regiões são de importância crítica nisto e estamos em conversações com a Ucrânia, estamos em conversações com os países europeus intervenientes, o que inclui a França,  Grã-Bretanha,  Noruega, Finlândia, todos os "acolhedores" e estamos em conversações também com os russos sobre essas regiões. Estamos também em conversações sobre todo o tipo de outros elementos que estão incluídos num cessar-fogo 

Jake Tapper: Claro mas só para lembrar os nossos telespectadores,
a Rússia apreendeu território ucraniano em 2014 com a Crimeia, têm estado a penetrar a região do Donbas e a apoderam-se de terras no leste da Ucrânia há muito tempo, antes de há três anos terem feito o ataque integral; sugeriu que a Rússia foi provocada... Trump está a atacar publicamente
Zelensky chamando-lhe ditador, culpou-o por ter iniciado a guerra em primeiro lugar, apelou a novas eleições na Ucrânia, aceitou que a adesão da Ucrânia  à NATO fosse posta fora de hipótese. Ele disse que é improvável Ucrânia consiga reaver o seu território tomado pela Rússia.
A televisão estatal russa sugere que o Presidente Trump está a obter todo este discurso directamente 
das suas conversas com o Presidente Putin; Ora oiça:

(Imagens da TV Estatal Russa transmitidas na passada quarta-feira, dia 12Mar.)
Vladimir Solodiov, convidado da TV russa: «Trump aprecia ser confiável quando está a responder a perguntas sobre a conferência de imprensa. Penso que não é coincidência que muitas das narrativas
que estão a ser largamente difundidas se materializaram após as suas conversas. As frases que ele está a dizer são tão profundas e tão corretas. Estão em total alinhamento com a forma como nós vemos as coisas.»
Jake Tapper : Acha que é bom que os russos pensem que a administração Trump está em total alinhamento com a forma como Putin vê  as coisas?

Steve Witkoff:  Jake, acho que já tivemos, pela minha estimativa, quase um milhão e meio de mortes na totalidade e, finalmente, temos um líder que é o Presidente Trump, que está determinado a acabar com a carnificina. A única maneira de acabar com a carnificina é tendo uma relação com os líderes de ambos os países envolvidos. Eu fui à Rússia, tive uma reunião com com o Presidente Putin. Foi uma reunião longa, positiva, construtiva, muitas coisas boas foram discutidas, em grande parte porque o Presidente (Trump) valorizou uma relação positiva com o Presidente Putin desde o seu primeiro mandato. Isso  evoluiu para uma conversa positiva com o presidente apenas numa só chamada telefónica a partir da Casa Branca. E depois houve uma conversa positiva com o Presidente Zelensky.  (😁😅😂) Portanto, acho que que é preciso ter essas relações, é preciso haver comunicação. Essa é a única forma de concretizar negócios.

.../...

Jake Tapper : Como acabou de dizer, o presidente Trump tem estado a exercer uma grande pressão sobre o Presidente Zelensky e apresentou as concessões que a Ucrânia terá de fazer para acabar a guerra. Que concessões terá a Rússia de fazer?

Steve Witkoff: Bem, acho que em qualquer acordo de paz cada lado vai fazer concessões, quer se trate de concessões territoriais quer se trate de concessões económicas. Penso que há toda uma série de coisas que acontecem num acordo e verá concessões de ambos os lados. E isto é do Presidente, é o que ele faz melhor. ele junta as pessoas, fá-las compreender isso, o caminho para a paz são as concessões e a  construção de consensos, e eu acho que verá um resultado muito bem sucedido.

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Não quero tirar conclusões precipitadas mas daqui de onde estou a olhar não consigo ver outro pedido, com jeitinho, de Trump a Putin que não seja "Faz-Me o favor de aprovar um acordo de paz qualquer que da assinatura do outro trato eu"



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