Num discurso ao parlamento polaco centrado na situação de segurança internacional e na profunda preocupação com a guerra na Ucrânia, o primeiro-ministro Donald Tusk informou estar em curso a preparação de um modelo de treino e formação militar para todos os homens da Polónia; baseado no modelo suíço, não será obrigatório mas suportado por incentivos fortemente apelativos, sublinhou que não se trata de um regresso ao serviço militar obrigatório, que terminou na Polónia em 2008.
«Até ao final do ano, queremos ter um modelo pronto para que todos os homens adultos da Polónia sejam treinados para a guerra e para que esta reserva seja adequada a possíveis ameaças. Todos os homens saudáveis deverão querer treinar-se para poderem defender a pátria em caso de necessidade. Vamos prepará-lo de forma a que não seja um fardo para as pessoas, as mulheres também poderão ser voluntárias se o desejarem.
Os polacos não vão adoptar a filosofia de que somos completamente impotentes e indefesos por o Presidente Trump ter decidido ajustar a sua política. A Polónia não altera a sua opinião sobre a necessidade, a necessidade absolutamente fundamental de manter os laços, mais estreitos possíveis, com os Estados Unidos e com a Organização do Tratado do Atlântico Norte. Estamos a assistir a uma profunda correcção da política dos EUA em relação à Ucrânia mas não podemos virar-lhe as costas só porque não gostamos dela. Temos de ser precisos e honestos na avaliação do seu significado, do que serve e do que não serve os nossos interesses. Isto é, de um modo geral, indiscutível, a Polónia não desiste da NATO.
O nosso défice tem sido a falta de vontade de agir, falta de confiança e, por vezes, até a cobardia. Mas a Rússia será indefesa contra a Europa unida. É impressionante, mas é verdade. Neste momento, 500 milhões de europeus imploram a 300 milhões de americanos que os protejam de 140 milhões de russos que, durante três anos, não conseguiram vencer 50 milhões de ucranianos » D.Tusk, 7Mar25
O exército polaco tem actualmente cerca de 200 000 efectivos, o que o torna o terceiro maior da NATO, depois dos EUA e da Turquia, e o maior entre os membros da UE. Tusk referiu que a Ucrânia tem um exército de cerca de 800 000 homens, enquanto a Rússia tem 1,3 milhões de homens armados. Tusk pretende que o exército polaco atinja os 500 000 militarmente capazes de intervir em caso de necessidade.
Significativo é o facto de Jaroslaw Kaczyński, líder do partido da oposição, o conservador Lei e Justiça, concordar com Tusk e dizer :
«Para além do treino militar dos homens, será necessária uma mudança mental na sociedade. Teremos de regressar ao ethos cavalheiresco e ao facto de os homens também deverem ser soldados, ou seja, serem capazes de se exporem, mesmo à morte»
Não posso deixar de notar que, nestas coisas do "cavalheirismo", os líders conservadores tendem a confundir cavalheirismo com superioridade de aptidão... As forças armadas polacas contam com mais de 10 000 mulheres em serviço activo: em 2023 a 5ª divisão da Força de Defesa Territorial, o ramo que englobava menos mulheres, contava mais de 3.500 mulheres, depois das Forças Terrestres, da Força Aérea, da Marinha e das Forças Especiais. Kaczyński que se entenda com as polacas, está bem entregue.
A Polónia está localizada no flanco oriental da NATO e já é o país que mais gasta, percentualmente, em defesa (4,7%). Tusk disse ao parlamento que a despesa deveria aumentar para 5% do PIB - o valor defendido por Trump. Esta sexta-feira o presidente polaco, Andrzej Duda disse que quer aproveitar o consenso que existe atualmente na cena política e irá submeter à apreciação parlamentar uma alteração à Constituição que obrigaria o país a gastar anualmente pelo menos 4% do seu PIB na defesa.
Paralelamente Tusk referiu que a Polónia não se pode limitar às armas convencionais e "está a falar seriamente" com a França sobre a possibilidade de ser protegida pelo "guarda-chuva" nuclear francês, após Macron ter aberto a possibilidade de outros países discutirem a forma como a dissuasão nuclear francesa pode proteger a Europa, rematando com o exemplo da Ucrânia, que abdicou do seu arsenal nuclear e está agora a ser atacada pela Rússia..«Temos de estar conscientes de que a Polónia tem de procurar as capacidades mais modernas também no que se refere às armas nucleares e às armas não convencionais modernas. Esta é uma corrida pela segurança, não pela guerra» D.Tusk, 7Mar25
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