Foi em meados de Janeiro e esta passou-me ao lado
Recebi um e-mail, em boa hora me foi enviado, que me trouxe uma notícia importante para aqueles que não desejam ver a Língua Portuguesa travestida de montruosidade:
a Sociedade Portuguesa de Autores rejeitou pública e oficialmente essa coisa do suposto "Acordo Ortografico". Refere no seu comunicado que não o utilizará «nos seus documentos e na comunicação escrita com o exterior»; tenho esperança que, na sequência desta atitude, haja também a necessaria pressão sobre os editores para que as publicações de livros de autores portugueses seja feita em português e não nessa língua aberrante que nos têm vindo a impor.
Uma boa decisão, espero que com resultados práticos além dos domínios exclusivos da S.P.A.
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Também o Pen Club Internacional , em Setembro de 2012, tendo reunidas
delegações de 87 Centros de todo o mundo por ocasião do seu 78º Congresso condenou, por unanimidade, a
ameaça à língua portuguesa representada pelo
Acordo Ortográfico de 1990 (AO/90).
.A incredulidade
manifestada pela maioria dos escritores presentes, que se interrogavam como se
teria chegado a tal situação.
O documento e sua justificação encontra-se aqui publicado mais abaixo e no link Pen Club Portugues
SPA não adopta o novo acordo ortográfico perante
as posições do Brasil e de Angola sobre a matéria
«A SPA continuará a utilizar a norma ortográfica
antiga nos seus documentos e na comunicação escrita com o exterior, uma
vez que o Conselho de Administração considera que este assunto não foi
convenientemente resolvido e se encontra longe de estar esclarecido,
sobretudo depois de o Brasil ter adiado para 2016 uma decisão final
sobre o Acordo Ortográfico e de Angola ter assumido publicamente uma
posição contra a entrada em vigor do Acordo.
Assim, considera a SPA que não faz sentido dar como consensualizada a
nova norma ortográfica quando o maior país do espaço lusófono (Brasil) e
também Angola tomaram posições em diferente sentido. Perante esta
evidência, a SPA continuará a utilizar a norma ortográfica anterior ao
texto do Acordo, reafirmando a sua reprovação pela forma como este
assunto de indiscutível importância cultural e política foi tratado pelo
Estado Português, designadamente no período em que o Dr. Luís Amado foi
ministro dos Negócios Estrangeiros e que se caracterizou por uma
ausência total de contactos com as entidades que deveriam ter sido
previamente ouvidas sobre esta matéria, sendo a SPA uma delas. Refira-se
que também a Assembleia da República foi subalternizada no processo de
debate deste assunto.
O facto de não terem sido levadas em consideração opiniões e
contributos que poderiam ter aberto caminho para outro tipo de consenso,
prejudicou seriamente todo este processo e deixa Portugal numa posição
particularmente embaraçosa, sobretudo se confrontado com as recentes
posições do Brasil e de Angola.»
Lisboa, 9 de Janeiro de 2013
S.P.A.
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PEN
Internacional – Comité de Tradução e Direitos Linguísticos
Declaração sobre
a proposta de estandardização internacional da língua portuguesa
O Comité de
Tradução e Direitos Linguísticos (CTDL) do PEN Internacional foi solicitado a
comentar o Acordo entre os Estados de língua portuguesa empenhados num programa
de estandardização ortográfica (Acordo Ortográfico de 1990/AO 1990). Esse
pedido para examinar as alterações propostas foi iniciado pelo Centro português
do PEN, cujos membros se opõem maioritariamente à estandardização internacional
proposta. O encontro do CTDL em Barcelona (4-6 de Junho de 2012) expressou uma
grande simpatia pela posição do PEN português e pediu que o Acordo
internacional fosse examinado. Deve ser dito que muitos outros escritores,
figuras públicas e linguistas questionam igualmente se as tentativas de
aproximação de um Português estandardizado e universal serão uma boa ideia.
A história de
tais tentativas no mundo lusófono apenas demonstrou quão difícil é tal questão.
Em anexo com tentativas anteriores é adicionado no final do texto. Mais do que
uma vez essas tentativas fracassaram.
Em comparação
com a história recente de outras línguas internacionais, pode ver-se também que
a ideia de estandardização além-fronteiras tem sido rejeitada mais vezes do que
aceite.
Aparentemente,
as duas forças condutoras por detrás do plano de estandardização do Português
são de natureza administrativa e comercial. Se assim é, trata-se de fracos
pontos de partida que podem prejudicar seriamente a língua portuguesa. Uma
língua não é, primariamente, um instrumento administrativo ou comercial. Estes
aspectos equivalem a actividades superficiais e utilitárias que requerem o que
poderia chamar-se dialectos simplificados, tangenciais à língua viva. Uma
língua viva favorece a criatividade, a imaginação, a iniciativa científica; ela
adapta-se ao mundo real no qual vivem pessoas com as suas múltiplas diferenças
e particularidades.
Tentar centrar
uma língua em prioridades administrativas e/ou comerciais é enfraquecê-la ao
atacar a sua complexidade e criatividade inata a fim de promover métodos
burocráticos de natureza pública e privada.
No que diz
respeito aos precedentes históricos, não é claro que essa iniciativa seja o
resultado de uma reflexão clara sobre experiências ocorridas noutros lugares.
Por exemplo, é amplamente aceite o facto de a tentativa centralizante, ao longo
de vários séculos, para criar e manter um Francês universal, como foi levada a
cabo em Paris, teve o efeito de alienar, a longo prazo, as populações em
relação a essa língua sempre que era oferecida uma alternativa através de
outras línguas mais abertas à criatividade local. Um resultado negativo prático
foi um efeito de refrear a criação natural de vocabulário, seguido de uma
retracção do vocabulário. A força motriz da língua francesa hoje em dia, com
origem em todas as suas bases pelo mundo fora, é de tender para uma inclusão
das diferenças na língua. O resultado é a possibilidade crescente de uma
atmosfera nova e muito positiva em torno do Francês, por exemplo em África.
No que toca ao
Inglês, houve tentativas equivalentes para uma aproximação universal no tempo
do Império Britânico. Contudo, a força das regiões anglófonas (situação similar
à do Português) levou a que tais regras tivessem sido quebradas tanto
internacional como naturalmente. A força do Inglês actual é amplamente
atribuída à sua abertura face às diferenças – a diferentes gramáticas,
ortografias, palavras e, na realidade, significados. Uma das características
mais positivas de qualquer língua internacional é o facto de palavras,
ortografias, gramática, frases e sotaques assumem significados assaz diferentes
como resultado de experiências locais ou regionais. Estas diferenças fazem
frequentemente o seu caminho para além das fronteiras e são absorvidas por
outras regiões anglófonas. É a natureza competitiva, independente e divergente
das regiões inglesas que se tornou na marca distintiva da sua força – a sua
criatividade quer na ciência, na literatura, no negócio ou, de facto, nas
ideias. Existem tentativas constantes de ‘normalizar’ ou ‘centralizar’, tais
como a norma estilística de Chicago. Contudo, tais tentativas, mais do que qualquer
outra coisa, vão ao encontro das forças reais das línguas.
Exactamente o
mesmo argumento poderia ser apontado para explicar a força crescente do
espanhol como língua internacional. São precisamente as diferenças locais,
nacionais e hemisféricas dentro da língua espanhola que lhe conferem uma força
crescente. As diferenças nutrem-se mutuamente. A criação do Dicionário da Real
Academia Espanhola, em cooperação com as Academias de língua espanhola em todo
o mundo, tinha como objectivo incluir todas essas diferenças. Neste sentido, a
tendência para uma celebração das diferenças dentro da língua espanhola foram
paralelas à mesma abordagem, adoptada pelos maiores dicionários da língua
inglesa.
Tanto quanto
podemos ver, não há nada na iniciativa portuguesa que faça mais do que limitar
a força natural da língua, tentando limitar a sua criatividade através de um colete-de-forças
de regras burocráticas. Por exemplo, ao propor essa estandardização como
requisito para os manuais escolares, as autoridades estarão efectivamente a
limitar a criatividade de escritores em muitas partes do mundo lusófono. Tão
pouco existe qualquer indicação de que tal estandardização conduza a um aumento
no comércio dos livros entre as várias partes do mundo lusófono.
Finalmente,
deveria ser sublinhado o facto de terem sido feitas numerosas excepções à
proposta de estandardização, criando assim um conjunto de contradições
linguísticas burocráticas que interferem com a configuração das diferenças que
é real, original e criativa.
Estamos desapontados
pelo facto de as autoridades que, qualquer que seja o seu poder, não possuem
real competência em relação ao modo como as línguas vivem e crescem, tentarem
limitar a força do Português ao imporem regras artificiais destinadas a minar a
força de todas as línguas – ou seja, a sua capacidade de se reinventarem
constantemente. Para isto, uma simples aceitação de uma diversidade de
abordagens, habitualmente emergindo de diferentes regiões, é essencial.
Duvidamos muitíssimo que essa proposta de estandardização produza outros
efeitos para além de burocratizar os textos usados nas escolas, separando assim
os alunos da real criatividade da língua portuguesa, nos planos regional e
internacional.
Notas para os
editores:
O PEN
Internacional celebra a literatura e promove a liberdade de expressão. Fundado
em 1921, a nossa comunidade global de escritores compreende hoje 144 Centros em
mais de 100 países. Os nossos programas, campanhas, iniciativas e publicações
ligam entre si escritores e leitores em prol de uma solidariedade e cooperação
globais. O PEN Internacional é uma organização não-política e detém um estatuto
consultivo nas Nações Unidas e na Unesco.
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